O Futurismo

A mais recente edição da Colóquio-Letras - revista quadrimestral da Fundação Gulbenkian - é dedicada ao futurismo português, estabelecendo uma oportuna ligação com a exposição de José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno.
01 fev 2017

Este número temático da Colóquio é lançado no ano em que se celebra o centenário da publicação do primeiro e único número da revista Portugal Futurista. Reúnem-se vários textos sobre este movimento que, na altura, adquiriu uma aura de escândalo e que teve em Almada um dos mais destacados intérpretes, embora a sua expressão artística não se tenha esgotado aí.

Um dos artigos em destaque neste volume revela uma série esquecida de anúncios desenhados por Almada para uma empresa de cimentos de Madrid, durante os anos em que o artista viveu e trabalhou naquela cidade, constituindo mais um testemunho da sua espantosa versatilidade criativa.

Os restantes artigos aprofundam vários aspetos do futurismo em Portugal que só não se corporizou num grupo estruturado e duradouro, como sucedeu com o futurismo em Itália sob o impulso de Marinetti, porque os artistas que mais se aproximaram da sua estética desapareceram prematuramente: Mário de Sá-Carneiro, em 1916, Santa Rita Pintor e Amadeo de Souza-Cardoso, em 1918. Do núcleo próximo desse projeto, sobreviveu Fernando Pessoa, que nunca assumiu a etiqueta futurista, preferindo substituí-la por um original sensacionismo.

Todo o futurismo português se passou quase discretamente entre as duas revistas, Orpheu de 1915 e Portugal Futurista de 1917 (apreendido pelas autoridades), com emergências pontuais no Algarve, no inesperado suplemento futurista de O Heraldo de Faro, em 1916, e já na década de 20 em Coimbra; mas o pouco que produziu foi compensado pela polémica que logo desencadeou e depois irá prosseguir pontualmente, ao longo dos anos, como documentam por vezes alguns ataques vindos de Teixeira de Pascoaes ou de José Régio. Mais tarde, serão os próprios Pessoa/Álvaro de Campos e Almada a atacar o antigo chefe do futurismo italiano, Marinetti, recebido em Lisboa, entre outros, por Júlio Dantas, escritor académico que tinha sido o alvo principal do Manifesto Anti-Dantas de Almada.

Nos ensaios aqui publicados apresenta-se um panorama muitas vezes inédito do que foram os protagonistas desse período e o contexto que converteu em “malditos” os nossos modernistas marcados, ou investidos, pela palavra “futurismo”. Destaca-se a coragem com que uma revista portuguesa assume a vanguarda desse início de século XX quando publica, no seu número único, exemplos do que de mais inovador se fazia na época: os poemas de Guillaume Apollinaire e de Blaise Cendrars. A colaboração portuguesa, de Almada a Álvaro de Campos na literatura, e de Souza-Cardoso a Santa Rita Pintor nas artes plásticas, era suficientemente escandalosa para ofender os bons costumes, tendo conduzido à apreensão da revista. Para isso terá igualmente contribuído a publicação do “Manifesto Futurista da Luxúria” de Madame Valentine de Saint-Point.

Algumas obras da série Pintura Habitada de Helena Almeida, pertencentes à coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, ilustram este volume, onde podem ainda ler-se artigos sobre Cesário Verde, Alberto Caeiro, Haroldo de Campos, Waly Salomão e Pedro Eiras, entre outros.

 

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