Génese de um Museu. O Museu Calouste Gulbenkian

30.º Aniversário do Museu Calouste Gulbenkian

Exposição dedicada à história do Museu Calouste Gulbenkian, comemorando os 30 anos da sua abertura ao público. Decorreu num período em que a exposição permanente do Museu se encontrava encerrada para requalificação, assinalando a nova direção de José Castel-Branco Pereira. Situada nessa charneira, a exposição vinha reforçar a memória institucional da Fundação Calouste Gulbenkian.
Exhibition dedicated to the history of the Calouste Gulbenkian Museum to commemorate 30 years since it opened to the public. The show was held while the museum’s permanent exhibition area was closed for renovations following the appointment of a new director. The exhibition simultaneously marked a turning point in the museum’s history while looking back at the institutional memory of the Calouste Gulbenkian Foundation.

O ano de 1999 representou um período de balanço para vários serviços e setores operacionais da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

A 2 de outubro, o Museu Calouste Gulbenkian (MCG) comemorou trinta anos de atividade. No dia seguinte, no culminar desse ciclo de três décadas de trabalho, o espaço da exposição permanente encerrava para obras de requalificação. Assinalando uma fase de transição, a pausa ocorria apenas um ano após a entrada em funções de João Castel-Branco Pereira como novo diretor do Museu (cargo que ocuparia até 2014), sucedendo a Maria Teresa Gomes Ferreira (no cargo entre 1972 e 1998).

Os trabalhos de renovação duraram perto de dois anos, concluindo-se a 20 de julho de 2001 (Relatório Balanço e Contas 2001, 2002, pp. 28-34). A programação do MCG apostou em fazer desse período uma oportunidade para reenquadrar o Museu e conduzir as obras da Coleção do Fundador a outros espaços de apresentação, inclusive além-fronteiras. Um dos exemplos mais destacados dessas diretivas foi a exposição «“Only the Best”. Masterpieces of the Calouste Gulbenkian Museum, Lisbon», no Metropolitan Museum de Nova Iorque.

Internamente, duas exposições deram corpo à prioridade de repensar a Coleção e a memória expositiva do Museu. Foram elas «A Arte do Retrato. Quotidiano e Circunstância», apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0), e «Génese de um Museu. O Museu Calouste Gulbenkian», montada na Galeria de Exposições Temporárias do MCG. Mereceram uma inauguração conjunta a 19 de outubro de 1999, apenas cerca de duas semanas após o encerramento da exposição permanente.

«Génese de um Museu» ficou patente ao público até ao final de fevereiro de 2000. Lançou um olhar sobre algumas das premissas que conduziram à criação do polo museológico da FCG em Lisboa, focando os primeiros passos das três décadas de história já dinamizadas até então. Esse reencontro com a memória ficou plasmado em materiais tão diversos como: documentação fotográfica dos Arquivos Gulbenkian; desenhos técnicos e maquetes do edificado da Sede da FCG e do MCG; várias obras da Coleção do Fundador, que sublinharam o colecionismo pessoal de Calouste Gulbenkian como preâmbulo para a geração do Museu.

Ocorrida no ano da conclusão da câmara fria dos Arquivos Gulbenkian, essencial para a conservação dos suportes de imagem, «Génese de um Museu» trazia a público novas ampliações fotográficas desse acervo, datadas das décadas de 1950 e 1960, e cuja edição e impressão já terá recorrido, em parte, a tecnologias digitais (Ibid., p. 34). Entre os fotógrafos representados, estiveram Mário Novais (1899-1965), cujo estúdio continuaria a ser requisitado postumamente pela FCG, Teófilo Rego (1914-1993), Mário de Oliveira (1926-1999) ou Reinaldo Viegas (os dois últimos, tornar-se-iam colaboradores de longa data da Fundação).

Os aspetos de sala revelam que «Génese de um Museu» iniciava com imagens do interior do n.º 51 da Avenue d'Iéna, junto ao Arco do Triunfo, no centro de Paris. Trata-se do palácio que Calouste Gulbenkian adquiriu, no início da década de 1920, para residência familiar e para instalar as suas coleções, acabando por cristalizá-lo num autêntico museu pessoal. As fotos mostram peças da Coleção do Fundador expostas nesse contexto, antes da transformação desse espaço em centro cultural e sede da delegação da FCG em França, em 1965.

O transporte de obras da Coleção para Portugal, no final da década de 1950, também foi abordado na exposição. Ampliaram-se várias imagens de arquivo mostrando essas diligências. Algumas foram montadas sobre madeira ripada, aludindo às antigas caixas de transporte que se viam nas fotos. Objetos embrulhados em papel pardo rematavam a vocação mais teatralizada deste núcleo.

Também mereceram atenção as mostras da Coleção realizadas em Portugal antes de surgir o edificado da Sede e Museu da FCG em 1969. Vários painéis fotográficos cruzavam imagens das exposições no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (1961), no Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto (1964), e no Palácio Marquês de Pombal, Oeiras (1965), focando as diferentes soluções museográficas adotadas desde a residência de Paris até à inauguração das instalações da FCG na Avenida de Berna. Algumas peças específicas eram sublinhadas a cor, nas fotos dos diferentes locais, estimulando essa análise comparativa.

O complexo arquitetónico da Sede e Museu da FCG também mereceu um núcleo aturado, indo das fases de projeto às etapas de construção no antigo Parque de Santa Gertrudes. O material fotográfico reunido incluía desde vistas aéreas a registos de plantas, alçados e maquetas arquitetónicas (inclusive de duas propostas alternativas que acabariam por ser preteridas), passando pela conceção técnica e montagem do dispositivo museológico. Era ainda mostrado um desenho técnico de um corte das instalações da Fundação, bem como uma enorme maqueta do interior do Museu. De grande potencial didático, esse modelo era encimado por um plano de espelhos em rampa, promovendo a visualização dos diferentes ângulos.

A exposição terminava com várias caixas de luz, instaladas nas paredes e iluminando transparências fotográficas. Mostravam as cerimónias inaugurais do Museu, destacando várias das principais personalidades envolvidas em todo o empreendimento.

Quanto a obras da Coleção do Fundador integradas na mostra, os aspetos de sala arquivados apontam para 35 peças. Foram ainda expostas nesta ocasião duas vitrinas Mantelet (extracoleção), usadas na própria residência da Avenue d'Iéna. Uma delas exibia agora 16 peças de cerâmica da segunda metade do século XVI, pertencentes ao volumoso acervo de arte do oriente islâmico (Invs. 774; 779; 790; 791; 797; 804; 827; 845; 825; 2230; 2034; 2244; 2245; 2249). A outra continha 14 peças do vasto núcleo autoral dedicado a René Lalique (1860-1945) (Invs. 1168; 1171; 1176; 1177; 1222; 1223; 1226; 1229; 1233; 1240; 1241; 1245; 1262; 1264; 1274B; 1274A/B). As duas vitrinas foram instaladas junto a uma grande fotografia com uma vista do interior do palácio de Paris, na qual é possível ver um desses móveis em último plano.

Também foram expostas três das muitas peças de mobiliário francês do século XVIII pertencentes à Coleção. Nomeadamente, uma curiosa mesa mecânica (c. 1761; Inv. 749) da autoria do ebanista Jean-François Oeben (c. 1715?-1763) e dois cadeirões estofados, com bordados da manufatura de Aubusson (Invs. 1541D; 1541F), pertencentes a um conjunto de seis peças datadas de c. 1760-1765. Essas expressões do Rococó encenavam um pequeno ambiente em conjunto com dois óleos sobre tela de dois mestres do mesmo período: A Brasserie d'Ermenonville (c. 1777; Inv. 440), de Hubert Robert (1733-1808), e O Regato (c. 1766-1768; Inv. 103), de Jean-Honoré Fragonard (1732-1806). O mobiliário assentava sobre uma tapeçaria de Sarmacanda (Turquestão Oriental) (Inv. T49), enquanto a reprodução fotográfica de um silhar de azulejos, igualmente setecentistas, era instalada na parede, completando a cenografia. Trata-se de um dos silhares interiores do Palácio Marquês Pombal, presente na sala onde estas mesmas peças tinham sido apresentadas em conjunto aquando da grande mostra da Coleção em Oeiras. «Génese de um Museu» reencenava assim esse momento, ladeando-o por imagens de uma das escadarias exteriores desse palácio, que funcionavam como uma espécie de pórtico para a pequena cena. Dela estava apenas em falta um outro óleo de Robert que também compôs o conjunto mostrado em Oeiras: Le Tapis Vert (c. 1775-1777; Inv. 626). Por esta altura, essa pintura integrava a seleção de obras que viajou até à já referida mostra «Only the Best», no MET de Nova Iorque.

Tendo a história da museologia como um dos seus principais tópicos, de forma geral a «Génese de um Museu» foi ela própria um projeto ambicioso no que respeita à arquitetura do espaço expositivo e às soluções museográficas elaboradas. As paredes de tons escuros, a luminotecnia, as ampliações fotográficas de escala mural e por vezes dividindo o espaço como biombos – tudo isso contribuiu para uma ambiência de alguma espetacularidade, que, de um modo ponderado, este projeto museológico não deixou de explorar como estratégia empática.

A mostra foi promovida na imprensa escrita, destacando a sua relação com o 30.º aniversário do Museu e com as obras de renovação. Também a SIC (Sociedade Independente de Comunicação) contactou a FCG para levar a cabo uma reportagem televisiva às exposições «Génese de um Museu» e «A Arte do Retrato» na companhia de um técnico do Museu que pudesse dar algumas explicitações (Fax de Anabela Bicho para João Castel-Branco Pereira, 15 nov. 1999, Arquivos Gulbenkian, MCG 03111).

Conforme é aflorado no jornal de exposição, «Génese de um Museu» pretendeu conservar a memória do MCG, apurando alguns dos seus contributos fundamentais – técnicos e conceptuais – para a museologia em Portugal. Pelas circunstâncias de transição interna em que a mostra surgiu, e pela própria abordagem museológica que apresentou, tentou projetar uma meditação sobre o futuro a partir de uma investigação sobre o passado institucional da FCG.

Podemos alinhá-la com outras exposições que abordaram o perfil institucional da FCG entrecruzando-o com a biografia de Calouste Gulbenkian. Entre os mais recentes projetos a operar esse terreno, destaca-se a exposição comissariada pelo cineasta Joaquim Sapinho para o ciclo «Convidado de Verão» de 2018: estabeleceu diálogos entre a Coleção do Fundador, o universo das reservas do Museu Gulbenkian, os Arquivos Gulbenkian e as obras da Coleção Moderna. Outra mostra enquadrável será «Calouste: uma vida, não uma exposição» (2019), comemorativa dos 150 anos do nascimento do patrono da Fundação.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Estátua da dama Chepés

Anónimo

Estátua da dama Chepés, (664-525 a.C.) / Inv. 400

Desconhecido

c.1535-1540 / Inv. 827

Desconhecido

1535-1540 / Inv. 2230

Desconhecido

c.1580-85 / Inv. 2034

Desconhecido

c.1575 / Inv. 797

Desconhecido

c.l580-1585 / Inv. 779

Desconhecido

c.1580-1585 / Inv. 791

Desconhecido

Final do século XVI / Inv. 2244

Desconhecido

Final do século XVI / Inv. 2249

Desconhecido

c.1570-1575 / Inv. 804

Desconhecido

c.1535-1540 / Inv. 825

Desconhecido

c.1580-1585 / Inv. 790

Desconhecido

Final do século XVI / Inv. 845

Desconhecido

c.1575-1585 / Inv. 2245

Desconhecido

c.1580-85 / Inv. 774

Tapete

Desconhecido

Tapete, Inv. T49

Jean-François Oeben (me.1761)

Inv. 749

O Regato

Jean-Honoré Fragonard (1732-1806)

O Regato, c. 1766-68 / Inv. 103

Manufactura de Aubusson

Inv. 1541D

Manufactura de Aubusson

Inv. 1541F

Anémonas

René Lalique (1860-1945)

Anémonas, 1904 / Inv. 1264

Cavaleiros

René Lalique (1860-1945)

Cavaleiros, c. 1914 / Inv. 1222

Corças

René Lalique (1860-1945)

Corças, c. 1920 / Inv. 1240

Fauno

René Lalique (1860-1945)

Fauno, c. 1919 / Inv. 1245

Figuras enlaçadas

René Lalique (1860-1945)

Figuras enlaçadas, c. 1902 / Inv. 1171

Figuras femininas

René Lalique (1860-1945)

Figuras femininas, c. 1921 / Inv. 1262

Flores

René Lalique (1860-1945)

Flores, c. 1913 / Inv. 1274A/B

Flores

René Lalique (1860-1945)

Flores, c. 1913 / Inv. 1274A/B

René Lalique (1860-1945)

Górgonas, Inv. 1226

Hastes de videira

René Lalique (1860-1945)

Hastes de videira, c. 1899-1901 / Inv. 1177

Medusa

René Lalique (1860-1945)

Medusa, c. 1902 / Inv. 1176

Menina do Mar

René Lalique (1860-1945)

Menina do Mar, c. 1919 / Inv. 1241

Motivos de videira e figuras

René Lalique (1860-1945)

Motivos de videira e figuras, c. 1899-1901 / Inv. 1168

Pombos

René Lalique (1860-1945)

Pombos, c. 1914 / Inv. 1233

Ratos entre folhagem

René Lalique (1860-1945)

Ratos entre folhagem, c. 1913 / Inv. 1229

Silvas

René Lalique (1860-1945)

Silvas, c. 1921 / Inv. 1223


Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita guiada às reservas do Museu Calouste Gulbenkian por Maria Teresa Gomes Ferreira (à dir.)
Maria Teresa Gomes Ferreira (à esq.) e Nuno Vassallo e Silva (à dir.)
Robert Gulbenkian (ao centro)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03112

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, recortes de imprensa. 1999 – 2000


Exposições Relacionadas

Botelho

Botelho

1989 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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