Amadeo de Souza-Cardoso
Avant la corrida
Manhufe, Portugal, 1887 – Espinho, Portugal, 1918
Amadeo nasceu na quinta dos seus pais em Manhufe, no concelho de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Cresceu entre nove irmãos, no seio de uma família de abastados proprietários rurais. Passou a sua infância entre a casa de Manhufe e as estâncias de veraneio na praia de Espinho. Aí conheceu Manuel Laranjeira, cuja amizade foi determinante para incentivar a prática do desenho, que Amadeo desenvolveu depois em Lisboa, no âmbito dos estudos preparatórios de Arquitetura na Academia de Belas-Artes de Lisboa. Estávamos em 1905.
A viagem para Paris, em Novembro do ano seguinte, na companhia de Francisco Smith, não tinha data de regresso marcada. Financiado pelos pais, Amadeo instalou-se no Boulevard Montparnasse e tratou de preparar o concurso à École des Beaux Arts. Contudo, o ambiente parisiense reforçou a sua inclinação para o desenho e a caricatura, contribuindo para afastá-lo de vez do campo da Arquitetura. Particularmente influenciado pela ilustração que circulava na imprensa francesa, Amadeo não tardará a dedicar-se ao desenho e à pintura.
Os primeiros anos de estadia em Paris ficaram marcados pelo convívio com outros portugueses emigrados. O estúdio que alugou no 14, Cité Falguière converteu-se num espaço de tertúlias e boémia com a presença assídua de artistas como Manuel Bentes, Eduardo Viana (que o acompanhará em 1907 numa viajem à Bretanha), Emmérico Nunes, Domingos Rebelo e Smith. Este convívio regular não durou muito. O final de 1908 e o início do ano seguinte trazem importantes alterações à vida de Amadeo: conhece Lucia Pecetto (1890-1989), com quem casará em 1914, e começa a frequentar as classes da Academia Viti, do pintor espanhol Anglada-Camarasa (1871-1959). Muda então o seu atelier para a rue des Fleurus num espaço contíguo ao apartamento de Gertrude Stein. Estas alterações terão contribuído para distanciá-lo do circuito dos artistas portugueses. Mas esse afastamento voluntário parece traduzir, antes de mais, um corte de sentido plástico, uma vontade de romper com a “rotina atrasada” que lhes atribui. O nível de exigência e de comprometimento com o trabalho que já então ia produzindo remetem-no para uma esfera sem paralelo na pintura dos portugueses, porque Amadeo mergulha plenamente nas pesquisas do modernismo internacional em desenvolvimento em Paris. É nesse contexto de investigação formal que, em 1910, o veremos entusiasmado com as pinturas dos “primitivos” flamengos (numa estadia de três meses em Bruxelas). É neste período também que o veremos aprofundar a sua amizade com Amedeo Modigliani (1884-1920).
Em 1911, Amadeo muda outra vez de estúdio. Instala-se próximo do Quai d’Orsay, na rue du Colonel Combes. Em Outubro realiza neste espaço uma exposição com Modigliani. Esta não seria, contudo, a primeira exposição da sua obra. Alguns meses antes, Amadeo apresentara um conjunto de seis pinturas no Salon des Indépendants. Volta a expor neste Salão no ano seguinte e em 1914. De igual modo, mostra o seu trabalho no Salon d’Automne entre 1912 e 1914. Entretanto, o seu círculo de amizades e conhecimentos estende-se e internacionaliza-se. Conhece Umberto Boccioni (1882-1916), Gino Severini (1883-1966), e Walter Pach (1883-1958), que mais tarde o convidará a participar no Armory Show. Está também em contacto com Juan Gris (1887-1927), Max Jacob (1876-1944), Sonia e Robert Delaunay, Brancusi (1876-1957), Archipenko (1887-1964), Umberto Brunelleschi (1879-1947) e Diego Rivera (1886-1957), entre outros.
O interesse de Amadeo pelo desenho consolida-se neste período com a preparação do manuscrito ilustrado da Légende de Saint Julien l’Hospitalier* de Flaubert e pela publicação do álbum XX Dessins (reeditado pelo CAM em 1983) com prefácio de Jérôme Doucet, álbum que mereceria uma apreciação muito favorável do célebre crítico Louis Vauxcelles.
Amadeo esforçar-se-á também por mostrar a sua pintura fora do circuito parisiense. Os contactos que estabelece nestes anos permitir-lhe-ão participar numa série de importantes exposições de grupo, entre as quais a célebre Exposição Internacional de Arte Moderna de 1913, também conhecida como Armory Show, que mostraria pela primeira vez a moderna arte europeia nos EUA (Nova Iorque, Chicago e Boston). Amadeo apresenta um total de oito obras, ao lado de Braque (1882-1963), Matisse, Duchamp (1887-1968), Gleizes (1881-1953), Herbin e Segonzac (1884-1974). Três das suas telas foram compradas pelo colecionador de Chicago, Arthur J. Eddy, o qual, ao publicar Cubist and Post-Impressionism (1914), cita e reproduz algumas das obras do pintor português, destacando-o pelo seu colorido. Outros importantes contactos vão levá-lo à Alemanha. Em Setembro de 1913, já depois de outra mudança de estúdio (que o leva a instalar-se em Montparnasse, na rua Ernest Cresson), estará representado no I Herbstsalon de Berlim, organizado pela Galeria Der Sturm. Amadeo já havia trabalhado com esta galeria berlinense em Novembro de 1912, data em que pela primeira vez expôs no seu espaço. É muito provável que em 1914 tenha participado em mostras em Colónia e Hamburgo e é certo que em Abril desse mesmo ano enviou 3 trabalhos para a Royal Academy de Londres, tendo todavia a exposição sido cancelada com o deflagrar da Guerra.
Também em 1914, antes de deixar Paris para passar o Verão em Portugal, como era habitual, Amadeo volta a mudar de atelier para a Vila Louvat, no nº 38 bis da rua Boulard. Não chegou todavia a utilizar este espaço. Após uma breve passagem por Barcelona em que visita o seu amigo, escultor, León Solá, e conhecerá Gaudí, Amadeo regressa a Manhufe, onde será surpreendido pelo deflagrar da Guerra que o impedirá de regressar a Paris.
A estadia forçada de Amadeo em Portugal não foi sinónimo de apatia criativa. Se ainda em Paris a sua obra explorara os domínios da abstração e, depois, enveredara por vias de compromisso expressionismo, o exílio em Portugal acabará por constituir-se como um momento de plena maturação da sua pintura, que se aproximará então de muitas das questões equacionadas no domínio da colagem.
Em 1915, o isolamento de Amadeo em Amarante foi quebrado pelo contacto com Sonia e Robert Delaunay, que a Guerra fizera também, inesperadamente, aportar a Vila do Conde. Por esta via, o círculo das suas relações recupera Eduardo Viana e alarga-se a Almada Negreiros. No seio deste núcleo de amizades geram-se diversos projetos, nomeadamente a criação de uma Corporation Nouvelle destinada a promover exposições internacionais itinerantes, ideia que nunca chegou a concretizar-se. Entretanto, através de Almada, Amadeo entra em contacto com o grupo dos “Futuristas” lisboetas, reunidos inicialmente em torno da revista Orpheu.
Na batalha pela agitação do meio artístico português, Amadeo teve um papel discreto mas relevante. No final de 1916, numa conhecida entrevista que deu ao jornal O Dia, parafraseia largamente os manifestos de Marinetti. Não que as propostas do Futurismo o cativassem enquanto solução formal. A postura radical e modernista com que o movimento era identificada em Portugal, convinha todavia a Amadeo como forma de intervenção e motor de rutura com as estruturas tradicionalistas dominantes, que o haviam atacado por ocasião das suas duas únicas exposições realizadas em vida em Portugal.
Em Dezembro de 1916, Amadeo promoveu, primeiro no Porto e depois em Lisboa, uma mostra em que reuniu sob o título de Abstraccionismo 114 pinturas. O desfasamento da cultura estética nacional impediu uma receção favorável das propostas pictóricas de Amadeo, ganhando os certames uma aura de escândalo (coroada no limite pela agressão física ao pintor). Neste contexto importa destacar o protagonismo de Almada Negreiros e Fernando Pessoa na sua defesa pública. Ambos o reconheceram como o pintor mais significativo do seu tempo. Mas não deixaram de ser manifestações excêntricas e isoladas.
Amadeo morreu em Espinho em Outubro de 1918, vítima da epidemia de pneumónica que deflagrou nesse ano. Tinha apenas 30 anos.
Joana Cunha Leal
Maio de 2010
* O manuscrito faz parte da coleção do CAM. Em 2006, por ocasião da exposição Amadeo de Souza-Cardoso – Diálogo de Vanguardas, o CAM e Assírio & Alvim editaram uma edição facsimilada, sob o título A Lenda de São Julião Hospitaleiro.
Avant la corrida
sem título
Título desconhecido (Coty)
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Vida dos Instrumentos
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LE MOULIN (Desenho nº15 para o álbum ” XX DESSINS” )
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Título desconhecido (Azenha)
LE TIGRE (Desenho original para o album XX DESSINS,1912)
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Ar livre – nú
Título desconhecido
SEM TÍTULO (ESTUDO PARA A PINTURA ”GALGOS”)
Sem título
LES CHEVAUX DU SULTAN (Desenho nº 19 para o álbum “XX DESSINS”)
Sem título
Título desconhecido (Clown, Cavalo, Salamandra)
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Gemälde G / Quadro G
Sem título
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ÉTUDE DU NU (Desenho Nº 8 para o álbum “XX Dessins”)
Título desconhecido
Título desconhecido
TÊTE
Título desconhecido (Estudo para «Expositions Mouvantes da Corporation Nouvelle»)
Sem título
Título desconhecido
Título desconhecido
Frontespício e Data para o Album XX Dessins
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Título desconhecido (O jockey)
LA DÉTENTE DU CERF (Desenho original para o album XX DESSINS, nº 14,1912)
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LE BAIN DES SORCIÉRES (Desenho nº 10 para o álbum “XX Dessins”)
Título desconhecido
Título desconhecido
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Brazões das cidades de Nantes e Angers
Sem título
Título desconhecido
Oceano vermelhão azul cabeça AZUL (continuidades simbólicas) Rouge bleu vert
Título desconhecido (Castelo)
LES CHEVAUX DU ROI (Desenho original para o album XX DESSINS, nº 13)
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MULHER DECEPADA BRISEMENT DE LA GRÂCE CROISÉE DE VIOLENCE NOUVELLE
Título desconhecido
Título desconhecido (Máquina registadora)
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Título desconhecido
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Título desconhecido (Entrada)
Título desconhecido (Cabeça)
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RETRATO PAYSAGEM
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Título desconhecido (Montanhas)
Mucha
Armes de Bretagne
Sem título (Estudo de pormenor para a pintura “Galgos”)
CRISTAL PARTIDO CORAÇÃO DIAMANTE
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Brazões das cidades de Rennes e Saint – Malo
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Título desconhecido (Bellevue)
Título desconhecido
Brasões das cidades de Castres e Nimes
31 DRAGONS cavallerie
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Título desconhecido
Título desconhecido
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Brazões das cidades de Bordeaux, Montauban e Agen
Canção d’Açude – Poema em Cor
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“L’ Athlète”
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Título desconhecido (Barcos)
Título desconhecido
Brasões das cidades de Draguignan e Toulon
Tête OCEAN
Sem título
Título desconhecido
Sem título
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Brazões das cidades de Beziers e Alby
Título desconhecido (estudo para «Expositions Mouvantes da Corporation Nouvelle»)
Sem título
Brazões da cidades de Vannes e Lorient
Título desconhecido
sem título ( Mãe e filha) Estudo para desenho do album XX DESSINS, Nº 5
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Frontispício (não utilizado) para “La Légende de Saint Julien L´Hospitalier” de Gustave Flaubert
Brazões das cidades de Pau, Bayonne e Tarbes
Étude B / Estudo B
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Brazões das cidades de Montpellier e Narbonne
Brazões das cidades de Saint-Brieuc e Quimper
Le Prince et la Meute [O Princípe e a Matilha]
L’ATHLÉTE (Desenho nº 6 para o álbum “XX DESSINS” )
Gustave Flaubert – La Légende de Saint Julien L’Hospitalier
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Casa rustica
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Retrato de Eduardo Viana
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Título desconhecido (BRUT 300 TSF)
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Título desconhecido
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Procession Corpus Christi / Procissão Corpus Christi
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Título desconhecido
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Força amor raiva
(Janellas do pescador)
Título desconhecido
LE TOURNOI (Desenho nº 17 para o álbum ” XX DESSINS” )
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Lévriers / Os Galgos
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La forêt merveilleuse (Desenho nº 2 para o álbum XX DESSINS)
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Título desconhecido
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Natureza viva dos objectos
A casita clara – paysagem
Título desconhecido
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Retrato do Dr. Pallazzoli
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LA TOURMENTE (Desenho original para o album XX DESSINS,1912)
LITORAL cabeça
Brazões das cidades de Saummur e Laval
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Título desconhecido
Sem título
Título desconhecido
A chalupa
Título desconhecido (Natureza morta)
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(Cavaleiros)
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Brazões das cidades de Toulouse, Auch e Mont-de-Marsan
Título desconhecido
BLOCO DE ESBOÇOS (24 FOLHAS)
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Título desconhecido
Cosinha da Casa de Manhufe
(D. Quixote)
Brazões das cidades de Arles e Marseille
Título desconhecido
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Ex – Libris
Título desconhecido
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Paysagem – figura negra
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Brazões das cidades de Uzes e Aix
Trou de la serrure PARTO DA VIOLA Bon ménage Fraise avant garde
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ÈCOLIER (dessin)
Janellas e postigos
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Canção popular – a Russa e o Figaro
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