• 1911
  • Óleo sobre tela
  • Inv. 77P154

Amadeo de Souza-Cardoso

Título desconhecido (Castelo)

Em 1912, ano em que copia e ilustra La Légende de Saint Julier L’Hospitalier [A Lenda de São Julião Hospitaleiro] de Gustave Flaubert, Amadeo de Souza-Cardoso estava profundamente envolvido no imaginário medieval. É desse período que datam Le Prince et la Meute [O príncipe e a matilha], exposto no Armory Show em 1913, outros castelos, como o Ex-libris do álbum XX Dessins, e Stronghold/Chateau fort (Fortaleza) — exposto e vendido no Armory Show, tendo integrado a coleção de Arthur Jerome Eddy que atualmente pertence ao The Art Institute of Chicago —, além de uma série de brasões de cidades francesas, como Armes de Bretagne, Brazões das Cidades de Rennes e de Saint-Malo, de Bordeaux, Montauban e Agen, de Beziers e Albi, de Montpellier e Narbonne, entre outras.

Enquanto, em Stronghold, Amadeo pinta o castelo visto de cima, tornando o espaço mais acessível ao observador, o castelo da coleção do CAM surge mais distante, mas não deixa de convidar a um percurso ziguezagueante até à entrada. Aparentemente mais luminoso, com tons mais quentes do que o castelo do The Art Institute of Chicago, que é praticamente todo azul, o céu escuro introduz uma nota dissonante, talvez o prelúdio de uma tempestade.   

Estas obras estão ligadas à sua admiração pela arte medieval e pelos pintores «primitivos» que marcaram a sua viagem a Bruxelas em 1910, quando o artista confessou numa carta ao tio:

«Passo os meus dias com alguns pintores primitivos que são os meus idolos. A eles devo grande parte da grande evolução que tem atravessado o meu espirito. Converso com elles manhãs inteiras e elles me dizem grandes coisas que eu escuto sedento. Essas grandes almas antigas absorvem hoje a maior admiração da minha alma.»[1]

Amadeo assumiu aqui o forte impacto da arte medieval, fenómeno perfeitamente enquadrado no ímpeto primitivista muito marcado pelo regresso às origens e que teve várias declinações, englobando a arte pré-renascentista, artes africanas, orientais, aborígenes, a arte naïf, a arte popular europeia ou mesmo o desenho infantil. Estes estímulos — que frequentemente se articulam com questões coloniais, de classe ou de género — foram apropriados por vários artistas do século XX, tendo em vista o combate ao academismo e a renovação da arte.[2]

Por um lado, os castelos de Amadeo recuam tematicamente à cronologia medieval. Por outro lado, o seu modo de representação altamente estilizado e destorcido aproxima-se da ilustração, da arte naïf, ou, talvez, do desenho infantil, tão evidente nas pequenas árvores à entrada das muralhas.  Amadeo, como muitos modernistas, apreciava a pintura naïf de Henri Rousseau, tendo adquirido um exemplar de Henri Rousseau et les primitifs modernes, de Wilhelm Uhde[3]. Já a ligação do artista português ao desenho infantil, que tanto interessava a Kandinsky e a Klee, não está documentada.

 

Marta Soares


[1] Amadeo de Souza-Cardoso, Carta a Francisco Cardoso, Domingo 6, 1910, publicada em Fernando de Pamplona, Chave da Pintura de Amadeo: As ideias estéticas de Sousa-Cardoso através das suas cartas inéditas, Lisboa: Guimarães Editores, 1983, pp. 56-57.

[2] Ver Mark Antliff e Patricia Leighten, “Primitive”, in Robert S. Nelson & Richard Shiff (eds.), Critical Terms for Art History, Chicago: University of Chicago Press, 2003, pp. 217-233.

[3] Catarina Alfaro, “Fotobiografia”, in Helena de Freitas (coord.), Amadeo de Souza-Cardoso. Catálogo Raisonné: Fotobiografia, Lisboa: CAMJAP – Fundação Calouste Gulbenkian; Assírio & Alvim, 2007, p. 141.

TipoValorUnidadesParte
Altura50cm
Largura61cm
Tipo assinado
Texto''A. DE Souza Cardoso''
PosiçãoCanto inferior direito
TipoAquisição
Data1977
Amadeo de Souza-Cardoso, 1887-1918
Lisboa, Artis, 1960
Monografia
Artistas modernos portugueses na II Bienal do Museu de Arte de S. Paulo
Lisboa, SNI, 1953
Catálogo
amadeo de souza-cardoso
Lisboa, SNI, 1959
Catálogo
Os pioneiros do modernismo
Macau, Leal Senado de Macau, 1987
Catálogo
Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa, 1910-1940
Kilchberg, Stemmle, 1997
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso: um pioneiro do Modernismo em Portugal
Lisboa, Museu do Chiado, 2001
Catálogo
1887-1987 centenário do nascimento de amadeo de souza cardoso
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987
Catálogo
História da arte em Portugal: Pioneiros da modernidade. Vol. 12
Lisboa, Alfa, 1988
Monografia
História da Arte Portuguesa: Do Barroco à Contemporaneidade. Vol. III
Lisboa, Círculo de Leitores, 1995
Monografia
Amadeo de Souza-Cardoso: diálogo de vanguardas
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Assírio & Alvim, 2006
Catálogo
Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918): Ein pionier aus Portugal
Hamburg, Ernst Barlach Haus, 2007
Catálogo
Artistas modernos portugueses na II Bienal do Museu de Arte de S. Paulo
Dezembro de 1953 a Fevereiro de 1954
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Exibiu 3 obras de Amadeo.
Os pioneiros do modernismo
27 de Dezembro de 1986 a 20 de Janeiro de 1987
Leal Senado, Museu Luís de Camões
Exibiu 5 obras de Amadeo.
amadeo de souza-cardoso
Paulo Ferreira
Maio de 1959
Secretariado Nacional de Informação - Palácio Foz
Junho de 1959
Museu Nacional Soares dos Reis
Exibiu 172 obras de Amadeo, não estando todas identificadas.
Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa, 1910 -1940
18 de Dezembro de 1997 a 12 de Fevereiro de 1998
Centro Cultural de Belém
20 de Setembro a 30 de Novembro de 1997
Schirn Kunsthalle
Exibiu 15 obras de Amadeo.
Amadeo de Souza - Cardoso: um pioneiro do Modernismo em Portugal
27 de Outubro a 18 de Novembro de 2001
Museu Estatal Pushkin de Belas Artes
Exibiu 15 obras de Amadeo.
1887-1987 centenário do nascimento de amadeo de souza cardoso
Fundação Calouste Gulbenkian
Curadoria: Fundação Calouste Gulbenkian
20 de Julho de 1987 a 31 de Outubro de 1987
Fundação Calouste Gulbenkian
Exposição realizada no âmbito do centenário do nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso.
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
Obras de Amadeo que fazem parte da colecção do CAM, presentes na exposição permanente.
Amadeo de Souza-Cardoso: diálogo de vanguardas
Curadoria: FREITAS, Helena de
15 de Novembro de 2006 a 15 de Janeiro de 2007
Fundação Calouste Gulbenkian
Integra 193 obras de Amadeo e 77 obras de artistas internacionais.
Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918): Ein pionier aus Portugal
2 de Dezembro de 2007 a 30 Março de 2008
Ernst Barlach Haus
Apresentou 66 obras de Amadeo.
Atualização em 05 abril 2024

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