Hoje em dia, com a ajuda das plataformas digitais, senti necessidade de contar a minha história, não só numa canção, mas de forma visual. Com a ajuda do realizador Chris Costa, foi possível tornar real e cinemático uma ideia base que nada mais era do que um xaile - o xaile que a minha mãe usava para me proteger.
O xaile tem um sentido figurativo, uma vez que eu, nascido em São Tomé e Príncipe, ainda tive a sorte de o ter tido colocado nas costas, como se faz em muitos países africanos. As mães transportam os seus filhos nas costas de modo a ficarem com as mãos livres para exercer os seus afazeres diários e ali nas costas, no contato direto com o corpo da nossa mãe, dormíamos. É essa história que durante o resto da nossa vida carregamos sem nunca percebermos, de facto, a sua dimensão e de que forma nos molda como pessoas.
Assim, decidi juntar a este fado que a minha mãe cantava muitas vezes em casa, o lado cênico, poético, simbólico e cinemático para que as gerações futuras não esqueçam que as nossas raízes estão na base de tudo o que fazemos durante a vida, e muitas vezes sem darmos conta delas.
O exercício de exteriorizar e falar dessas raízes e desses momentos ajudam enquanto pessoa a encontrar-me. Por outro lado, considero importante valorizar estas pessoas que, sem querer e sem serem ensinadas a ser, fazem de nós homens e mulheres dando tudo de si. Daí o título da curta “EPílogo".
O xaile é um símbolo de amor profundo. É esse amor que quis representar na tela.
Texto do artista NBC