A iniciativa denominada «Uma Obra em Foco», como o título sugere, põe em destaque uma peça ou um conjunto de peças da Coleção que, por razões de ordem diversa, não foram incluídas na mostra permanente do Museu Calouste Gulbenkian (MCG).

Estas apresentações de caráter temporário permitiriam, segundo um apontamento do diretor do MCG, João Castel-Branco Pereira, «alguma "novidade" no circuito da exposição permanente» (Nota interna de João Castel-Branco Pereira para Emílio Rui Vilar, 7 fev. 2002, Arquivos Gulbenkian, MCG 03426).

Em 2002, o «foco» recaiu sobre a escultura Hermes da Vestal Túcia (Inv. 2214), executada na oficina de Antonio Canova (1757-1822) entre 1818 e 1819, adquirida por Calouste Gulbenkian em 1920 e apresentada, em 2002, na Galeria de Exposição Permanente do MCG, num espaço entre a Arte do Extremo Oriente e o início da Arte Europeia.

A peça apresentada enquadra-se no movimento do neoclassicismo (que surge na segunda metade do século XVIII), conhecido por ter surgido como «uma reacção à artificialidade do rococó», impondo como «prática a simplicidade, nas linhas, formas, cores e temas, bem como o aprofundamento de ideias e sentimentos» (Uma Obra em Foco. Hermes da Vestal Túcia…, 2002).

Antonio Canova, artista de origem italiana, iniciou a sua atividade no ateliê de Giuseppe Bernardi Torretto, em Veneza, deixando-se seduzir pelas formas e temas característicos da Antiguidade Clássica e pelas teorias estéticas de Winckelmann e de Quatremère de Quincy, o crítico de arte que defendia a ideia de «que a escultura grega tinha atingido um elevado nível de qualidade, porque se inspirara na beleza e perfeição dos deuses, em tudo superiores aos homens» (Ibid.).

Canova tomou a forma «Hermes» herdada da Antiguidade, conhecida como sendo uma cabeça masculina apoiada num plinto em mármore, e substituiu-a por uma cabeça feminina, eliminando a sua base e «envolvendo o conjunto com um manto delicadamente esculpido» (Ibid.). O tema da Vestal Túcia é igualmente inspirado no Classicismo. De acordo com Maria Rosa Figueiredo, conservadora do MCG, «as vestais, além de velarem pelos templos sagrados da deusa, tinham também como missão emularem na terra as suas virtudes de pureza e castidade» (Ibid.).

A mostra foi acompanhada de um folheto – editado em português e inglês – da autoria de Maria Rosa Figueiredo, que aborda aspetos gerais do Neoclassicismo, para melhor enquadrar particularidades da escultura «em foco». A informação é complementada por dados biográficos do artista de origem italiana que, com apenas 23 anos, se estabeleceu em Roma, onde se tornou «um dos mais altos expoentes da escultura neoclássica» (Ibid.).

Estas informações complementares foram igualmente veiculadas num conjunto de oito painéis que ofereceram ao visitante um contexto sobre a escultura em destaque e uma oportunidade de observar uma peça habitualmente inacessível aos olhares do público.

Joana Atalaia, 2019