A Europa para além da Crise
As respostas à crise que atualmente se vive na Europa conduziram a uma fratura entre os países periféricos e os do centro, que tem vindo a colocar em causa os princípios de solidariedade entre os Estados membros da União Europeia e a própria consistência política do projeto de integração europeia no seu conjunto.
Por outro lado, mais recentemente, o fluxo de milhares e milhares de refugiados em direção ao continente europeu tem vindo a provocar uma outra forma de divisão entre os Estados membros da União Europeia, neste caso, entre os países do leste e oeste, por meio da expressão de diferentes sinais de solidariedade.
O pano de fundo desta Europa fraturada é representado, como sugere António Vitorino, o comissário da conferência, pelo sentimento difuso de que a Europa é um continente em declínio, com uma população em envelhecimento acelerado, perdendo competitividade no mundo global e com sérios problemas de integração dos imigrantes que procuram oportunidades de vida nos países europeus.
Esta conferência tentará responder a várias perguntas relacionadas com o momento que atravessamos: poderemos estar confrontados com uma fratura identitária perdurável que pode por em causa o sentido profundo da integração europeia? Que vias e que meios podem permitir aos europeus libertarem-se dos constrangimentos que o diferente posicionamento perante a crise suscitou em termos de divisões entre os Estados? Em que medida é que as políticas europeias podem recolocar a União no centro da sua vocação histórica enquanto projeto de entendimento mútuo, de concertação de vontades iguais, de paz e de tolerância, em suma de unidade na diversidade? E até que ponto a União Europeia poderá representar para os cidadãos europeus uma alavanca de crescimento económico, criação de empregos e de coesão nas nossas sociedades?
A Conferência Gulbenkian de 2015 pretende suscitar o debate e adiantar algumas linhas de reflexão sobre estas questões, quer no conjunto da União Europeia quer no específico caso português.
Discutir a Europa
Crítico de uma “Europa dos muros”, que considera incompatíveis com os valores europeus, Enrico Letta vai discorrer, nesta conferência, sobre o tema “Que solidariedade na diversidade?”, no âmbito de um painel que contará ainda com a participação de Luuk van Middelaar, professor nas Universidades de Leiden e Louvain, e do eurodeputado Paulo Rangel, convidados a comentar as ideias apresentadas. Letta tem ido mais longe na sua convicção europeísta, defendendo a criação de um modelo político e económico próximo, assente na ideia de uns “Estados Unidos da Europa”. Recentemente criou uma escola para o ensino da política que tem por objetivo recuperar o que esta atividade tem de mais nobre: paixão pelo bem comum, ética e empenho público, ancorado num espírito de equipa capaz de congregar esforços e vontades.