A iniciativa denominada «Obra de Arte em Foco», como o título sugere, põe em destaque uma peça ou um conjunto de peças da Coleção que, por razões de ordem diversa, não foram incluídas na mostra permanente do Museu Calouste Gulbenkian. Desta feita, o «foco» recaiu sobre um tapete da Índia mogol, manufaturado em lã de caxemira e seda, datado do século XVII, proveniente do norte da Índia.

Exposto num espaço anexo à Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 0), a fim de melhor captar a atenção por parte do visitante, este fragmento – tal como outros têxteis provenientes do mesmo local – foi profunda e intensivamente estudado por Daniel Walker, responsável pela coleção de arte islâmica do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, e autor da obra Flowers Underfoot: Indian Carpets of the Mughal Era, publicada em 1997 (Obra de Arte em Foco. Um Tapete da Índia Mogol…, 1999).

A tapeçaria foi acompanhada por documentação fotográfica e textual, com o objetivo de a contextualizar dentro do universo da restante coleção de têxteis de Calouste Gulbenkian (aproveitando para apresentar outros exemplos de outros tapetes da Índia), mas também dentro de um contexto histórico e cultural sobre a sua origem e sobre aspetos mais gerais da produção de tapeçaria indiana.

Toda a informação foi posteriormente disponibilizada num pequeno livro de exposição, ricamente ilustrado, que conta com uma descrição formal da tapeçaria «em foco», redigida pela conservadora do Museu Calouste Gulbenkian, Maria Fernanda Passos Leite.

Esta peça, que esteve exposta durante largos anos na casa de Calouste Sarkis Gulbenkian, em Paris, na Avenue d'léna, foi considerada «um dos expoentes máximos da produção dos mais finos tapetes de "lã de caxemira" e seda». Foi adquirida pelo colecionador no mercado londrino em junho de 1928 e, posteriormente, instalada «junto às vitrines de cerâmica de Iznik, cuidadosamente [protegida] por vidro» (Ibid.).

Aquando da vinda da Coleção Gulbenkian para Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian considerou que seria mais prudente transferir a tapeçaria em questão para a secção de têxteis das reservas do Museu, devido à sua enorme fragilidade. Após ter sido objeto de intervenção na oficina de restauro de têxteis do Instituto José de Figueiredo, a Fundação permitiu que o tapete fosse apresentado, em 1985, no The Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, na exposição «India: Art and Culture 1300-1900» (Ibid.).

Joana Atalaia, 2019