Exposição dos pintores portugueses Eduardo Nery (1938-2013) e Noronha da Costa (1942), organizada pelo Centre Culturel Portugais (CCP), no âmbito das manifestações artísticas relacionadas com a «VIII Bienal de Paris» (1973).

A solicitação surgiu por parte da organização da «VIII Bienal de Paris», que dirigiu uma carta para o diretor do CCP sugerindo a apresentação de uma «exposição colectiva ou individual de jovens artistas, entre os 20 e os 35 anos», a organizar pela Fundação Calouste Gulbenkian na sua delegação de Paris, à semelhança de outras galerias e instituições culturais, com o objetivo de dar maior destaque ao acontecimento internacional (Carta de Marie-Claude Volfin para José de Pina Martins, 24 abr. 1973, Arquivos Gulbenkian, SEM 00037).

O assunto foi considerado pelo Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), uma vez que os candidatos anteriormente propostos por José Sommer Ribeiro e José-Augusto França à secção de artes plásticas acabaram por não ser selecionados pela Comissão Internacional da referida Bienal, num ano em que a participação por países havia sido abolida. Na opinião do diretor do Serviço de Exposições e Museografia, José Sommer Ribeiro, «seria importante e de justiça que a obra desses dois pintores fosse mostrada nessa ocasião em Paris» (Apontamento do Serviço de Exposições e Museografia, 2 mai. 1973, Arquivos Gulbenkian, SEM 00037).

Decidida a sua realização, a organização da exposição contou com a colaboração de diversos serviços da FCG, tais como o Serviço Internacional e o Serviço de Exposições e Museografia. Foi comissariada pelo então diretor do CCP, José Pina Martins, e contou com projeto museográfico de Sommer Ribeiro. Na antiga residência de Calouste S. Gulbenkian em Paris e, à época, sede da delegação da FCG, foram apresentadas 18 obras de cada artista. O catálogo da exposição conjunta destes dois artistas apresentou-se num fomato inovador, com projeto gráfico da autoria de Victor Manaças, constituído por duas separatas independentes, mas agregadas sob uma mesma capa.

Nas palavras de Egídio Álvaro, «Nery est un cas isolé (même s’il n’est pas unique) dans la jeune peinture portugaise. La rigueur de sa démarche, qui le mène de l’Op art à une nouvelle figuration sans parallèle dans la peinture européenne, le dualisme obsessionnel entre une théorie sans faille et une pratique exigeante, ne se soumettant pas aux impératifs de circonstance, l’expérimentation permanente et le désir de toujours dépasser la solution en voie d’épuisement l’ont progressivement éloigné de tout ce qui avait été proposé auparavant» (Eduardo Nery, Noronha da Costa, 1973). Já Eduardo Lourenço, no seu ensaio para o catálogo, fará referência à originalidade do espaço imaginário de Noronha da Costa, que não corresponde a um espaço do inconsciente, em sentido psicanalítico ou surrealista, mas a um lugar onde «affleurent avec la présence des choses visibles, les concrétions pures de temps multiples» (Eduardo Nery, Noronha da Costa, 1973).

Esta exposição tinha como objetivo mostrar o percurso de jovens artistas portugueses, atentos à evolução interna da pintura, cada qual reconhecido nacionalmente pelo interesse do seus percursos individuais. A decorrer durante a Bienal, e a ela em parte vinculado, este evento procurava também concorrer para a divulgação destes artistas e da arte portuguesa além-fronteiras, no sentido da sua internacionalização.

Em carta para José de Pina Martins, é referida a pouca cobertura jornalística que a inauguração da exposição teve na imprensa escrita francesa, atribuindo-se a ausência de críticos de arte ao facto de não ter sido oferecida qualquer receção (Ofício Interno, 5 nov. 1973, Arquivos Gulbenkian, SEM 00037). Contudo, ao longo do período em que esteve em exibição, a exposição acabou por ter uma importante cobertura nacional e internacional.

Filipa Coimbra, 2016