Com a notícia do começo da Grande Guerra, Amadeo recolhe-se entre as montanhas de Manhufe, na casa familiar cujo difícil acesso o abençoa com a possibilidade de trabalho desenfreado. Vive os anos seguintes em clima de afinidade criativa com os amigos Robert e Sonia Delaunay, exilados em Vila do Conde, e com Eduardo Viana, animados pelo vibrante multicolor da arte popular, em quadros que têm muitas vezes por tema os próprios objectos artesanais do Minho, revitalizando a iconografia e o brando colorido do Cubismo.
Entre 1915 e 1916, Amadeo pintou uma série de janelas isoladas, inspiradas nas casas populares locais, em motivos similares aos discos-alvos do casal Delaunay. Esta recriação pictórica das janelas seria recorrente nas suas composições dos anos seguintes, feitas de esquadrias que nunca são simétricas e delimitam campos de cores ácidas (azuis, roxos, amarelos) com molduras contrastantes (pretas, laranjas, verdes). Nunca se vê nada através das janelas de Amadeo, pois estas haviam alcançado um valor abstracto próprio, à medida que a sua pintura procurava ser mais directa e imediata, renunciando a qualquer ilusão de tridimensionalidade para poder afirmar a sua superfície pictórica – efeito para o qual foi também decisivo ter começado a juntar verniz aos seus óleos, destacando mais vividamente o brilho e o contraste das suas áreas de cor.
AR
Março 2011