Révolutions Xenakis
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- Encerra à Terça
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Galeria de Exposições Temporárias Museu Calouste GulbenkianPreço
50% – menores de 30 anos e maiores de 65 anos
Entrada gratuita – domingos a partir das 14:00
Révolutions Xenakis, uma exposição coproduzida com a Philharmonie de Paris, celebra as numerosas facetas de um dos artistas mais férteis da segunda metade do século XX, Iannis Xenakis. Apaixonado pela antiguidade grega, «nascido com vinte e cinco séculos de atraso», como o próprio afirmava, Xenakis foi um criador na vanguarda da modernidade mais radical.
Compositor, arquiteto, engenheiro, entusiasta da matemática e da informática, foi pioneiro em vários domínios, como a música eletroacústica ou a computação musical. Os seus espetáculos de luz e som conquistaram um vasto público e a vitalidade do seu portefólio, composto por quase 150 obras, jamais desvaneceu.
Pondo em causa os princípios dos movimentos mais importantes da música do pós-guerra, Xenakis inventou uma grande parte das técnicas composicionais que caracterizam a segunda metade do século XX. Autor de um método de composição baseado na matemática e na representação gráfica da notação musical, Xenakis revolucionou a noção de som musical, estando o seu conceito de massas sonoras na origem de timbres inauditos.
O compositor introduziu, igualmente, o processamento de grandes números e a noção de probabilidade subjacentes à sua teoria de música estocástica. Do mesmo modo, recorreu à matemática dos jogos, imaginando o princípio de peça musical aleatória, cujo conteúdo é fixado apenas durante a sua execução, o resultado de um «duelo» entre dois conjuntos orquestrais. Por fim, a sua abordagem inédita ao espaço e ao tempo na conceção dos espetáculos faz de Xenakis um dos fundadores da arte digital.
Uma instalação de luz e som realizada pelo ateliê ExperiensS funcionará, em intervalos de tempo regulares, como um curto-circuito do processo cenográfico, cobrindo o teto e as paredes do espaço central da exposição, numa transposição dos «polítopos» de Xenakis para 2022.
No espaço exterior à exposição, poderá ainda encontrar uma mostra documental de entrada livre que revela a relação próxima de Iannis Xenakis com a Fundação Gulbenkian, a instituição que mais obras encomendou ao artista.
Temas
O Pavilhão Philips
Aliagens
Polítopos
Espaço-Tempo
Máquina e desenho
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Panteão íntimo
Iannis Xenakis nasce em maio de 1921 ou 1922, em Brăila, na Roménia. O seu pai, Clearchos, gere uma empresa britânica de importação e exportação. A sua mãe, Photini, melómana, encoraja o seu filho a interessar-se por música desde muito cedo. Esta existência pacata é brutalmente interrompida em 1927, quando Photini, grávida, contrai sarampo e morre durante o parto.
Iannis e os seus irmãos são confiados a precetoras até serem enviados pelo pai para um colégio privado situado na ilha de Spetses, cujo modelo de educação se baseia nas grandes instituições britânicas. O ensino exigente e a prática intensiva de desporto caracterizam a escola, de onde Xenakis sai em 1938 com um interesse pelas ciências, pela matemática, pela filosofia e pela música.
Quando se inicia a Segunda Guerra Mundial, Iannis Xenakis encontra-se a estudar em Atenas. Envolvendo-se na resistência, é gravemente ferido pela explosão de um projétil inglês em janeiro de 1945. Forçado ao exílio, durante toda a vida Xenakis guarda uma memória muito viva dos eventos formativos da sua juventude, que serão igualmente fundamentais para a sua obra.
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O Pavilhão Philips
Uma das criações mais marcantes de Xenakis, durante os 12 anos que passou no ateliê de Le Corbusier, é seguramente o pavilhão criado para a Exposição Universal de 1958, em Bruxelas. Encomendado pela empresa Philips, que pretendia promover o seu know-how nos domínios da luz e do som, Le Corbusier propõe um Poème Électronique, projeto que recorria à arquitetura, à música e ao cinema.
Encarregando-se do espetáculo de imagens e luzes, Le Corbusier confia a Xenakis o projeto arquitetónico do edifício, enquanto Edgard Varèse realiza a banda sonora. Xenakis participa igualmente no projeto enquanto compositor e a sua peça espacializada Concret PH (1958) desempenha o papel de interlúdio entre as sessões do Poème Électronique.
Apresentando os «caminhos de sons» de Xenakis, compostos por 325 altifalantes, o Pavilhão Philips foi a grande atração da exposição, tendo recebido, durante quatro meses, 1,5 milhões de visitantes, enquanto o Poème Électronique foi reproduzido 3013 vezes.
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Aliagens
Engenheiro, arquiteto, compositor, matemático e informático, Xenakis não se dedicou exclusivamente a uma área. Defendendo «aliagens», como lhes chamava, entre artes e ciências, a sua obra musical e arquitetónica é o reflexo destas diferentes disciplinas, sendo caracterizada por dinâmicas complementares.
O contributo da matemática é essencial e está subjacente à maioria dos projetos desenvolvidos por Xenakis. Embora não haja nenhum exemplo da tradução direta de um princípio arquitetónico de Xenakis num conceito composicional, o ritmo das fachadas de vidro onduladas do Convento Sainte-Marie de La Tourette pode ser comparado às matrizes musicais de Achorripsis (1956-1957) ou de Pithoprakta (1955-1956), tal como as paredes em paraboloides hiperbólicos do Pavilhão Philips mimetizam as curvas dos glissandos de Metastasis (1953).
Os mesmos princípios regem o projeto da Ville Cosmique, sobre o qual Xenakis trabalha em 1963, uma cidade utópica do futuro que deveria culminar a 5000 metros de altura, e cuja modernidade ressoa com as preocupações ecológicas dos nossos dias.
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Polítopos
Os «polítopos» de Xenakis, espetáculos de som e luz, são trabalhos de maturidade artística, constituindo uma síntese do pensamento xenakiano. A partir do Polytope de Montréal, criado para o pavilhão francês da Exposição Universal de 1967, estas obras visuais e sonoras, concebidas para explorar a pluralidade de um lugar (politopia), resultam em projetos cada vez mais ambiciosos.
O Polytope de Cluny (1972-1974), instalado nas termas de Cluny, em Paris, atrai 100 mil espectadores, enquanto o Diatope de Beaubourg (1978), estrutura arquitetónica autónoma pensada para a inauguração do Centro Pompidou, acolhe La Légende d’Eer (1977), a mais majestosa obra eletroacústica de Xenakis.
Outras obras não chegam a ser concretizadas, como o Polytope du Mexique, cujo design, bastante desenvolvido, deveria ter por base a rede de pirâmides de Teotihuacan, ou o fantasioso Polytope Mondial, grandiosa «rede intercontinental de ações de luz e de som», destinada a «lançar pontes artísticas entre os oceanos».
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Espaço-Tempo
Desde as suas primeiras obras que Xenakis revela um domínio extraordinário do espaço e do tempo. Deste modo, a categorização «no tempo»/«fora de tempo» tem origem na conceção de Xenakis do tempo musical sob a forma de uma sucessão de eventos sonoros ou de segmentos temporais autónomos.
Além disso, Xenakis é um dos primeiros compositores a interessar-se pela difusão espacializada do som. Esta preocupação, que se encontra já presente nos «caminhos de sons» do Pavilhão Philips, encontra-se no centro da conceção dos «polítopos».
Diversas obras questionam de forma radical a espacialização do som. Em Eonta (1963), o compositor pede aos cinco instrumentistas de sopro que se movimentem enquanto tocam. Por vezes, recorre a dispositivos mais surpreendentes, seja colocando o ouvinte no meio do efetivo orquestral, como por exemplo em Terretektorh, apresentado em 1966 no âmbito do Festival International d’Art Contemporain de Royan, seja usando um complexo dispositivo de altifalantes, como em Hibiki Hana Ma, composto em 1970 para a Exposição Universal de Osaka.
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Máquina e desenho
Prática comum à engenharia e à arquitetura, o recurso ao grafismo é uma característica essencial do processo criativo de Xenakis. O interesse por este método poderá ser anterior à sua formação, uma vez que, enquanto jovem aprendiz de música, o compositor já tentava transcrever graficamente a música de Bach.
Do mesmo modo, o estudo dos seus numerosos cadernos de notas revela ideias novas e projetos delineados, cuja formalização passa pelo esboço ou pelo desenho. As famosas curvas gráficas de Metastasis (1953) ou de Pithoprakta (1955-1956), as arborescências de Erikhthon (1974) ou de Khoaï (1976), que parecem fazer eco das ramagens fotografadas pelo compositor, tornam-se assinaturas visuais da música de Xenakis.
No entanto, se do desenho nascia música, como aconteceu com a máquina UPIC, concebida em 1976, a função da partitura gráfica ou do desenho de arquitetura por vezes desaparecia, dando lugar à obra de arte visual, ao desenho puro.
Publicações
Vídeos
Programação complementar
Visitas orientadas
Com Susana Quaresma / Em português
Sáb, 14 jan, 11 mar / 16:00
Oficina sonora de experimentação sonora: Politopo espontâneo
Com Susana Quaresma e Nuno Cintrão / Em português
Sáb, 21 jan, 04 fev / 15:00
Dom, 22 jan, 05 fev, 05 mar / 10:30
Révolutions Xenakis: a arquitetura do som
Com Susana Quaresma / Em português
3º ciclo, secundário, profissional e superior
Révolutions Xenakis: a arquitetura do som
Com Susana Quaresma / Em português
Ficha técnica
Curadoria
Mâkhi Xenakis
Thierry Maniguet
Projetos
Wilmotte & Associés Architectes – Projeto Expositivo
Bernard Legacé – Projeto gráfico
Lysandre Le Cléac’h – Projeto gráfico
ExperiensS – Instalação do projeto de luz