Leonor Antunes 

da desigualdade constante dos dias de leonor*

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Para a inauguração do seu novo edifício, o CAM convidou a artista Leonor Antunes a apresentar um novo projeto que ocupará a totalidade da sua galeria principal.

Em duas galerias contíguas, Leonor Antunes (n. 1972) provoca um encontro entre a sua obra, uma intervenção concebida para a totalidade do espaço da nave, e as obras de três dezenas de artistas mulheres da Coleção do CAM apresentadas no mezanino, associando reciprocamente a sua prática e obra às obras e práticas destas artistas. Ver mapa da exposição

O título da exposição, que cita um desenho de Ana Hatherly da Coleção de 1972, o ano de nascimento de Leonor Antunes, é o mais «autobiográfico» do seu percurso. Leonor abre um campo de leitura sobre a vulnerabilidade do gesto criativo  e da sua própria condição de artista, neste que é um regresso a Lisboa, a cidade onde nasceu, no contexto da sua primeira exposição individual no CAM.

Ana Hatherly, «da desigualdade constante dos dias de Leonor», 1972. CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, inv. 04DP2004. Foto: Bruno Lopes © Artista e poeta plástica

Com um olhar sobre a Coleção, que valoriza as relações formais inesperadas e o diálogo e paridade entre as obras das artistas, numa cronologia que vai dos anos de 1930 até à atualidade, Leonor Antunes integra ainda trabalhos provenientes de empréstimos – os desenho-partituras da compositora Éliane Radigue, os objetos-têxteis de Guida Fonseca, a papeleira de Maria Keil e a obra de Emily Wardil em papel marmoreado – ,  ou provenientes de novas aquisições e novas encomendas com o trabalho de Isabel Carvalho e a «instalação ambiental» de Jota Mombaça no jardim, respetivamente. Libertando a parede longitudinal da galeria, deixada intencionalmente «crua», Leonor suspende as obras da Coleção em seis painéis ripados de madeira – voilettes – elemento escultórico que se repete nos dois pisos. Estes displays são uma reapropriação da fachada reticulada de Charlotte Perriand, concebida para a residência do embaixador japonês em Paris nos anos de 1960, enquanto revisitam as soluções de design moderno expositivo de Franco Albini/Franca Helg e Lina Bo Bardi, nomeadamente os icónicos cavaletes de vidro para a suspensão das obras da coleção  do Museu de Arte de São Paulo (MASP) da autoria de Bo Bardi.

Na intervenção da nave, a artista negoceia simultaneamente com o espaço da galeria e com o contexto histórico do CAM, como nas esculturas suspensas realizadas a partir de obras de Ana Hatherly, que reencontramos na exposição da Coleção, ou da arquiteta britânica Sadie Speight, companheira e colega de Leslie Martin, que participou no projeto arquitetónico do edifício original do CAM, autoria nunca reconhecida. A partir do percurso de Speight e de uma trama de relações e analogias, Leonor convoca e nomeia nas suas esculturas outras figuras históricas do movimento moderno internacional, como Marian Pepler e Sophie Taeuber, para além das já mencionadas.

Num gesto unificador do espaço, Leonor concebe uma escultura de chão em cortiça de grandes dimensões, intitulada forty five, com embutidos de linóleo e latão, que transpõe  um desenho modificado para um tapete de nós de Marian Pepler, designer têxtil britânica que colaborou com Speight. Reencontramos esta citação ao tapete de Marian Pepler nas esculturas-luminárias suspensas, realizadas em alumínio pintado e latão, que desenham no espaço da nave linhas verticais (duplicadas) e círculos (globos das lâmpadas), a única fonte de iluminação artificial da intervenção, que reforça a perceção sensorial e doméstica do espaço do museu.

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Textos dos curadores / artistas

Leonor Antunes

Parti de um grupo de trabalhos de algumas artistas mulheres da Coleção do CAM, destacando  artistas afrodescendentes, às quais adicionei outras quatro obras que embora não pertençam à Coleção eram para mim importantes mostrar neste contexto: um móvel da Maria Keil, uma partitura de Éliane Radigue, um papel impresso de Emily Wardill e as tessituras da Guida Fonseca. Fiz um convite a Jota Mombaça, que realizou uma performance no Jardim Gulbenkian, e o resultado pode ser visto no lago, fazendo agora a peça de cerâmica parte da Coleção do CAM.

Deixei inacabada e em cru a parede longitudinal da galeria tal como foi deixada pelos trabalhadores que ergueram o novo CAM, funcionando para mim como um grande desenho no espaço. Nela foram colocadas três prateleiras, sendo que numa delas se encontra o desenho de Ana Hatherly, de 1972, que dá o nome à exposição.

Seis painéis de madeira, desenhados a partir de um mobiliário de Charlotte Perriand, realizado para a casa do embaixador japonês em Paris (1965), vão-se articulando pelo espaço, à semelhança das intervenções feitas por Franco Albini e Lina Bo Bardi nos anos de 1960, recebendo as obras em suspensão no espaço.

Na sala estão outros dois biombos atribuídos a Sadie Speight, arquiteta e esposa do arquiteto Leslie Martin, autor do edifício original do CAM, e que foram utilizados nas primeiras exposições que se fizeram neste espaço, em 1983.

A construção de um diálogo assente na paridade entre as obras, colocadas lado-a-lado, bem  como as contaminações e porosidades que daí surgem são essenciais para a releitura destes trabalhos, recontextualizando-os, com tudo o que advém no «estar ao lado de» e «conviver com».


Ficha técnica

Curadoria

Leonor Antunes
Rita Fabiana

Imagem principal

© Nick Ash 

Mecenas Exposição

A Fundação Calouste Gulbenkian reserva-se o direito de recolher e conservar registos de imagens, sons e voz para a difusão e preservação da memória da sua atividade cultural e artística. Caso pretenda obter algum esclarecimento, poderá contactar-nos através do formulário Pedido de Informação.

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