O Mundo da Laca. 2000 Anos de História

Exposição que apresentou ao público um vasto conjunto de objetos (caixas, biombos, mobiliário francês do século XVIII, contadores, crucifixos, entre muitos outros), provenientes de coleções públicas e privadas, dando a conhecer a origem da técnica da laca e a sua evolução desde a sua invenção na China até ao século XX.
Exhibition featuring a vast array of items (boxes, folding screens, eighteenth-century French furniture, cabinets, crucifixes, among many more) from public and private collections, showcasing the origins of the lacquer technique and the evolution it underwent since its invention in China until the twentieth century.

A exposição «O Mundo da Laca. 2000 Anos de História» destacou-se no panorama expositivo do Museu Calouste Gulbenkian (MCG) por duas razões essenciais: por ter sido a primeira mostra dedicada à história da laca em Portugal, e por ter encerrado o ciclo de exposições temporárias organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian (realizadas dentro e fora do seu edifício) entre os anos de 1999 e 2001, período em que decorreu uma extensa campanha de obras no MCG.

Cobrindo um arco cronológico de mais de dois mil anos e abrangendo diversas áreas geográficas, a mostra deu a ver 106 objetos, entre os quais avultavam 36 peças pertencentes ao acervo do MCG, com destaque para as lacas japonesas, islâmicas e art déco e algum mobiliário francês do século XVIII decorado com painéis de laca japonesa. As restantes peças provinham de instituições públicas e privadas, em que relevavam o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), o Museu da Música e o Museu de São Roque, e a que se juntaram os contributos internacionais do British Museum e do Victoria and Albert Museum, de Londres, dos quais veio um ilustre conjunto de lacas chinesas das dinastias Han, Song, Yuan e Ming.

Comissariada por Pedro de Moura Carvalho, curador-chefe do Asian Civilizations Museum (de Singapura), e com projeto museográfico de Mariano Piçarra, a mostra desdobrou-se em seis núcleos, divididos por áreas geográficas e por tipos de produção, evidenciando, no caso da China e do Japão, «as diferenças entre a produção local e a destinada ao mercado de exportação» (Comunicado de imprensa, 2001, Arquivos Gulbenkian, MCG 03131).

Ao entrar no «Mundo da Laca» e num ambiente de total penumbra, o visitante era convidado a percorrer a história desta técnica, que se desenvolveu entre o Extremo Oriente e o Ocidente europeu. A visita iniciava-se na China da dinastia Han, há mais de seis mil anos, passando pela França do século XVIII, onde foi aplicada ao mobiliário, para terminar já no século XX.

Citando o artigo publicado à data no jornal Público, a exposição pretendeu «elucidar o visitante da forma mais eficaz sobre as diferenças técnicas, a evolução do gosto através dos séculos e, sobretudo, sobre a diferença entre as peças feitas para o mercado oriental e aquelas que se destinavam ao mercado europeu» (Oliveira, Público, 31 mar. 2001).

De acordo com a mesma fonte, o visitante, depois de recebido por «dois enormes biombos», decorados com motivos característicos da arte chinesa, podia acompanhar o desenvolvimento desta técnica, até chegar à representação da conhecida arte Namban, «que os japoneses desenvolveram para exportação ou consumo interno das comunidades cristãs» (Ibid.). Neste núcleo, destacavam-se peças como um crucifixo em marfim, trabalhado com laca Namban, proveniente do Convento de San Esteban, em Salamanca, ou um enorme conjunto de caixas de origem indiana (Comunicado de imprensa, 2001, Arquivos Gulbenkian, MCG 03131).

Passando pela Coreia e pelas duas peças dos séculos XVI e XVII provenientes do British Museum e do Victoria and Albert Museum, o visitante chegava ao núcleo da Índia, onde deparava com um conjunto de 11 peças executadas neste país para o mercado português; seguia-se a produção islâmica das dinastias safávida, otomana e mogol. No núcleo do Islão, o foco incidia nas encadernações lacadas produzidas entre o século XVII e o século XIX, bem como num estojo para penas proveniente do MNAA. A mostra terminava com o núcleo dedicado ao continente europeu, repartindo-se entre mobiliário do século XVIII e instrumentos musicais. O percurso chegava ao século XX, atraindo o olhar do espectador para uma peça contemporânea do artista japonês Suzuki Masaya (1932-2013), pertencente ao acervo do Victoria and Albert Museum, e para os trabalhos assinados por Jean Dunand (1877-1942), uma das mais emblemáticas figuras no panorama da arte da laca europeia (Ibid.).

Fruto do esforço realizado pela coordenadora executiva da exposição, Maria Queiroz Ribeiro, foi possível complementar a mostra com a exibição de vídeos, disponibilizados pela Embaixada do Japão em Portugal, sobre «as técnicas, materiais e processos utilizados na execução de lacas» (Carta de Maria Queiroz Ribeiro para Yumi Furukubo, 27 jul. 2000, Arquivos Gulbenkian, MCG 03131).

No átrio da Biblioteca de Arte, o visitante era ainda convidado a conhecer um outro núcleo, constituído por um conjunto de instrumentos e materiais «utilizados nas várias fases do trabalho da laca» (Relatório de Balanço e Contas Fundação Calouste Gulbenkian, 2001).

A exposição «O Mundo da Laca. 2000 Anos de História» foi acompanhada pela publicação de um catálogo, editado em português e inglês, amplamente documentado e ilustrado. Contando com apresentações de Emílio Rui Vilar, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, e de João Castel-Branco Pereira, diretor do MCG, e com um ensaio da autoria de, Nuno Vassallo e Silva, diretor-adjunto do MCG, o catálogo inclui contribuições de diversos especialistas na área, «essenciais à boa compreensão do tema e à criação da terminologia, em português, numa área que até ao presente mereceu reduzida atenção dos editores nacionais» (Comunicado de imprensa, 2001, Arquivos Gulbenkian, MCG 03131). Entre os vários autores que fizeram parte desta publicação destacam-se nomes como o de Julia Hutt, curadora do núcleo de arte japonesa do Victoria and Albert Museum, que apresentou um ensaio sobre a laca japonesa e coreana, ou o de Oliver Impey, especialista em arte japonesa e antigo curador do Ashmolean Museum, de Oxford (Ibid.).

Além das habituais visitas guiadas organizadas pelo Serviço Educativo (foram contabilizadas 27 visitas, que somaram 402 participantes), foram ainda realizadas algumas visitas especiais, orientadas pelo comissário da exposição, Pedro de Moura Carvalho, com o apoio de Maria Queiroz Ribeiro.

A inauguração de «O Mundo da Laca. 2000 Anos de História» realizou-se no dia 28 de março de 2001 e nela compareceram, nomeadamente, Emílio Rui Vilar, Maria Queiroz Ribeiro, Pedro de Moura Carvalho, Mariano Piçarra, João Castel-Branco, Nuno Vassallo e Silva, Maria Helena Mendes Pinto (especialista em arte indo-portuguesa e Namban), Manuel Costa Cabral (diretor do Serviço de Belas-Artes da FCG) e diversos investigadores de arte.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Bernard (II) van Risen Burgh (me. c. 1730)

c. 1750 / Inv. 285

Bunryusai

Inv. 1330

Les climats

Comtesse de Noailles

Les climats, Séc. XX / Inv. LM365

Desconhecido

Século XIX / Inv. R36

Desconhecido

Século XVII / Inv. R24

Desconhecido

Século XIX / Inv. 322

Desconhecido

Século XVII / Inv. R4

Desconhecido

Final do século XIX ou início do século XX / Inv. R15

Desconhecido

Século XVII / Inv. R34

Desconhecido

1ª metade do século XVII / Inv. R39

Desconhecido

Inv. 1311

Desconhecido

Inv. 1325

Desconhecido

Inv. 1326

Desconhecido

Inv. 1327

Desconhecido

Inv. 1333

Desconhecido

Inv. 1344

Desconhecido

Inv. 1346

Desconhecido

Inv. 1349

Desconhecido

Inv. 1350

Desconhecido

Inv. 1351

Desconhecido

Inv. 1352

Desconhecido

Inv. 1354

Desconhecido

Inv. 1355

Desconhecido

Inv. 1365

Desconhecido

Inv. 1366

Desconhecido

Inv. 1367

Desconhecido

Inv. 1368

Desconhecido

Inv. 1370

Desconhecido

Inv. 1372

Desconhecido

Inv. 1373

Desconhecido

Inv. 1023

Jarro de jade

Desconhecido

Jarro de jade, Inv. 328

Família Jokasai

Inv. 1310

Família Jokasai

Inv. 1315

Família Shibayama e Kan'yosai

Inv. 1316

Família Shiomi Masanari

Inv. 1304

Família Shunsho

Inv. 1356

Divan

Hafiz

Divan, 1500-1501 / Inv. LA190

Hara Yoyosai (1772-1845)

Inv. 1364

Histoire de la Princesse Boudour. Conte des mille nuits et une nuit.

J. C. Mardrus

Histoire de la Princesse Boudour. Conte des mille nuits et une nuit., Inv. LM411

Jean Desforges (me. c. 1739)

Inv. 284

Jean Dunand (1877-1942)

Inv. 2257

Jean-François Oeben (me.1761)

c.1761-1762 / Inv. 579

Jitokusai Gyokuzan

Inv. 1329

Kakosai

Inv. 1375

Kanryo (ou Hiroyoshi)

Inv. 1317

Poésies choisies

Louis Gresset (1709-1777)

Poésies choisies, [1802] / Inv. LM428

Martin Carlin (me.1766)

c. 1775 / Inv. 2266

Mathieu-Guillaume Cramer (me.1771)

1780-1785 / Inv. 376

Antologia

Mir Ali Haravi

Antologia, Século XVII / Inv. LA160

Divan

Mir Ali shir Nava'i

Divan, 1530 / Inv. LA183

Não identificado

Inv. 1308

Ogawa Haritsu (1663-1747)

Inv. 1312

Les Chansons de Bilitis

Pierre Louÿs (1870-1925)

Les Chansons de Bilitis, Inv. LM421

Bustan

Sa'di

Bustan, 1542 / Inv. LA177

Toshi

Inv. 1362

Toshihide II (1771-1842?)

Inv. 1305

Tsuishu Yosei

Inv. 1328

Tsuneyoshi

Inv. 1361


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[O Mundo da Laca. 2000 Anos de História]

12 mai 2001 – 31 mai 2001
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[O Mundo da Laca. 2000 Anos de História]

10 abr 2001 – 10 jun 2001
Fundação Calouste Gulbenkian / Museu Calouste Gulbenkian – Galeria de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita guiada. Maria Queiroz Ribeiro (à frente à esq.)
Visita guiada. Pedro de Moura Carvalho (à frente à esq.)
Emílio Rui Vilar e Roberto Gulbenkian
Emílio Rui Vilar (à esq.), Manuel Costa Cabral (ao centro) e Nuno Vassallo e Silva (à dir.)
Roberto Gulbenkian (à esq.) e Emílio Rui Vilar (ao centro)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Roberto Gulbenkian (ao centro) e Maria Queiroz Ribeiro (à dir.)
João Carvalho Dias (ao centro)
Mariano Piçarra (à esq.)
Ole Villumsen Krog e Maria Teresa Gomes Ferreira
João Castel-Branco Pereira (à esq.), Paulo Pereira (ao centro) e Maria Queiroz Ribeiro (à dir.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03131

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre a montagem, transporte e seguros, faturas de despesas, notas internas sobre a entrada de peças cedidas, folheto sobre visitas guiadas, notas informativas para imprensa nacional e internacional e outros materiais de divulgação. 2000 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03130

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém listagem de áreas temáticas do catálogo, textos, orçamentos, folheto, cartaz, correspondência com redatores do catálogo, pedidos de reprodução de imagem, orçamentos para marcadores e orçamento para tradução do catálogo. 1999 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03129

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação sobre pedidos de cedências a instituições estrangeiras, correspondência com curadores, valores de seguro das peças, questionários sobre condições da sala de exposições, contratos, formulários de empréstimos, recibo das peças, pagamento de faturas e sistema de segurança. 2000 – 2002

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 154491

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG, Lisboa) 2001

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 154518

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 2001

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 154615

Coleção fotográfica, cor: visita-guiada (FCG, Lisboa) 2001


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