Terceira exposição do ciclo «Fotografia como Arte/Fotografia como Suporte», que decorreu no Centro de Arte Moderna (CAM) entre outubro de 1986 e maio de 1987. Antecedida por «Gérard Castello Lopes. Insignificâncias» e «Cruz Filipe. Pintura», a esta exposição seguiram-se «Helena Almeida: Frisos», «Fotografias de Manuel Magalhães» e «Eduardo Nery. A Verdade da Ilusão».

Paralelamente às mostras e respetivas visitas guiadas, foram ainda organizados, com a colaboração do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE), dois colóquios para reflexão e debate sobre questões levantadas pela prática da fotografia na contemporaneidade. A complexidade e abrangência do tema é de imediato evidente se olharmos para os artistas selecionados: três pintores que fazem usos distintos da fotografia e três fotógrafos, um do nu feminino, outro de rua ou do «momento decisivo»; e um outro de ficções, que iniciava então a sua incursão pelo autorretrato. As exposições foram programadas apresentando de forma alternada os trabalhos dos fotógrafos e pintores selecionados.

Nesta exposição, Jorge Molder (1947) expôs uma série de autorretratos de 1983 e 1986, género que acabaria por imperar no seu corpo de trabalho.

Todas as fotografias apresentadas tinham como título nomes de lugares – Atenas, Lisboa, Porto, Vigo, Vale de Janelas, Veneza, Queluz –, mas curiosamente, salvo raríssimas exceções, não mostravam elementos identitários desses sítios. Contudo, através desta particularidade, era estabelecida uma relação entre as imagens, formando-se um conjunto de elementos distintos, mas de igual relevância. João Miguel Fernandes Jorge considerou-o um «corpo de auto-retratos», «momentos portadores da sua própria experiência do mundo» (Fotografias de Jorge Molder, 1987). Imagens desfocadas, arrastadas, vultos, conviviam com outras de grande precisão, de uma nitidez quase desconcertante. Esta combinação provocava uma sensação de oscilação entre sonho e realidade, entre mundo sensível e uma multiplicidade de realidades invisíveis. Com esta exposição, Molder subvertia a ideia convencional de imagem fotográfica enquanto reprodução exata da realidade, apresentando-a como registo de visões, memórias, imaginações.

Depois de ter sido apresentada na Sala de Exposições Temporárias do CAM, esta seleção de fotografias integrou, a par das obras de Cruz Filipe (1934) e das fotografias de Gérard Castello-Lopes (1925-2011), o «Ciclo de Fotografia Portuguesa Contemporânea (Segunda Parte)», no Museu Luís de Camões – Galeria de Exposições do Leal Senado (Macau), em 1988.

Mariana Roquette Teixeira, 2017