Fragmentos

seguido de Sobre a Incompreensibilidade – Friedrich Schlegel

Foi longa, e não menos complexa, a recepção dos Fragmentos Críticos de Friedrich Schlegel, desde a sua primeira publicação em 1797, e dos Fragmentos, um ano depois, na revista Athenäum, o principal centro do chamado Primeiro Romantismo Alemão. Não demorou muito até serem apropriados pela mesma história da (teoria da) literatura, da filosofia ou da arte que, na sua origem, pretendiam subverter ou revolucionar. Com o passar do tempo, uma sucessão ininterrupta de estudos enciclopédicos tornou inevitável a sua canonização.

Ao seu valor representativo, historiográfico, seguiu-se, a longo termo, a fixação do seu valor de uso: muitos desses fragmentos passaram a ser moeda corrente em colectâneas e antologias de citações, por anteciparem algumas das ideias e transformações decisivas que viriam a ocorrer na arte e na literatura dos séculos XIX e XX. São muitos os exemplos: o princípio de sinestesia, fusão e mistura de todos os géneros poéticos e domínios da arte; a unificação e a determinação recíprocas das artes e das ciências, da poesia e da filosofia, da arte e da religião; a autodeterminação da história; a absolutização do estético, do poético ou do literário; a teoria da ironia; a fusão da crítica e da poesia; o romance como obra de arte total, etc.

Muitas dessas formulações, aparentemente intemporais e resistentes a qualquer contingência exterior, pagaram cara a sua audácia, quer pelo escárnio de que foram alvo, quer pelo valor de culto que conquistaram mais tarde. O seu magnetismo e a sua reprodução incessante, muitas vezes ilustrativa ou aleatória, fizeram delas a fonte de todos os equívocos a propósito de todo o «Romantismo», e criaram as condições de vulnerabilidade e da sua apropriação, legítima ou ilegítima. Na verdade, poucos géneros são tão falíveis e propícios à mais simples banalização como um fragmento, que, na sua própria ambição de se construir como uma unidade fechada em si mesma – um ouriço, um projecto, uma relíquia –, se encontra inteiramente exposto ao risco iminente que faz dele o exemplo apenas de si próprio, e assim o deixa desamparado face aos seus intérpretes.

(Da Apresentação de Bruno C. Duarte)


Ficha técnica

Outras Responsabilidades:

Apresentação, tradução e notas: Bruno C. Duarte

Idioma:
Português
Editado:
Lisboa, 2020
Entidade
Fundação Calouste Gulbenkian
Dimensões:
140 x 220 mm
Capa:
Encadernado
Páginas:
390
ISBN:
978-972-31-1630-4
Atualização em 19 fevereiro 2024

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