Um olhar para o universo de Siza
Há pessoas que dispensam apelidos. E há apelidos que remetem para uma só pessoa, como é o caso de Siza.
Centrada no traço e no desenho de Siza, esta exposição faz o cruzamento do material de arquivo depositado, pelo próprio arquiteto, no CCA – Canadian Centre for Architecture, na Fundação de Serralves e na Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian e ainda apresentada peças provenientes do centro britânico Drawing Matters e do atelier do próprio Siza.
A exposição vai deixar clara a necessidade que Siza tem de passar ao papel aquilo que imagina e que vê. “O desenho como forma de pensar”, refere o arquiteto, crítico e curador da exposição Carlos Quintáns Eiras, é, pois, o ponto de partida desta mostra. Siza “Desenha enquanto trabalha, quando come, nos momentos em que relaxa ao ouvir música, ao ver um filme ou enquanto conversa; não há momentos em que o desenho deixe de ser uma necessidade”, conclui.
A Galeria Principal do Edifício Sede será ocupada por esquiços, plantas, livros, muitos dos cadernos A4 (sempre do mesmo formato) onde Siza foi deixando o seu traço ao longo dos seus 90 anos de vida, e outros objetos (de mobiliário e design, com a sua assinatura) que fazem parte do seu universo profissional. “Siza começa, desde as suas primeiras obras, a desenhar as cadeiras, mesas ou candeeiros de que necessita, e este trabalho continua e mostra-se tanto nos objetos físicos como nos desenhos necessários para os construir, evidenciando como o seu trabalho é uma obra total, em que não abandona nenhum aspeto criativo”, refere Carlos Quintáns Eiras. Esta “obra total” (muita dela construída, mas muita deixada por contruir) será analisada, ao longo da galeria, através de trinta conceitos que se traduzem em verbos como aquecer, baixar, iluminar, nadar, olhar, orar, voar. A acompanhar esta análise da obra, estarão 900 fotografias (expostas e projetadas) de projetos de Siza, da autoria do fotógrafo espanhol Juan Rodriguez.
O universo mais pessoal, mais íntimo de Siza, poderá ser descoberto na Galeria de Exposições Temporárias do Museu, onde estarão expostos retratos (desenhados) de familiares e amigos, apontamentos, vistas das suas viagens, aguarelas, e desenhos que – à falta do seu habitual caderno A4, de uma qualquer toalha de mesa, sacos de avião, programas de exposições ou outra superfície com espaço branco suficiente para ocupar com o seu traço – são registados num maço de tabaco. É também nesta sala que se encontram obras da sua mulher, Maria Antónia Siza, da sua filha e neto, mobiliário e esculturas pessoais e peças de algumas das suas referências: Amadeo, Picasso, Matisse.
A exposição é acompanhada de um programa público, que inclui visitas orientadas, oficinas de desenho, uma mesa-redonda (com duas sessões) para Pensar Siza Vieira, e um ciclo composto por três filmes – O Arquiteto e a cidade velha, de Catarina Alves Costa, Vizinhos, de Cândida Pinto, e A Dama de Chandor, de Catarina Mourão – escolhidos pelo próprio Siza.
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