Uma Metrópole para o Atlântico

novo estudo sobre o Arco Metropolitano de Lisboa
11 fev 2016

Consulta do estudo na íntegra (pdf)

Está concluído um novo estudo sobre o Arco Metropolitano de Lisboa, que traça um diagnóstico do potencial de ensino e de investigação desta macrorregião, bem como do seu empreendedorismo e capacidade empresarial para a internacionalização, no âmbito da Iniciativa Gulbenkian Cidades.

Grande Lisboa, núcleo central. Depois, um eixo até Leiria, ao longo da costa; outro eixo que acompanha o vale do Tejo; outro ainda em direção a Évora; e finalmente um eixo para sul, unindo a península de Setúbal e o Alentejo litoral. Em traços gerais, assim se definem as fronteiras de uma região que, apesar de não ter uma existência formal nem limites precisos, “constitui um sistema cada vez mais interativo e interdependente relativamente a instituições, pessoas, empresas e lugares, e corresponde a um dos motores essenciais do crescimento, da modernização e da internacionalização do país”, lê-se na nota de apresentação do estudo Uma Metrópole para o Atlântico. Depois de um primeiro estudo dedicado à macrorregião do Noroeste (Noroeste Global, ed. FCG, 2014), desenvolvido pela Fundação no âmbito da sua Iniciativa Cidades, apresenta-se agora o estudo dedicado ao Arco Metropolitano de Lisboa, outra das macrorregiões urbanas que mais pode contribuir para a capacidade de afirmação e atratividade do país na era da globalização e da economia do conhecimento.

“No contexto europeu, Lisboa, pela sua história, posição geográfica e potencial económico e científico, organiza uma metrópole que a transcende e que, tendo uma ambição global, tem uma projeção inquestionavelmente atlântica”, explicam os coordenadores deste projeto, José Manuel Félix Ribeiro, Francisca Moura e Joana Chorincas, para melhor se entender o título do estudo – Uma Metrópole para o Atlântico. O trabalho foi realizado em colaboração com a Universidade de Lisboa, a Universidade Nova, o ISCTE, a Universidade de Évora e a Universidade Católica, e em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, que participou na conceção deste trabalho desde o primeiro momento, contribuindo com zooms sobre alguns setores estratégicos no município. O estudo contou ainda com a colaboração de uma equipa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, coordenada por Teresa Sá Marques, responsável pela redação dos capítulos relativos ao território, demografia/emprego e análise de redes de inovação económica ancoradas no Arco Metropolitano de Lisboa, e com a colaboração da Informa D&B, no levantamento e tratamento de informação estatística de caracterização dos sectores de especialização e das empresas do Arco Metropolitano de Lisboa.

 

Concentração geográfica de oportunidades

Para além da Grande Lisboa e da península de Setúbal, entenderam os coordenadores do estudo estender esta “região funcional” até ao pinhal litoral para abranger Leiria, e para sul, até ao Alentejo litoral, para incluir Sines (onde fica o complexo petroquímico e o porto). Fizeram ainda uma incursão para o interior, apanhando o eixo Vendas Novas – Montemor-o-Novo – Évora, no Alentejo central, incluindo igualmente a lezíria e o Médio Tejo. “Há atividades económicas importantes que não conseguiríamos cobrir se nos limitássemos à análise da área metropolitana de Lisboa, que é muito mais terciarizada. No Alentejo central, incluímos a indústria aeronáutica, por exemplo”, justificam os coordenadores do estudo.

Com cerca de 4,1 milhões de habitantes em 2011 (41,1% da população residente no continente) e verificando-se um claro rejuvenescimento da sua estrutura populacional nas duas últimas décadas, o Arco Metropolitano de Lisboa “evidencia uma forte concentração geográfica de oportunidades”, lê-se no sumário executivo.

“É uma ‘metrópole’ muito interessante, porque tem uma zona de serviços, uma zona industrial e uma zona verde (agricultura, florestas, pedreiras, etc.), tudo por camadas, num espaço relativamente pequeno. Temos uma grande variedade, porque nesta região coexistem empresas muito grandes, muita indústria multinacional e um tecido de PME e start-ups em contínua expansão”, explica a equipa responsável pelo trabalho. “E os serviços que tradicionalmente eram para o país inteiro, agora começam também a ser exportados – indústria farmacêutica, biotecnologia e engenharia biomédica; serviços às empresas assentes nas tecnologias de informação; e indústrias criativas, onde se inclui o ‘divertimento digital’, ou seja, os jogos de computador”, sublinham.

 

Investigação por áreas

Ao contrário do que acontece no estudo sobre o Noroeste, onde o trabalho foi desenvolvido com três universidades, cada uma das quais com politécnicos adjacentes, numa estrutura multipolar (Universidade do Minho, Universidade do Porto e Universidade de Aveiro), no Arco Metropolitano de Lisboa as universidades estão concentradas em Lisboa, com uma coroa de politécnicos à volta (Leiria, Lisboa, Tomar, Santarém e Setúbal), numa estrutura mais monopolar, com vários eixos de desenvolvimento. Também por esta razão, outra diferença de abordagem relativamente ao trabalho sobre o Noroeste do país, onde a investigação foi organizada por universidades, é que no volume sobre o Arco Metropolitano de Lisboa se organiza a investigação por áreas científicas e tecnológicas, podendo incluir centros de investigação de qualquer universidade de Lisboa, bem como os laboratórios do Estado, bastante concentrados na área de Lisboa, que desenvolvem igualmente atividades de investigação.

As instituições de ensino superior no Arco Metropolitano de Lisboa destacam-se ainda no apoio ao empreendedorismo e inovação, na cooperação com o tecido empresarial e nas atividades de internacionalização, seja através do desenvolvimento de programas académicos em parceria com universidades estrangeiras, de programas de intercâmbio e mobilidade académica ou da participação em redes de investigação internacionais. “As universidades também tiveram aqui a oportunidade de fazer um retrato delas próprias, em particular a Universidade de Lisboa [que resulta da fusão em 2013 da antiga Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa]”, acrescentam os coordenadores do estudo.

 

Ecossistema de inovação

No Arco Metropolitano de Lisboa encontram-se quatro tipos de clusters consolidados numa combinação única de serviços, indústria e valorização de recursos naturais:

  • Megacluster turismo e hospitalidade; clusters de serviços às empresas; e indústrias criativas, em processo de viragem para o exterior;
  • Clusters em sectores infraestruturais – energia, telecomunicações, logística e transportes; engenharia, construção e obras públicas;
  • Clusters assentes em recursos naturais – como o da agricultura e agroindústrias, as indústrias florestais e os materiais de construção;
  • Clusters e polos industriais – automóvel e eletrónica, plásticos/mecânica de precisão; polos petroquímico, siderúrgico e construção/reparação naval.

De acordo com este trabalho prospetivo, o Arco Metropolitano de Lisboa dispõe de um ecossistema de inovação cujo centro é constituído pelas universidades – que têm os seus próprios ecossistemas de inovação –, com uma coroa envolvente que integra os institutos politécnicos e os laboratórios de Estado. Constituem também o ecossistema de inovação desta macrorregião as empresas multinacionais e as grandes empresas dos sectores infraestruturais, os clusters industriais consolidados, e as incubadoras e os parques tecnológicos, criados pelas universidades ou pelas autarquias e onde são apoiadas spin-offs e start-ups, que contribuem decisivamente para o empreendedorismo da região.

É com base neste ecossistema de inovação que se desenvolveram atividades que constituem já clusters ou polos industriais consolidados e atividades emergentes ainda consideradas ‘protoclusters’. “Em Lisboa, temos a biofarmacêutica e engenharia biomédica; a mobile, web & cloud e os videojogos/entretenimento digital; e depois – o que é muito importante –, os clusters que achamos estarem a surgir nesta região, no seu conjunto: aeronáutica, espaço e defesa; e petróleo, gás e offshore, os que vêm para cá trabalhar para todo o Atlântico Sul.”

 

“Estes estudos transmitem-nos uma ideia do país muito diferente e mais interessante do que a ideia que as pessoas têm. Há uma quantidade de novos processos que estão a acontecer que não têm nada a ver com a imagem que normalmente temos, que é uma imagem macroeconómica ou política”, asseguram os coordenadores do estudo. A mesma equipa prepara-se agora para fechar o ciclo com um terceiro trabalho sobre a Região Centro, feito com a Universidade de Coimbra e a apresentar em 2016.

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