José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno
Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.
José de Almada Negreiros, conferência O Desenho, Madrid, 1927
Em 1873, o poeta Rimbaud dera o mote: «Há que ser absolutamente moderno». Almada Negreiros (1893-1970) leva-o à letra ao recusar entender o modernismo como uma moda, segundo a qual bastaria vestir os estereótipos da representação (e depois da abstração). Para ele, o modernismo seria antes a afirmação de uma condição autónoma do artista, ao qual atribuía a responsabilidade, não de pertencer à modernidade, mas de a fazer acontecer.
Almada catalisou a vanguarda artística dos anos 1910 e afirmou uma presença forte na arte ao longo do século XX. Com uma obra vasta e diversificada, manteve, no entanto, temas recorrentes, bem como uma constante intervenção pública, através de conferências que prolongaram a ação provocadora dos manifestos que escreveu no início do século XX e nas quais não cessou de equacionar o papel do artista, da arte e a definição de moderno. A sua conceção alargada de arte e artista, a pulsão autodidata e as circunstâncias da sua época levaram-no a trabalhar nas mais variadas linguagens e suportes artísticos, absorvendo e reinterpretando diferentes estímulos. A obra de Almada mostra a condição complexa, experimental, contraditória e híbrida da modernidade.
A exposição organiza-se em sete núcleos na Galeria Principal e um outro na Galeria do Piso Inferior que convidam a um percurso por temas-chave na obra do artista. São núcleos fluidos e comunicantes que, se ajudam a estabelecer uma ordem visual, não têm porém a pretensão de a conter.
Curadoria: Mariana Pinto dos Santos com Ana Vasconcelos
Ver
Almada Negreiros privilegiava o sentido da visão sobre todos os outros, entendendo-o como raiz de toda a arte e pensamento.
«Os meus olhos não são meus, são os olhos do nosso século!»
Almada explorou continuamente o autorretrato, pondo especial ênfase na representação dos seus olhos, que foram também referência central na sua escrita.
Gestos | movimentos | rostos
Em várias reflexões artísticas e políticas transmitidas em conferências e ensaios, Almada defende que a universalidade humana e a vida coletiva dependem do reconhecimento do particular de cada um.
Saltimbancos
O circo foi tema particularmente caro aos artistas desde o início do século XX, tanto na escrita como na pintura. Os saltimbancos eram figuras pobres, nómadas, populares, à margem da sociedade, e tinham por missão o seu entretenimento, mas também a sua caricatura.
Per formare
Almada Negreiros foi visto como um artista performer (do latim per formare, dar forma) por gerações posteriores, que nele encontraram um antecedente da forma artística efémera que a partir dos anos 1960 foi praticada pelas chamadas neovanguardas e que pressupunha que o processo artístico fosse ele próprio a ação que enunciava, sem obra final: a «performance».
Relações recíprocas
A ideia de colaboração artística era cara a Almada Negreiros, ao contrário da ideia de grupo. Em 1965 escreveu, em relação ao «Orpheu», que os seus protagonistas se juntaram pela «Arte» e não por terem semelhanças entre si.
Espaço público | espaço privado
Na ausência de galerias, marchands ou mercado de arte, Almada, tal como outros artistas, trabalhou desde cedo sob encomenda, como aconteceu, por exemplo, com a Alfaiataria Cunha, o café A Brasileira do Chiado, o Bristol Club, ou com desenhos, grafismos e ilustrações para jornais, livros, capas ou cartazes.
Cinema, humor e narrativa gráfica
A relação de Almada Negreiros com o cinema atravessa a sua vida, enquanto espectador e artista.
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