Basileia tem uma escola de música incrível

Entrevista a Bernardo Pinhal
10 nov 2015

Bernardo Pinhal

26 anos
Bolsa de estudo para aperfeiçoamento em Música na Musik Akademie Basel, em Basileia, na Suíça

 

Começou a tocar piano ainda muito novo. Quando teve a certeza de que queria seguir este caminho?

Na verdade não me lembro de alguma vez ter querido ser outra coisa – músico. Mesmo antes de começar a ter aulas formalmente, que foi muito cedo, passava horas a tentar reproduzir a música que os meus pais, que não são músicos, punham a tocar na aparelhagem num pequeno teclado de brincar (e isto ainda recordo). Como a música era muito diversificada (e sempre de gosto cuidado), passei toda a juventude a querer explorar todas as formas musicais que me fascinavam, para além da música clássica, que era, contudo, a mais ouvida: o jazz, o rock inglês dos anos 60 e 70, o canto popular, e mais tarde até alguma música eletrónica, mais experimental. É vastíssima a quantidade de música interessante que a humanidade já fez… mas há que escolher um caminho. E o caminho que eu achei que mais decentemente podia servir a música era este, tocar piano, e essa escolha fi-la com absoluta certeza aos 16 ou 17 anos. Além do mais, há uma quantidade infinita de boa música escrita para o meu instrumento… uma vida não chega para a tocar toda.

Já recebeu prémios nacionais e internacionais. De que forma estas distinções constituem um incentivo para a sua carreira?

As distinções não me interessam assim tanto. Não tenho nada contra quem dedique a sua vida a fazer concursos e, eu próprio, planeio fazer um par de concursos “grandes” nos próximos dois anos, independentemente do resultado que vier a ter; é um excelente treino e tem a sua importância. Mas a verdade é que não é coisa que me entusiasme muito.

Entre as experiências musicais vividas em várias cidades qual a que mais o marcou?

Para já, a cidade onde me encontro agora é, de longe, a que me mais me marcou. Basileia tem uma escola de música absolutamente incrível. Para além de ser das maiores da Europa, tem um nível médio de docentes absolutamente extraordinário, melhor que o da Reina Sofía em Madrid e com a vantagem de ser uma escola normal, moderna, e não conservadora e ditatorial. Na Suíça, além de (muito!) dinheiro, há gosto pela música, pela música antiga, pela música contemporânea. Todas as semanas há um número infinito de concertos com música nova, por exemplo; as grandes “estrelas” vivas da música vêm ao Stadt Casino, o nosso mais importante auditório, algumas dão masterclasses na escola, e o nível artístico e cultural de muitos colegas é mesmo muito alto.

Porque escolheu Basileia para continuar a sua formação?

Por causa do meu professor – Claudio Martínez Mehner. Conheci-o num curso em Portugal, aos 20 anos, e soube de imediato que era a única pessoa que quereria ter como professor na vida. Considero-o um génio! Tem como principal referência o Ferenc Rados, um já octogenário pianista húngaro. O meu professor é um homem que é capaz de tocar ao piano literalmente qualquer coisa que tenha ouvido pelo menos uma vez na vida, de qualquer época ou instrumento, e em qualquer tonalidade. Tudo isto porque a única coisa que lhe interessa é o mecanismo da música, o que a constitui, o sistema. Basicamente, ensina-nos a compreendê-lo e a não perturbá-lo – digo-o muito resumidamente, é claro. Está a ser uma experiência absolutamenteextraordinária, apesar de termos, volta e meia, conflitos de opiniões e princípios. Foi assistente (depois de aluno vários anos) do meu anterior professor, Dimitri Bashkirov, e não poderia ser mais radicalmente contrário a ele.

Onde se imagina daqui a 10 anos?

Se me perguntar onde me imagino daqui a um ano, dois– em Portugal. Além de ainda ter que fazer um mestrado em Pedagogia para poder dar aulas, que tem que ser obrigatoriamente feito no nosso país, tenho uns projetos interessantíssimos a começarem. O futuro dirá como resultarão e o tempo que por lá permanecerei. Sinto que, agora que vou ficar sozinho, sem professor, posso potenciar tudo o que sei; questionar estes anos de experiências musicais incríveis, desde os dois Borges Coelho no Porto, ao contacto com o mundo soviético em Madrid e agora em Basileia, com um predominante pensamento antirrusso, até. Agora quero é tocar… principalmente música de câmara. Agora é que sinto vou aprender a sério. Daqui a dez anos… como saber?

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