Luigi Nono: Como una ola de fuerza y luz

Orquestra Gulbenkian / Hannu Lintu / Marisol Montalvo

A Orquestra Gulbenkian e a soprano Marisol Montalvo interpretam a obra Como una ola de fuerza y luz, de Luigi Nono, sob a direção de Hannu Lintu.
João Silva 06 dez 2024 31 min

O percurso de Luigi Nono marcou as vanguardas musicais do pós-Segunda Guerra Mundial. Incentivado pelo maestro e professor Hermann Scherchen e o colega e amigo Bruno Maderna, Nono frequentou os Cursos Internacionais de Verão de Darmstadt, onde desenvolveu o fascínio pelo serialismo múltiplo e pela música eletroacústica. Paralelamente, o seu empenho em causas políticas enformou grande parte da sua obra. Militante do Partido Comunista Italiano a partir de 1952, Nono entendia a música como uma forma de participação política e de transformação da sociedade. Nessa tarefa, levou as práticas sonoras contemporâneas a novos públicos, a partir de concertos e colóquios organizados em locais de trabalho.

Como una ola de fuerza y luz foi escrita em 1971 e estreada no Teatro alla Scala de Milão a 28 de junho de 1972. Claudio Abbado dirigiu o pianista Maurizio Pollini, com quem Nono desenvolveu uma relação criativa próxima, o soprano Slavka Taskova e a Orquestra do Teatro alla Scala. A banda magnética foi produzida por Maurizio Zuccheri nos estúdios da RAI de Milão, sob supervisão do compositor. Essa parte da obra consiste em gravações da voz e do piano trabalhadas eletronicamente. Nessa altura, Nono encontrava-se especialmente interessado nos movimentos de esquerda da América Latina, sobretudo a jovem democracia chilena liderada por Salvador Allende. A morte, em circunstâncias duvidosas, do jovem militante do Movimento de Esquerda Revolucionária, Luciano Cruz Aguayo, marcou Nono, que usou o poema Luciano, do jornalista e escritor argentino Julio Huasi. O texto glorifica a força e energia de Luciano, apresentando-o como exemplo de empenho na transformação do mundo.

Como una ola de fuerza y luz começa com a sobreposição de clusters orquestrais que preparam a entrada solitária da voz em tom de imprecação e lamento; segue-se uma passagem que alterna o registo cantado e o falado. Gestos percussivos do piano aproveitam a ressonância natural do instrumento com recurso ao pedal, aos quais se junta a banda magnética apresentando a gravação do piano, eletronicamente modificado. Intervenções curtas e violentas da orquestra, focadas nos instrumentos graves de bocal e nos contrabaixos, interagem com os pianos. O diálogo entre pianista e orquestra toma primazia, cedendo lugar à interação entre solista e banda magnética, numa sucessão ascendente de clusters. A reentrada do soprano faz-se num registo lírico, acompanhado pelo piano e banda magnética. As curtas intervenções pontilhísticas evocam inflexões angulares do serialismo múltiplo associado a Darmstadt. O soprano regressa com a curta imprecação “Luciano!” e retira-se, deixando a condução à fita magnética. O regresso da orquestra num registo grave, misterioso e percussivo, com polifonia horizontal, reforça o estatismo. Após uma passagem protagonizada pelas cordas, harpas e clarinetes, a entrada do piano faz-se com pontuações da orquestra. O bombo lança uma figuração ascendente sublinhada pelas ressonâncias do piano, que desemboca numa secção que explora, simultaneamente, os registos extremos, aproximando-se ao limiar da audibilidade humana, com especial destaque para os flautins. Um breve interlúdio eletrónico antecipa um tutti ressoante, baseado em curtas e marcadas intervenções em cluster. O caráter de lamento regressa com a fita magnética, em que a voz gravada é sobreposta e transformada, como se um coro de carpideiras chorasse a morte de Luciano Cruz Aguayo.


Intérpretes

  • Maestro
  • Soprano

Programa

Luigi Nono

Como una ola de fuerza y luz

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