Apparitions. La Photographie de Gérard Castello-Lopes, 1956 – 2006

Exposição retrospetiva da obra de Gérard Castello-Lopes (1925-2011), coorganizada pela Fundação Calouste Gulbenkian e o BESart. Comissariada por Jorge Calado, a mostra apresentou uma nova interpretação da obra do fotógrafo, baseada não em relações temporais, mas em aspetos estéticos e temáticos, revelando tendências no seu modo de olhar.
Retrospective exhibition of the work of Gérard Castello-Lopes (1925-2011) organised by the Calouste Gulbenkian Foundation together with BESart. Curated by Jorge Calado, the show included a new interpretation of the photographer’s work based on aesthetic and thematic features rather than chronology, revealing patterns in the artist’s way of seeing.

Exposição retrospetiva da obra fotográfica de Gérard Castello-Lopes (1925-2011). Comissariada por Jorge Calado, esta mostra foi coorganizada pela Fundação Calouste Gulbenkian e o BESart com o objetivo de homenagear o fotógrafo português, então recentemente falecido. Depois de apresentada no espaço BES Arte & Finança, em Lisboa, a exposição viajou para Paris, ocupando a sala de exposições da Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France.

Uma relação de forte amizade e admiração pessoal e profissional entre Castello-Lopes e Calado terá motivado o convite feito a este último, por indicação de Danièle Castello-Lopes (mulher do fotógrafo), para comissariar esta exposição-homenagem, e terá inevitavelmente norteado o projeto curatorial apresentado. Esta ideia é reforçada pelo texto que Jorge Calado escreve para o catálogo, no qual conta: «Tive a sorte de conhecer e admirar Gérard Castello-Lopes. Ao longo de mais de três décadas encontrámo-nos […], discutimos o carácter da fotografia e o estado do mundo […]. O meu súbito interesse pela fotografia […], no final dos anos 1970, coincidiu com o encontro com Gérard. […] Senti que não podia recusar o convite para comissariar a exposição de homenagem.» (Gérard Castello-Lopes 1956-2006. Aparições. Apparitions, 2011, pp. 19-20)

Jorge Calado procurou manter-se fiel à vontade do artista, no que diz respeito à escolha das imagens fotográficas. Neste processo complexo de seleção, com base em anteriores escolhas do fotógrafo, o curador contou com o apoio e aprovação da família. A mulher e os filhos de Castello-Lopes colaboraram, assim, não só através do empréstimo de grande parte das fotografias expostas, algumas inéditas, o que reforçava o título da mostra – «Aparições» –, mas também através de testemunhos e informações sobre as fotografias e circunstâncias em que foram captadas.

Ao olhar retrospetivamente para o trabalho intimista que a mostra envolveu, Calado conclui: «Pensar esta exposição através da mulher e dos filhos, foi travar uma discussão mental com Gérard Castello-Lopes. O meu desgosto é não o ter ao meu lado, para o poder convencer da bondade das minhas decisões.» (Gérard Castello-Lopes 1956-2006. Aparições. Apparitions, 2011, p. 23)

De facto, a marca do curador fazia-se sentir numa série de opções que nem sempre iam ao encontro daquilo que Castello-Lopes defendera. A exposição e respetivo catálogo assentavam num novo olhar sobre a obra do fotógrafo, que desafiava a opinião deste último sobre o seu próprio trabalho. Por outro lado, algumas diretivas manifestavam, em relação ao objeto fotográfico, diferentes pontos de vista entre curador e fotógrafo.

Jorge Calado propôs uma leitura alternativa ao que chama «ideia feita sobre a obra de Gérard – autorizada pelo próprio», a qual resulta na divisão da obra do fotógrafo em duas fases: a primeira, entre 1956 e 1966, marcada por registos humanistas de influência bressoniana, e a segunda, a partir de 1982, com um trabalho de natureza abstrata. Para Calado, esta divisão revela-se bastante limitadora, uma vez que, como o próprio explica, «há fotografias abstractas de grande audácia modernista nos anos 1950, tal como há imagens humanistas nas décadas de 1980 e 1990» (Gérard Castello-Lopes 1956-2006. Aparições. Apparitions, 2011, p. 23). Foi com base nesta constatação que o curador construiu a exposição.

Como introdução ao modo como se desenvolveu a obra de Castello-Lopes, foram apresentadas Évora, Portugal (1986) e Dafundo, Portugal (1956). Estas duas fotografias a preto-e-branco, captadas em dois pontos diferentes do país, com uma distância de trinta anos, apresentam resultados muito próximos: uma quase abstração da imagem através de jogos de reflexos. A sua disposição lado a lado orientava o visitante no tipo de relações que seriam propostas ao longo da mostra, com a revelação de persistências, revisitações, tendências no modo de olhar de Gérard Castello-Lopes.

Os diferentes núcleos eram compostos de acordo com afinidades estéticas, temáticas ou possíveis sequências narrativas, juntando-se fotografias a preto-e-branco e a cores, com diferentes escalas e técnicas de impressão. Por vezes, surgiam nesses grupos imagens imprevisíveis que, ao desorientarem o espectador, pretendiam provocar uma reorientação de foco e desencadear novas descobertas nas imagens anteriormente observadas. Era a este processo de redescoberta que se reportava o título da exposição.

O nome do lugar onde cada imagem foi captada serve invariavelmente de título à fotografia. No entanto, o olhar do fotógrafo direciona-se ora para o concreto ora para o abstrato, para o efémero ou para o eterno, para o finito ou o infinito. Daí resulta um conjunto coerente de pesquisas – composições vorticistas e abstratas, reflexos e arrastamentos, confrontos de escala e perspetivas –, que o curador pretendia evidenciar nas secções temáticas.

No que diz respeito às impressões apresentadas, foi dada prevalência a tiragens de época, em detrimento de provas modernas, decisão que não estava em consonância com as preferências do fotógrafo. Esta opção foi, no entanto, cuidadosamente fundamentada pelo curador do seguinte modo: «Gérard validou as imagens quando as escolheu nas folhas de contacto e as mandou imprimir. Conferiu-lhes o selo de autenticidade quando lhes apôs a respectiva certidão histórica e técnica (local, data, lente, diafragma, etc.).» (Gérard Castello-Lopes 1956-2006. Aparições. Apparitions, 2011, p. 22)

As escolhas de Calado denotavam a valorização das marcas do tempo e da vida, dos processos de trabalho. Assim se compreende que tenha incluído tiragens de época, ampliações existentes com marcas de manuseamento ou afixação, imagens em provas de tamanhos variados. Por outro lado, foi também valorizado o uso dado às fotografias, em particular a integração em capas de obras literárias e filosóficas aí expostas.

A exposição incluía ainda uma seleção de escritos e catálogos de Castello-Lopes e um conjunto de objetos pessoais que ultrapassavam o campo da fotografia. Câmaras fotográficas, discos e alguns dos seus livros de referência contribuíam para representar o universo de interesses do fotógrafo.

Para acompanhar a exposição foram coproduzidas duas publicações: um volumoso catálogo e um caderno de exposição. Neste último, é apresentada uma seleção de imagens fotográficas contextualizadas por breves textos que realçam as principais preocupações que marcam esta obra. No catálogo, aos textos do curador juntam-se um texto emotivo de Danièle Castello-Lopes e a reprodução de todas as fotografias expostas. A importância da família na concretização desta homenagem fez-se também sentir através da conferência proferida por um dos seus filhos, David Castello-Lopes.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Epcot U.S.A.

Gérard Castello-Lopes (1925-2011)

Epcot U.S.A., 1984 / Inv. 87FP262

Escócia

Gérard Castello-Lopes (1925-2011)

Escócia, 1985 / Inv. 87FP261


Eventos Paralelos

Conferência / Palestra

[Apparitions. La Photographie de Gérard Castello-Lopes, 1956 – 2006]

3 mai 2012
Fundação Calouste Gulbenkian / Delegação em França
Paris, França

Publicações


Material Gráfico


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