Mozart: Concerto para Clarinete
Orquestra Gulbenkian / Lorenzo Viotti / Carlos Ferreira

Marco carismático do repertório concertante do período clássico, o Concerto para Clarinete e Orquestra, K. 622, constitui a última obra puramente instrumental concluída por Wolfgang Amadeus Mozart em Viena, durante o mês de outubro de 1791, pouco antes da sua morte. Debatendo-se com várias debilidades, o músico fez redobrar os esforços criativos em torno desta e de outras obras, entre as quais o motete Ave verum corpus, o Quinteto para Cordas K. 614, as óperas La clemenza di Tito e A flauta mágica e ainda o Requiem. Um esboço originário da partitura foi dedicado ao clarinetista Anton Stadler, com o qual Mozart travou conhecimento depois de se ter estabelecido em Viena. Nesta versão, a parte solista foi destinada ao cor de basset, instrumento que conviveu com o clarinete na segunda metade do século XVIII, mas que caiu progressivamente em desuso. O mesmo intérprete terá contribuído para a adaptação da parte solista ao clarinete clássico, o qual também tocava de forma exímia.
No curso dos três andamentos da obra, Mozart explorou as múltiplas sonoridades do clarinete, colocando em relevo os contrastes de registo sonoro. As partes orquestrais destinadas a instrumentos de sopro denotam grande suavidade de colorações tímbricas: a presença de flautas, fagotes e trompas, mas não de oboés, mostra a vontade de fazer sobressair o instrumento solista no seio de um plano sonoro essencialmente homogéneo.
O evocativo tema principal do primeiro andamento, Allegro, é entoado em uníssono pelo clarinete e pelos primeiros violinos, sobre o acompanhamento das restantes cordas, a que logo se juntam os sopros. O andamento é pontuado pelo retorno periódico de ritornellos orquestrais de distinto perfil melódico, elementos que constituem a sua base formal. Os contrastes emocionais são obtidos por meio da alternância de modulações conducentes ora a tonalidades maiores, ora menores. Ao longo de todo o andamento, o clarinete ocupa um lugar de destaque, tanto pelos seus gestos virtuosísticos, como pelo lirismo do discurso melódico.
Um tema de sublime conceção melódica domina todo o andamento seguinte, Adagio. A simplicidade da construção musical alia-se aqui a uma dimensão profundamente espiritual, da qual o instrumento solista é o mais veemente mensageiro. O Rondo: Allegretto final instaura uma atmosfera contrastante, para a qual contribui a vivacidade do tema do rondó, introduzido pelo clarinete e depois reiterado pela orquestra.
Intérpretes
- Maestro
- Clarinete
-
Orquestra Gulbenkian
Em 1962 a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu estabelecer um agrupamento orquestral permanente. No início constituído apenas por doze elementos, foi originalmente designado por Orquestra de Câmara Gulbenkian. Ao longo de sessenta anos de atividade, a Orquestra Gulbenkian (denominação adotada desde 1971) foi sendo progressivamente alargada, contando hoje com um efetivo de cerca de sessenta instrumentistas, que pode ser expandido de acordo com as exigências de cada programa. Esta constituição permite à Orquestra Gulbenkian interpretar um amplo repertório, do Barroco até à música contemporânea. Obras pertencentes ao repertório corrente das grandes formações sinfónicas podem também ser interpretadas pela Orquestra Gulbenkian em versões mais próximas dos efetivos orquestrais para que foram originalmente concebidas, no que respeita ao equilíbrio da respetiva arquitetura sonora.
Em cada temporada, a Orquestra Gulbenkian realiza uma série regular de concertos no Grande Auditório, em Lisboa, em cujo âmbito colabora com os maiores nomes do mundo da música, nomeadamente maestros e solistas. Atua também com regularidade noutros palcos nacionais, cumprindo desta forma uma significativa função descentralizadora. No plano internacional, a Orquestra Gulbenkian foi ampliando gradualmente a sua atividade, tendo efetuado digressões na Europa, na Ásia, em África e nas Américas. No plano discográfico, o nome da Orquestra Gulbenkian encontra-se associado às editoras Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion, Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve e Pentatone, entre outras, tendo esta sua atividade sido distinguida, desde muito cedo, com diversos prémios internacionais de grande prestígio. O finlandês Hannu Lintu é o Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian, sucedendo a Lorenzo Viotti.
-
Lorenzo Viotti
Maestro Convidado Principal
Na quarta temporada como Maestro Principal da Orquestra Filarmónica e da Ópera Nacional dos Países Baixos, Lorenzo Viotti dirige O Morcego de Johann Strauss e uma nova produção de Peter Grimes de Britten. Dando também continuidade à sua relação profissional com a Ópera de Zurique com uma nova produção de A Cidade Morta de Korngold. Para além dos concertos regulares e digressões com a Filarmónica dos Países Baixos, regressa aos EUA para a suas estreias com a Filarmónica de Los Angeles e com a Sinfónica de Pittsburgh. Na Europa, dirige a Filarmonica della Scala, a Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia, a Gürzenich Orchestra e a Orchester der Deutschen Oper Berlin. Estreia-se à frente da Orchestre de la Suisse Romande e conclui a temporada com a Sinfónica de Viena.
Na qualidade de maestro convidado, Lorenzo Viotti trabalhou com muitas das principais orquestras mundiais, incluindo as Filarmónicas de Viena, Berlim e Munique, a Orquestra do Real Concertgebouw de Amesterdão, a Sächsische Staatskapelle Dresden, a Orquestra do Gewandhaus de Leipzig, a Orquestra de Cleveland, a Royal Philharmonic, a Orquestra Estadual de Berlim ou a Sinfónica de Tóquio.
Natural de Lausanne, na Suíça, Lorenzo Viotti nasceu no seio de uma família de músicos de ascendência italiana e francesa. Estudou piano, canto e percussão em Lyon, tendo inicialmente sido percussionista da Filarmónica de Viena. Paralelamente estudou direção de orquestra com Georg Mark, em Viena, e com Nicolás Pasquet, no Conservatório Franz Liszt, em Weimar. No início da sua carreira venceu prestigiosos concursos de direção, incluindo o Concurso Internacional de Cadaqués, o Concurso de Direção MDR (2013) e o Nestlé and Salzburg Festival Young Conductors Award (2015). Em 2017 recebeu o International Opera Newcomer Award nos International Opera Awards, em Londres. Foi Maestro Titular da Orquestra Gulbenkian entre 2018 e 2021, sendo atualmente Maestro Convidado Principal.
-
Carlos Ferreira
Clarinete
Natural de Paredes, Carlos Ferreira é um dos mais aclamados clarinetistas da atualidade. Vencedor do 2.º Prémio no Concurso Internacional ARD, em Munique, do 3.º Prémio e Prémio do Público no Concurso Internacional de Genebra e do WEMAG Soloist Prize do Festival Mecklenburg-Vorpommern 2021, é atualmente Clarinete Principal na Orquestra Nacional de França.
Carlos Ferreira é um convidado regular dos principais festivais de música e salas mundiais. Tocou como solista com diversos ensembles e formações, entre os quais se destacam a Orquestra Filarmónica Portuguesa, a Transylvania State Philharmonic Orchestra, a Orquestra de Câmara de Genebra, a Orquestra de Câmara de Munique, a Orquestra da Rádio de Munique e a Orquestra Nacional de França. Academista da Orquestra do Real Concertgebouw de Amesterdão em 2016, continuou o seu percurso orquestral na Filarmónica de Monte Carlo e posteriormente ocupou o lugar de Clarinete Principal na Orquestra Nacional de Lille e na Philharmonia Orchestra de Londres.
Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian enquanto estudante na Escuela Superior de Música Reina Sofía, em Madrid, na classe dos professores Michel Arrignon e Enrique Pérez Piquer. Posteriormente, ingressou no Conservatório de Amesterdão, na classe de Arno Piters, e no HEMU de Lausanne, na classe de Florent Héau. Em Portugal, foi aluno de José Ricardo Freitas na Academia de Música José Atalaya e na ARTAVE, tendo concluído a licenciatura, com Nuno Pinto, na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto.
Carlos Ferreira acaba de lançar o seu primeiro álbum intitulado “XX-XXI”, com obras para clarinete e piano, em colaboração com o pianista e compositor Pedro Emanuel Pereira. Carlos Ferreira é Artista Buffet Crampon e Vandoren.
Programa
Wolfgang Amadeus Mozart
Concerto para Clarinete e Orquestra, em Lá maior, K. 622
1. Allegro
2. Adagio
3. Rondo: Allegro