A iniciativa denominada «Uma Obra em Foco», como o título sugere, põe em destaque uma peça ou um conjunto de peças da Coleção que, por razões de ordem diversa, não foram incluídas na mostra permanente do Museu Calouste Gulbenkian (MCG).

Entre 23 de dezembro de 2003 (ano em que foram organizadas três exposições no âmbito da iniciativa acima referida) e 28 de março de 2004, foi apresentado um conjunto de cinco obras do pintor francês Félix Ziem (1821-1911), esteticamente situado na encruzilhada entre o naturalismo de Barbizon e a inovação estética plástica introduzida pela corrente impressionista.

Coordenada por Manuela Fidalgo e Luísa Sampaio, ambas conservadoras do MCG, a mostra proporcionou ao público um olhar mais atento sobre três pinturas a óleo do artista e duas obras gráficas (um desenho e uma aguarela), propondo uma visão abrangente do trabalho artístico do viajante apaixonado que percorreu cidades como Marselha, Veneza e Constantinopla, representando-as com uma grande riqueza cromática e dando uma especial atenção ao tratamento da luz, aspeto essencial na produção de Ziem e nas pinturas de paisagens francesas do século XIX (Uma Obra em Foco. Félix Ziem (1821-1911) na Colecção Calouste Gulbenkian, 2003).

O visitante era convidado a percorrer um trajeto que se iniciava com a obra A Vista do Velho Porto de Marselha (c. 1850-1860), local onde Calouste Gulbenkian estudou na sua juventude e onde Ziem instalou o seu ateliê em 1840, tendo sido igualmente «o ponto de partida para as inúmeras viagens que efectuou a Itália e ao Oriente» (Ibid.). De Marselha, o visitante passava para Constantinopla através da obra Ciprestes em Scutari (c. 1860-1870), adquirida em 1899 por Calouste Gulbenkian, «a primeira das cinco obras de Ziem que conservou até ao fim da vida em seu poder» (Ibid.). O percurso expositivo terminava com A Praça de São Marcos em Veneza (c. 1860-1870). A cidade dos canais foi, seguramente, a principal fonte de inspiração do artista, tendo sido tema de numerosas obras, «nas quais o carácter transitório da natureza é representado ao longo de diversas horas do dia, facto que permite reconhecer na sua obra um sinal inequívoco de modernidade» (Ibid.).

Tendo em conta a vasta obra de Félix Ziem, o Museu Calouste Gulbenkian teve ainda a preocupação de o recordar na sua vertente de artista gráfico, através da apresentação de um desenho (A Entrada do Velho Porto de Marselha, 1862) e uma aguarela (O Pastor e o Mar, c. 1880-1890), dando a conhecer uma faceta menos notória do pintor francês.

As obras de Félix Ziem – artista aclamado pelos seus contemporâneos, tendo sido o primeiro pintor vivo a ter, em 1910, quadros expostos no Musée du Louvre – «constituem, para todos os efeitos, uma amostra elucidativa da qualidade da sua imensa produção, quer ao nível da pintura a óleo quer ao nível da execução gráfica» (Ibid.).

Esta exposição foi acompanhada de um folheto – editado em português e inglês – integralmente redigido pelas conservadoras do MCG, Manuela Fidalgo e Luísa Sampaio. A brochura oferece ao leitor uma visão geral sobre a vida de Félix Ziem, aliando a sua atividade artística à sua vida de viajante, através da representação dos locais por onde passou, e mostrando o predomínio dos temas marítimos na sua obra.

Joana Atalaia, 2019