Colóquio sobre o modernismo Brasileiro
No centenário da Semana de Arte Moderna
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Data
- / Cancelado / Esgotado
Local
Auditório 3 Fundação Calouste GulbenkianDe 11 a 18 de fevereiro de 1922, ano do primeiro centenário da independência do Brasil, teve lugar no Teatro Municipal de São Paulo a chamada Semana de Arte Moderna, durante a qual se realizaram vários eventos- conferências, recitais, exposições, concertos – que mobilizaram ou projetaram grandes personalidades artísticas (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ronald de Carvalho, Di Cavalcanti, Vicente Rego Monteiro, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Brecheret, Villa-Lobos…) e que tiveram repercussão em todo o vasto território brasileiro. A Semana foi o ponto de partida do mais importante movimento cultural que já houve no Brasil, o movimento modernista, que congregou outros grandes nomes como os de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Gilberto Freyre, e que tentou “acertar o relógio” brasileiro civilizacional e artístico, estimulando a reflexão sobre a “brasilidade” e produzindo obras que vêm fecundando até hoje as letras e as artes brasileiras.
Programa
14:30 Abertura
Guilherme d´Oliveira Martins
A receção portuguesa do modernismo brasileiro, e alguns equívocos culturais e literários luso-brasileiros, lusos e brasileiros, no período da militância modernista
Arnaldo Saraiva
A tardia e escassa atenção que em Portugal foi dada ao movimento modernista brasileiro nas décadas de 1920 e 1930 é comparável à tardia e escassa atenção que no Brasil foi dada ao movimento modernista português até à década de 1940. O que não pode deixar de parecer estranho quando se pensa que se tratava de dois dos mais importantes movimentos culturais da história de dois povos unidos ao longo de séculos, mais do que por relações políticas, por matrizes linguísticas, literárias e civilizacionais. Mas aos típicos complexos mal resolvidos de ex-colonizador e ex-colonizado associaram-se, para agravar a ignorância mútua que o oceano sempre favorecia, alguns equívocos teóricos e algumas práticas que enfraqueceram ou contrariaram a causa do progresso e da modernidade nacional, não só cultural e literária, que ambos os movimentos diziam servir.
Memórias da Semana de 22
António Carlos Secchin
A comunicação aborda as diferentes versões memorialísticas de artistas e escritores que participaram diretamente da Semana de Arte Moderna de 1922 ou que, de algum modo, estão a ela associados, para louvá-la, ou para contestá-la.
Serão analisados depoimentos, vários deles esquecidos, de nomes como Di Cavalcânti, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Oswald de Andrade, entre outros.
Heitor Villa-Lobos e a Semana de Arte Moderna. Uma reinterpretação
Gilda Oswaldo Cruz
Único compositor brasileiro convidado para fazer ouvir as suas obras durante a Semana de Arte Moderna, Heitor Villa-Lobos foi confrontado em Paris, em 1923, com as exigências de um grupo de intelectuais franceses que o recriminaram por não ser suficientemente brasileiro. Vaiado pelo público, em 1922 no Teatro Municipal, que não aceitou as dissonâncias de sua música, é a partir daí, ao longo de duas permanências em Paris, que se converte em compositor de inspiração nacionalista. Contudo, o que trouxera a São Paulo em 1922 eram já obras plenamente maduras e originais, hoje consideradas como exemplos acabados do Primeiro Modernismo brasileiro. Resultavam da sua ampla formação autodidata no estudo de partituras de Bach a Wagner, através dos seus discípulos franceses, e das últimas inovações de Debussy e Ravel. A sua identificação como ícone de uma suposta “brasilidade” prejudicou até certo ponto a avaliação da sua obra inovadora e universal, a mais significativa produzida nas Américas durante o século xx.
16:30 Exposição Bibliográfica – inauguração
Hall da Zona de Congressos
17:15 Apresentação
Arnaldo Saraiva
Engolir ou falar pelas tripas: os sapos
Francisco Topa
Publicado em 1919 no volume Carnaval, o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, seria transformado, três anos depois, numa performance que o elevaria, nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda, ao estatuto de hino nacional dos modernistas. O objetivo da comunicação será refletir sobre o poema como parte do livro em que veio a público, mas também como libelo antiparnasiano, manifesto do modernismo e fábula que trabalha com um elemento mítico amplamente presente na cultura brasileira.
Com tinta de fantasma escreve-se Drummond: o nome próprio na poesia de Carlos Drummond de Andrade
Clara Rowland
“Se eu me chamasse Raimundo!... / Não, não era solução. / Para dizer a verdade / O nome que invejo a fundo / É Carlos Drummond de Andrade” escrevia Manuel Bandeira em Mafuá do malungo. Nesta comunicação procurarei rastrear alguns gestos de assinatura e de inscrição do nome próprio na poesia de Drummond desde o inaugural “Poema de Sete Faces”, articulando-os com duas dimensões centrais para a poética do autor mineiro – o resíduo e a catacrese – e com a poética do nome próprio na poesia de Manuel Bandeira.
João Cabral de Melo Neto e o modernismo
Solange Fiuza
João Cabral sempre reconheceu o seu débito para com o Modernismo, e elegeu Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes como suas principais referências formadoras iniciais em âmbito nacional. Menos conhecida, pois não explicitada poeticamente, é a admiração do poeta pernambucano por Mário de Andrade, o máximo teórico do Modernismo, e tomado em cartas a Alberto de Serpa como “um poeta meu”, “nosso mestre”. Quando, entretanto, se afirmou como poeta de exceção, Cabral estabeleceu uma relação controversa com esses poetas, simultaneamente de reverência e distanciamento irónico. Proponho examinar a relação de Cabral com os modernistas, mormente com Bandeira, Drummond e Mário de Andrade, e o modo como essa relação enformou, pontualmente, a visão do poeta sobre a tradição portuguesa.
18:30 Recital de Poesia Modernista Brasileira
Natália Luiza e Pedro Lamares
Manuel Bandeira (1886-1968)
Os Sapos
Poética
Oswald de Andrade (1890-1954)
Pero Vaz Caminha
Guilherme de Almeida (1890-1969)
Cinema
Menotti del Picchia (1892-1988)
Língua brasileira
Jorge de Lima (1893-1953)
O mundo do menino impossível
Ronald de Carvalho (1893-1935)
Teoria
Mário de Andrade (1893-1945)
Ode ao burguês
Ascenso Ferreira (1895-1965)
Filosofia
Cassiano Ricardo (1895-1974)
O bacharel e a cabocla
Ribeiro Couto (1898-1963)
A invenção da poesia brasileira
Raul Bopp (1898-1984)
Cobra Norato /VII
Sérgio Milliet (1898-1966)
Aniversário
Luís Aranha (1901-1987)
Crepúsculo
Murilo Mendes (1901-1975)
Nova cara do mundo
Cecília Meireles (1901-1964)
Carnaval
Augusto Meyer (1902-1970)
Noturno portalegrense
Emílio Moura (1902-1971)
Interrogação
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
No meio do caminho
Hino Nacional
BIOGRAFIAS
É poeta, ensaísta, doutor em Letras e professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2018 publicou pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda a sua poesia reunida em Desdizer. Ainda em 2018, o seu livro de ensaios Percursos da poesia brasileira, do século XVIII ao XXI recebeu o prémio de melhor obra do ano no género, atribuído pela Associação Paulista de Críticos de Arte. A sua mais recente publicação, de 2020, intitula-se João Cabral de ponta a ponta. É membro efetivo da Academia Brasileira de Letras.
É professor emérito da Universidade do Porto, em cuja Faculdade de Letras ensinou, como ensinou na Universidade Católica Portuguesa (Porto), na Universidade da Califórnia em Santa Barbara e na Universidade de Paris- Sorbonne Nouvelle. Sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras, é autor de extensa bibliografia repartida pela poesia, pela crónica, pela tradução - e pelo ensaio e crítica, com especial incidência na literatura oral e marginal (Literatura Marginalizada, 2 vols., 1975, 1980), na vida e obra de Fernando Pessoa (Fernando Pessoa Poeta-Tradutor de Poetas, 1996; A Entrada de Fernando Pessoa no Brasil, 1916; 3.ª ed. 2021) e na literatura brasileira (O Modernismo Brasileiro e o Modernismo Português, 1986; 3.ª ed., 2015; Conversas com Escritores Brasileiros, 2000; 2.ª ed., 2017; Dar a Ver e a se Ver no Extremo: o Poeta e a Poesia de João Cabral de Melo Neto, 2014; Carlos Drummond de Andrade, uma Pedra (Preciosa) no meio do (meu) Caminho, 2018).
É pianista e escritora, nasceu no Rio de Janeiro e formou-se na Escola de Música da UFRJ. Prosseguiu os seus estudos de pós-graduação na Musik Hochschule de Viena, Áustria. Trabalhou na área editorial no Rio de Janeiro. Chefiou o Centro de Estudos Brasileiros em Barcelona, entre 1984 e 1990. Gravou CDs com obras inéditas de Claudio Santoro. Publicou o romance Na sombra do herói (Topbooks 2010), diversos artigos, o livro infantil O caso do amendoim roubado (Jaguatirica, 2016), contos e traduções, entre as quais duas peças de Bertold Brecht para a editora Civilização Brasileira. Redigiu e produziu séries de programas radiofónicos para a Antena 2 sobre Arnold Schoenberg e Heitor Villa-Lobos.
É Professora Associada no Departamento de Estudos Portugueses da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição. Desenvolve o seu trabalho nas áreas da Literatura Brasileira, da Literatura Comparada e dos Estudos Interartes. As suas publicações na área dos Estudos Brasileiros incluem ensaios sobre Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Bernardo Carvalho, Raduan Nassar, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, entre outros. A Forma do meio. Livro e narração na obra de João Guimarães Rosa foi publicado em 2011 pela Editora da Unicamp.
Nascido no Porto (1966), é Professor Associado do Departamento de Estudos Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e membro integrado do CITCEM. Leciona nas áreas de Literatura e Cultura Brasileiras, Crítica Textual, Literaturas Africanas e Literaturas Orais e Marginais. Doutorou-se em Literatura, em 2000, na mesma Faculdade, com uma tese sobre o poeta barroco Gregório de Matos. Obteve em 2016, também na FLUP, o título de Agregado em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos, especialidade de Literatura e Cultura. É, desde 2019, o responsável pela Cátedra Agostinho Neto na FLUP.
É Professora Titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal de Goiás, onde ingressou em 2002. Doutorou-se, em 2020, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com tese sobre Mario Quintana. Realizou, em 2015, com bolsa do CNPq, pós-doutoramento na Universidade do Porto e na Universidade Federal Fluminense, quando desenvolveu investigação sobre Cesário Verde e João Cabral. Atualmente desenvolve o projeto Antologia comentada da crítica portuguesa de João Cabral de Melo Neto, financiado com bolsa de produtividade do CNPq. Entre suas publicações, estão os livros A Memória Lírica de Mario Quintana (2006) e Inventário: Poesia Reunida, Inéditos e Dispersos [de Heleno Godoy] (2015), além das coletâneas em coautoria Estudos de Literatura Brasileira em Portugal (2016), Poesia Contemporânea e Tradição: Brasil-Portugal (2017) e Inscrições da Memória (2017). Tem no prelo, em parceria com Arnaldo Saraiva, o livro Correspondência: João Cabral & Alberto de Serpa, a sair em 2022 pela Editora Ateliê.
Desde 1982 que divide a sua atividade como atriz e formadora. A partir de 1994 inicia o seu percurso também como encenadora. Ao longo destes anos, tem trabalhado em Teatro, Rádio, Televisão e Cinema. Em teatro como atriz, encenadora e na adaptação e criação de textos para teatro. Em televisão como atriz e na direção de atores. Em rádio e cinema como atriz.
Faz dobragens e locuções para programas educativos, séries infantis e publicidade. Gravou 7 discos de poesia e criou já vários espetáculos no âmbito da poesia. É Diretora artística do Teatro Meridional em conjunto com Miguel Seabra, companhia com 30 anos de existência e sediada em Lisboa.
Nasceu em 1979. Estudou na Academia Contemporânea do Espectáculo, no Porto. Trabalhou em teatro, cinema e televisão. Para além de seis longas metragens, várias curtas, novelas em Portugal (TVI) e no Brasil (BAND) e séries (RTP1), apresentou os programas “Literatura Agora”, “Literatura Aqui” e “Nada será como Dante” (RTP2), com Filipa Leal. Na Poesia, dedica-se à escolha de textos e leitura em espetáculos, recitais e festivais literários. Coordenou a “Maratona de Leitura” da “Festa da Poesia” do Centro Cultural de Belém durante dez anos. Participou como intérprete em cerca de 70 espetáculos do ciclo “Quintas de Leitura” do Teatro Municipal do Porto. Trabalhou regularmente com instituições como Casa Fernando Pessoa, Fundação José Saramago ou Instituto Camões. Dirige espetáculos nas áreas do teatro, música e poesia. Apresentou criações suas em Cabo Verde, Macau, Bélgica e Suíça. É professor convidado na Academia Contemporânea do Espectáculo. Colabora como criador na Companhia Nacional de Espectáculos e é director artístico da cooperativa Casca de Noz.