A globalização no 3.º encontro Vision Europe

Quatro fundações, quatro think tanks europeus, académicos, responsáveis políticos e diplomáticos, um Nobel da Economia, um prémio Sakharov e Calouste Gulbenkian para os Direitos Humanos e outros convidados para debater o tema.
06 dez 2017

Quem ganha e quem perde com a globalização? Este foi o tema central do 3.º encontro Vision Europe que reuniu em Itália quatro fundações, entre as quais a Fundação Gulbenkian, e quatro think tanks europeus, mas também vários académicos, responsáveis políticos e diplomáticos, um Nobel da Economia, um prémio Sakharov e Calouste Gulbenkian para os Direitos Humanos e muitos outros convidados para debater o tema.

O futuro é muito mais do que uma interrogação nas palavras de Marion Jansen, do Centro Internacional de Comércio – ITC, em Genebra. A economista-chefe do ITC lembrou em Turim, no segundo dia do encontro, que, face a tantas incertezas quanto ao futuro, os europeus se interrogam sobre “quem os vai proteger”. Uma proteção para enfrentar o medo que se instalou quanto a esta era de globalização onde o terrorismo, a falta de pensões e de apoios sociais e a perda do emprego imperam. Marion Jansen não tem dúvidas de que a Europa precisa de inclusão e de estratégia (comunicação e educação), para voltar a ter cidadãos que se sintam a fazer parte de alguma coisa.

Nos dois dias do encontro organizado este ano pela Compagnia di San Paolo e que se segue ao encontro de Lisboa, realizado no ano passado pela Fundação Gulbenkian, foram apresentados alguns papers sobre a globalização, entre os quais um estudo realizado pela Fundação Bertelsmann, da Alemanha. Ao estudar o aumento do rendimento per capita em mais de 40 países, entre 1990 e 2014, nomeadamente os efeitos da globalização económica e política, o relatório Bertelsmann conclui que no topo está a China com um aumento registado de 400 por cento e, em segundo lugar, a Coreia do Sul (250 por cento). Em 25.º lugar vem a Itália com um aumento apenas de 100 por cento, enquanto a Grécia, a Polónia e Portugal se perfilam ainda mais abaixo. Números diretamente relacionados com as deslocalizações e a consequente perda de emprego e a queda dos salários europeus.

A existência de um fosso entre ganhadores e perdedores da globalização foi também o mote para o Nobel da Economia, Michael Spence, lembrar que ganhar e perder “depende sempre do sítio onde se vive”, e que em nenhum lugar deixa de haver perdedores. Só com a cooperação internacional e com a criação de empregos e soluções inovadoras, as pessoas podem voltar a acreditar no futuro e nas lideranças, defendeu Michael Spence.

 

África e a globalização

Se o relatório Bertelsmann aponta para um aumento do rendimento per capita em quase todos os países do Mundo, há uma margem que fica de fora, como a África subsariana, onde 41 por cento da população tem pouco mais de um euro e meio por dia para subsistir. Um continente incapaz de trilhar o caminho do desenvolvimento, como ficou claro no discurso do convidado especial desta iniciativa, Denis Mukwege, prémio Internacional Calouste Gulbenkian em 2015. O médico congolês que ficou conhecido pelo seu trabalho notável na defesa das mulheres congolesas vítimas de violação, como sublinhou a presidente da Fundação Gulbenkian ao apresentá-lo no belo espaço do Museo del Risorgimento, em Turim. Mukwege lembrou que a República Democrática do Congo, ao fazer parte das rotas da globalização mundial, acentuou ainda mais “a diferença entre a riqueza ostentadora dos líderes e a pobreza geral dos congoleses”. Mukwege aproveitou para sublinhar que sem a universalização dos direitos humanos não pode haver globalização positiva.

No final do segundo dia, foi apresentado um projeto de declaração final a assinar pelos parceiros do Vision Europe, em que são feitas recomendações ao nível nacional e europeu, para influenciar as políticas públicas em matéria de globalização. O Vision Europe Summit é uma iniciativa criada pelas fundações Calouste Gulbenkian; Bertelsmann, da Alemanha; Bruegel, da Bélgica e Compagnia di San Paolo, de Itália. Inclui ainda a parceria com os think tanks CASE – Centre for Social and Economic Research, da Polónia; Chatham House, do Reino Unido; Jacques Delors Institute, de França; e The Finnish Innovation Fund Sitra, da Finlândia.

Vision Europe Summit

 

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