Exposição individual de fotografia de Gérard Castello-Lopes (1925-2011), integrada no ciclo de exposições «Fotografia como Arte/Fotografia como Suporte», programada pelo Centro de Arte Moderna (CAM) em colaboração com o Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

Alertando para as «violentas querelas» em torno da fotografia, que acabaram por confirmar o seu estatuto artístico, o diretor do CAM, José Sommer Ribeiro, justificava a pertinência destes eventos levados a público da seguinte forma: «Ao programar […] o Ciclo de Exposições “Fotografia como Arte/Fotografia como Suporte”, o Centro de Arte Moderna pretendeu não só mostrar as tendências da fotografia portuguesa dos nossos dias, como a fotografia “servidora de alguns pintores portugueses”.» (Fotografias de Gérard Castello Lopes. Insignificâncias, 1986)

Numa nota interna dirigida a José de Azeredo Perdigão, presidente da FCG, o diretor do CAM seria ainda mais assertivo relativamente ao intuito deste ciclo: «A fotografia tem sido, no nosso país, um tanto ou quanto esquecida e penso que cabe a este Centro dar-lhe o impulso que ela merece.» (Apontamento do Centro de Arte Moderna, 13 out. 1986, Arquivos Gulbenkian, CAM 00128)

O presidente da FCG deu o seu acordo perante os argumentos apresentados, não deixando, contudo, de se mostrar reticente relativamente à escolha do título atribuído ao ciclo sugerindo encontrar-se «para a exposição uma denominação genérica em substituição da “fotografia como arte/fotografia como suporte”. A segunda parte da denominação proposta retira à fotografia como suporte todo o seu conteúdo artístico que manifestamente tem, ou deve ter, para que tenha lugar uma exposição de arte» (Apontamento enviado por José Sommer Ribeiro a José de Azeredo Perdigão. Despacho do presidente., 13 out. 1986, Arquivos Gulbenkian, CAM 00128)

Contudo, seria justamente essa ambivalência a questão central que se procuraria desenvolver a partir destas iniciativas. Seria, então, a partir desta exposição de Gérard Castello-Lopes, fotógrafo com uma já longa carreira, que se daria início a este ciclo expositivo, que previa igualmente a apresentação de exposições individuais de outros artistas relacionados com a prática fotográfica, tais como Cruz Filipe, Jorge Molder, Manuel Magalhães, Eduardo Nery e Helena Almeida.

A mostra contou com um conjunto de 27 fotografias, realizadas entre os anos de 1956 e 1986, elucidativas da marca pessoal do seu autor, das suas opções estéticas e disciplinares.

Além de boas reproduções fotográficas, o catálogo da exposição apresenta um elucidativo texto sobre a obra de Castello-Lopes e ainda uma sugestão para a leitura das obras, segundo a interpretação do professor e filósofo Fernando Gil (Fotografias de Gérard Castello Lopes. Insignificâncias, 1986).

Complementarmente a este ciclo de exposições subordinadas à fotografia e ao suporte fotográfico, foi organizada uma mesa-redonda, que contou com a participação de Gérard Castello-Lopes, Cruz Filipe, José Afonso Furtado, Fernando Gil, Emídio Rosa Oliveira, Jorge Molder, António Sena da Silva e António Sena. A comunicação de Castello-Lopes foi integralmente publicada na revista Colóquio/Artes (Castello-Lopes, Colóquio/Artes, mar. 1987, pp. 34-41). Nela, o fotógrafo discorre sobre a ambiguidade intrínseca da fotografia – enquanto arte e enquanto suporte: «um pouco como estar, simultaneamente, dentro e fora da caverna de Platão» (ibid., p. 39).

Ainda no âmbito desta exposição foram adquiridas, para «atualização do acervo» três fotografias que estiveram em exposição: Chateau d’Ayres (1967), Inv. 87FP259; Dafundo (1956), Inv. 87FP260; Escócia (1985), Inv. 87FP261 (Gérard Castello-Lopes, Dossiê de artista – Museu Calouste Gulbenkian/Col. Moderna).

Filipa Coimbra, 2017