Inacabada é a tradução do De Re Rustica de Lucius Junius Moderatus Columella (Gades, Bética, 4 d.C. – Tarento, ca. 70 d.C.), que neste volume se edita e estuda. Bruscamente interrompida em estado de rascunho, no capítulo nove do livro III dos doze livros da obra romana, a tradução ficou preservada na Biblioteca Nacional de França, em cópia única de datação incerta (BNF: Fond Portugais, ms. 12). Encontra-se numa miscelânea manuscrita com outras obras por ultimar, papéis derradeiros, reunidos em circunstâncias obscuras, após o desaparecimento do autor, nos anos conturbados que se seguiram à morte de D. Sebastião.

Contraponto da inquieta existência de Fernando Oliveira (1507-1581?), marcada pelas viagens por Espanha (1531-2), Itália, França (1541-3), Inglaterra (1545-6) e o Norte de África (1552), e pelos processos inquisitoriais a que foi sujeito (1547-50; e 1555-57), o Columela lusitano situa o piloto em terra pátria, transformado em diligente lavrador, que verifica os campos de centeio de Lamego e discute e compulsa o autor romano com os agricultores conterrâneos, como revelam as singulares anotações apostas à sua tradução.

Posterior a 1555 terá sido a decisão de traduzir a obra latina. A preservação no volume miscelâneo, juntamente com outros rascunhos de obras historiográficas, que nos situam no tempo da união dinástica, sugere que a tradução terá sido elaborada e deixada por terminar nas últimas décadas da intensa existência do autor.

Inserido no contexto da Obra Completa de Fernando Oliveira, este volume apresenta ao público o lado porventura menos conhecido do poliédrico autor quinhentista, o de latinista e de tradutor.

(Da introdução de Ana María S. Tarrío)