Quando o digital traz proximidade à Medicina

Esta é a história de como uma das Gulbenkian Soluções Digitais se instalou em Braga para combater a Covid-19 e acabou por se estender a outros campos da medicina e por esse mundo fora.
© DR
10 mar 2021

“Há cerca de um ano, mesmo no início da pandemia, o meu namorado esteve em contacto com uma pessoa que deu positivo à Covid-19.” Ainda se sabia muito pouco sobre o vírus, sobre os sintomas da doença e as medidas a tomar em casos de dúvida. A viver no Porto, onde a pandemia escalava, Angelina Machado “precisava de saber se devíamos ficar em isolamento ou não. Liguei imensas vezes para as linhas do SNS, mas estavam sempre entupidas.” Acabou por desabafar com um grupo de amigos, no WhatsApp, e foi de lá que surgiu a alternativa: o Centro de Medicina Digital P5. Enviou um e-mail para esta associação sem fins lucrativos detida pela Universidade do Minho e alguns dos seus antigos alunos e “uma ou duas horas depois” recebia a resposta: “dadas as circunstâncias, era melhor ficar 15 dias em isolamento” profilático. Assim fez.

Madalena Esteves teve uma experiência semelhante. “Um dia, estava com tosse e dor de garganta”. Com 32 anos, saudável, considerava que a probabilidade de apanhar Covid-19 era baixa, mas “andávamos todos um bocadinho paranoicos e preocupava-me a possibilidade de poder vir a transmitir aos outros” confessa, muitos meses depois. Com o SNS “assoberbado”, Madalena entrou na plataforma online do P5, teclou os sintomas e num par de horas ficou a saber que “não era razão para ficar confinada, fazer testes [de despistagem] ou tomar outras medidas”. Afinal, ainda havia vida (e doenças) além da Covid.

Fosse o P5 um centro clínico universitário (como esteve para ser) e apenas Madalena, em Braga, teria podido lá ir para usufruir do serviço. Mas sendo um serviço digital, as respostas puderam chegar a Angelina, no Porto, e a outros, noutras geografias.

 

De Paredes de Coura ao Dubai

Nuno Sousa, o neurorradiologista que preside a Escola de Medicina da Universidade do Minho e o P5, conta como um “antigo aluno, que viaja muito, encontrou nos serviços clínicos do P5 resposta” às suas necessidades. Há tempos ligou do Dubai, mas esteja ele onde estiver, escusa de procurar um centro clínico e explicar a sua condição – pode conectar-se ao P5 com a certeza de que, do outro lado, há um médico ou um enfermeiro com acesso à sua ficha clínica, que lhe dará um acompanhamento personalizado.

Como Angelina, Madalena e este antigo aluno da Universidade do Minho, recorreram ao P5 (via telefone ou internet), entre março e setembro de 2020, mais de 3500 utilizadores. O serviço criado com o apoio das Gulbenkian Soluções Digitais, explica Nuno Sousa, “era complementar ao SNS”, pretendia retirar pressão sobre o serviço público quando esta mais precisava.

Nesses meses, a pergunta mais vezes colocada foi “tenho estes sintomas – será Covid?”, invariavelmente seguida por “o que devo fazer?” Ou “tenho lúpus. Que medidas excecionais devo tomar?” Do outro lado da linha, médicos de medicina geral, internistas e enfermeiros, aos quais se foram juntando especialistas, psicólogos clínicos e, na fase de maior procura, finalistas da Escola de Medicina da Universidade do Minho prestavam esclarecimentos, apoio psicológico, psiquiátrico ou davam o encaminhamento necessários.

Do lado de lá da linha está uma equipa de médicos e enfermeiros semelhante à da linha de atendimento do SNS

 

Da Covid-19 aos hábitos saudáveis

A Fundação Gulbenkian ajudou o P5 a montar o Help Desk que viria a enfrentar todas as dúvidas sobre a Covid-19, mas também a dar os primeiros passos na criação de uma app de promoção da saúde, com a qual o P5 quer adicionar valor aos serviços prestados (para já) em Paredes de Coura e Guimarães.

A app permite que os médicos sigam, à distância, os pacientes que precisam de um acompanhamento regular. Certos, explica Nuno Sousa, têm de ser vistos todos os meses. A app permite avaliar se a consulta tem de ser antecipada (se os dados carregados na app o justificarem) ou se, pelo contrário, pode ser mais espaçada. “Há patologias, como a diabetes tipo 2, em que o acompanhamento é fundamental mas as alterações de comportamento também o são” e esta app foi pensada para ajudar nessa luta diária. Resta agora que seja usada e bem usada, por isso, a equipa está a trabalhar com autoridades e a comunidade local de Paredes de Coura para aumentar os níveis de literacia digital da população. Já em Guimarães, onde há “menor desconforto digital”, a estratégia é antes a de “criar hábitos saudáveis nas famílias através dos mais jovens”.

Assim, ao conceito dos quatro “Pês” da Medicina (Preventiva, Preditiva, Participativa e Personalizada), a equipa de Nuno Sousa juntou mais um, de Proximidade, “desconstruindo o conceito de que o digital afasta”. Um princípio que norteou o lançamento do Gulbenkian Soluções Digitais, aquando da criação, pela Fundação, do Fundo de Emergência Covid-19.

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