Como passar a mensagem de que o oceano é essencial para a vida humana?
Metade do oxigénio que respiramos vem do oceano. É ele que regula o nosso clima. Milhares de milhões de pessoas dependem dele para a sua alimentação e subsistência. A ciência é clara, mas como comunicá-la de forma a cativar e consciencializar as pessoas? Como garantir que as soluções cheguem a todos e funcionem para todos?
Nos dias 8 e 9 de abril, o Programa de Sustentabilidade da Fundação Calouste Gulbenkian organizou o Simpósio de Comunicação sobre o Oceano, em parceria com a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (IOC) da UNESCO e a Communications (Comms) INC, para debater as melhores práticas de comunicação sobre o clima, o oceano e a sustentabilidade. Este evento precedeu a Conferência da ONU sobre a Década dos Oceanos, que decorreu de 10 a 12 de abril.
O Simpósio reuniu profissionais dos meios de comunicação social, da psicologia, das ciências sociais e naturais e de outras disciplinas de todo o mundo para partilhar conhecimentos, compreender os desafios e identificar soluções.
Quatro prioridades de ação
Os participantes do Simpósio analisaram quatro áreas de trabalho: dados e pesquisa sobre o público; mensagens e mensageiros; formação de porta-vozes diversos; e replicação de abordagens bem-sucedidas. Com um formato interativo que incluiu uma combinação de discussões de grupo, apresentações e estudos de casos de todo o mundo, o Simpósio teve como objetivo promover a troca de perceções e ideias e desenvolver uma rede global e interdisciplinar de comunicadores do oceano.
Assim, foram identificadas quatro prioridades de ação:
- Aumentar o investimento na comunicação sobre o oceano, atribuindo mais recursos para mostrar o papel estratégico que esta desempenha na expansão das soluções para a proteção do oceano.
- Criar uma rede global de comunicadores estratégicos profissionais.
- Promover abordagens baseadas em factos. Os estudos e os dados constituem a base de uma comunicação eficaz. Os participantes identificaram as principais oportunidades, incluindo um novo inquérito global sobre o oceano e a sociedade, e os dados existentes sobre a forma como os diferentes públicos reagem à comunicação sobre o oceano.
- Dar prioridade à Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão (JEDI – Justice, Equity, Diversity and Inclusion na sigla em inglês). A aplicação dos princípios JEDI nas comunicações sobre o oceano é fundamental para envolver mais pessoas em matérias relativas ao oceano.
Um projeto com vários intervenientes
O Simpósio é um marco fundamental no projeto Advancing Strategic Ocean Communication, uma iniciativa a longo prazo liderada pela Gulbenkian, IOC-UNESCO, Comms INC e a Fundação David and Lucile Packard para melhorar a comunicação sobre o oceano. Através de consultas e eventos, este projeto com vários intervenientes aborda diretamente as prioridades identificadas pelo setor e as recomendações do livro branco da ONU sobre ‘Restoring Society’s Relationship with the Ocean’ (Reestabelecer a Relação da Sociedade com os Oceanos), recentemente publicado e disponível em inglês.
A iniciativa vai proporcionar novos recursos acessíveis, aliados a uma série de eventos e formações virtuais e presenciais com o objetivo de promover uma utilização generalizada dos mesmos. Resultará também no desenvolvimento de um enquadramento de dados concretos que ajude a avaliar o impacto das campanhas de divulgação sobre o oceano. O objetivo visa reforçar a comunidade global de profissionais e aumentar o investimento filantrópico na comunicação do oceano – respondendo diretamente às prioridades identificadas no Simpósio.
Um dos princípios fulcrais é a inclusão, maximizando a participação de regiões normalmente sub-representadas nos círculos de comunicação do oceano. O Conselho Consultivo do JEDI – composto por membros nomeados – é responsável pela supervisão da execução e dos resultados do projeto. O Simpósio teve como objetivo uma paridade de “50/50” entre a representação dos países do Norte e dos países do Sul.
Defender a importância da comunicação sobre o oceano
A Fundação Calouste Gulbenkian tem investido na investigação da comunicação do oceano há vários anos, reconhecendo que uma comunicação eficaz está na base de todo o trabalho que é feito para proteger o oceano.
O estudo que realizámos há 10 anos mostrou-nos que, subjacente a todos os problemas que o oceano enfrenta, a falta de compreensão sobre a sua importância era um dos maiores desafios. É sabido que a compreensão leva à preocupação e que a propensão para agir aumenta quanto maior a ligação das pessoas ao problema.
Por esta razão, abordar esta falta de sensibilização mais ampla do público é fundamental para mudar opiniões e promover ações sobre a saúde do oceano. Isto vai para além da promoção de políticas específicas – trata-se de mudar a “música ambiente” global ou a narrativa pública. Só assim se criará um apoio sustentado ao plano de ação para o oceano, assegurando a manutenção e a implementação das políticas a longo prazo.
Precisamos de mais investimento e implementação de comunicações estratégicas no setor do oceano. Isto inclui uma melhor partilha e utilização de abordagens que funcionem (dentro e fora do setor), inovando e testando novas abordagens, e colaboração entre organizações e políticas públicas.
O projeto atual baseia-se num workshop realizado na Fundação no âmbito da Conferência das Nações Unidas dos Oceanos de 2022 e num relatório subsequente sobre áreas de apoio prioritárias.
No dia 15 de maio, a Fundação convida todos os que queiram saber mais sobre este tema a participar num webinar, onde será apresentado o resumo do Simpósio de Comunicação. O webinar será apresentado em inglês, com interpretação em português, francês e castelhano. Os relatórios e materiais do projeto estarão disponíveis em breve.
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