Sebastião Rodrigues: Designer

Congresso Icograda Portugal'95

Exposição individual retrospetiva e de homenagem ao designer Sebastião Rodrigues (1929-1997). Integrada nas comemorações do 39.º aniversário da Fundação Calouste Gulbenkian e por ocasião do congresso «Portugal’95», do Icograda, a mostra permitiu a legitimação de um dos mais importantes designers portugueses do século XX.
Individual retrospective exhibition in homage to designer Sebastião Rodrigues (1929-1997). Held for the 39th anniversary commemorations of the Calouste Gulbenkian Foundation and Icograda’s “Portugal’95” congress, the show served to endorse one of the most notable Portuguese designers of the 20th century.

Exposição retrospetiva e de homenagem à obra do designer português Sebastião Rodrigues (1929-1997). Foi organizada pelo Serviço de Belas-Artes (SBA) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) em conjunto com os serviços de Música e de Educação e com o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). A colaboração de vários serviços da FCG na produção contribuiu para o aspeto congratulatório da exposição, que, entre as suas múltiplas facetas, não deixou de representar também um agradecimento a Sebastião Rodrigues pelo seu papel fundamental na definição da imagem gráfica da Fundação, especialmente durante os primeiros anos, prestigiando-a na comunicação com o exterior.

«Sebastião Rodrigues: Designer» esteve patente ao público no piso 0 da Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG, de 20 de julho a 24 de setembro de 1995, inaugurando no 39.º aniversário da Fundação e por ocasião do Congresso Portugal'95 do Icograda (International Council of Graphic Design Association). Este congresso decorreu igualmente nas instalações da FCG em Lisboa, por iniciativa da Associação Portuguesa de Designers (APD). Segundo o relatório final da exposição, Sebastião Rodrigues foi o único português, e um dos raros a nível mundial, a ser galardoado com o «Award of Excellence» (1991), prémio atribuído pela Icograda.

O designer José Brandão foi o comissário da exposição, a convite da APD, sendo também o coordenador da equipa de pesquisa e organização documental que trabalhou durante os nove meses precedentes à mostra. Brandão realizou ainda diversas visitas guiadas, destacando-se as realizadas com os participantes – sobretudo estrangeiros – do Congresso Portugal'95.

Além da clara homenagem, a exposição pretendeu constituir-se enquanto reflexão sobre a extensa obra de Sebastião Rodrigues, tendo sido a primeira vez que foi organizada uma mostra retrospetiva exclusivamente dedicada à obra gráfica de um designer português, sem que esta fosse incluída numa apresentação mais alargada, com outras manifestações artísticas. Para tal, foi essencial o exaustivo levantamento de centenas de obras de Sebastião Rodrigues e de mais de dez mil documentos, dos quais muitos ficaram por investigar. Como admitiu o comissário da exposição, terá ficado por fazer um estudo minucioso das fontes culturais, etnográficas, gráficas, tipográficas e técnicas que nesta exposição apenas foram afloradas (Sebastião Rodrigues: Designer, 1995, p. 9).

O caráter inovador da exposição foi destacado por Pedro Tamen na apresentação que abre o catálogo de exposição, pelo facto de não ser frequente, ou de ser mesmo a primeira vez que, em Portugal, se estaria a dedicar uma exposição desta dimensão e ambições ao design gráfico português (Ibid.). Desta forma, estar-se-ia, finalmente, a dar a legitimação e o foco devidos ao design, categoria que normalmente se encontra em segundo plano em relação às restantes artes visuais e que, por natureza própria, não se destina ao espaço do museu.

A exposição seguiu as várias fases da obra de Rodrigues, desde os primeiros trabalhos realizados durante o início da sua carreira profissional na Agência de Publicidade Artística (APA), atividade que cedo o distinguirá como excelente gráfico. Durante esta época, trava conhecimento com Manuel Rodrigues, com quem estabeleceu uma longa associação. Foi também nesta altura que produziu desdobráveis, cartazes e catálogos encomendados pelo Secretário Nacional de Informação (SNI), e que fez trabalhos de decoração para o Comptoir Suisse de Lausanne (1957) e na Exposição Universal de Bruxelas (1958). Este foi ainda um período em que Sebastião Rodrigues iniciou a produção de capas e ilustrações de livros, à qual dedicou largos anos (Sebastião Rodrigues: Designer, 1995).

Outro aspeto da carreira de Sebastião Rodrigues que a exposição explorou foi a sua colaboração na revista Almanaque, periódico português de humor de crítica social, que reuniu um importante leque de artistas e escritores, entre os quais João Abel Manta, Sena da Silva, Luís de Sttau Monteiro, Augusto Abelaira, Vasco Pulido Valente e José Cutileiro.

A partir da década de 60, a carreira de Sebastião Rodrigues é marcada pelo lançamento definitivo do seu trabalho como designer independente, aliado a uma regular colaboração com várias e importantes editoras portuguesas, tais como a Arcádia, Livraria Sá da Costa, Ulisseia, Minerva, Europa-América e Verbo. Realizou livros, capas de livros e material gráfico, como cartazes, desdobráveis e folhetos para lançamentos de livros.

A exposição reuniu ainda um outro núcleo com trabalhos de diversas tipologias, realizados para entidades oficiais e particulares, com as quais Sebastião Rodrigues colaborou de um modo regular ou mais ocasionalmente. Entre estes trabalhos contam-se catálogos, cartazes, desdobráveis, logótipos, convites, programas, cartões de Boas-Festas e selos. Deste conjunto, destacaram-se as peças criadas para alguns eventos promovidos pelo SNI, bem como os estudos e artes finais de selos encomendados pelos CTT – Correios de Portugal.

Foram ainda expostas peças gráficas dedicadas ao Museu do Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Mosteiro da Batalha) e ao Museu Nacional de Arte Antiga, inseridas num conjunto de trabalhos realizados no âmbito de diversas atividades culturais e onde o génio criativo de Sebastião Rodrigues ficou plasmado em criações originais de estilos individualizados e adequados a cada entidade.

A criatividade informada do designer esteve também presente no núcleo da exposição dedicado à imagem do Banco de Portugal, para o qual realizou a sua última grande obra: o livro de comemoração do 135.º aniversário do banco, intitulado O Papel-Moeda em Portugal. Foi um trabalho árduo e de total dedicação, que demorou cinco anos até ser publicado, e que apresenta a reprodução de um grande número de objetos que, se antes faziam parte de uma circulação pública, passariam a adquirir o prestígio de coleção oficial.

Um outro núcleo, entre os mais importantes da exposição, foi dedicado à apresentação de trabalhos realizados sob encomenda da FCG – colaboração prolongada e intensa, nomeadamente com os serviços de Belas-Artes, Música, Educação e MCG. Foi durante estes anos que Sebastião Rodrigues criou alguns dos seus designs mais célebres no panorama das artes gráficas portuguesas. São marcados por uma apresentação discreta de síntese de elementos e de criatividade técnica, que assentavam num perfecionismo permanente.

Esta ideia da necessidade de haver uma depuração dos elementos é reforçada por Sebastião Rodrigues num programa televisivo de 1970, que a RTP disponibiliza atualmente nos seus Arquivos online, e que foi exibido no âmbito desta exposição de 1995. O programa é inteiramente dedicado à obra do designer, e nele surgem vários cartazes que seriam posteriormente expostos nesta retrospetiva da FCG. Nessa peça televisiva, Rodrigues defende que, quanto menor for o número de elementos, melhor é a leitura das obras pelo público, sendo a comunicação o fator mais importante dos seus trabalhos: «O importante é comunicar, o resto é brincadeira, mas brincadeira com função.» (Um Dia com... Sebastião Rodrigues, 9 nov. 1970, RTP Arquivos).

Este núcleo expositivo incluía ainda um relevante conjunto de cartazes e catálogos, entre os quais se destacavam os projetos realizados para a primeira exposição itinerante de obras da coleção da FCG, «Arte Portuguesa Contemporânea. Pintura, Desenho e Gravura da Colecção Calouste Gulbenkian» (1962).

Por toda a exposição, encontravam-se motivos frequentemente utilizados na obra de Sebastião Rodrigues: olhos, corações, pássaros, flores, o sol, a própria letra tipográfica, os entrelaçados e o traçado geométrico. Estes grafismos, conjugados com outros, resultavam de uma cuidada investigação sobre as origens de determinado tema ou, por vezes, de um equilíbrio entre erudição e raiz popular, que caracteriza o trabalho deste designer.

A exposição «Sebastião Rodrigues: Designer» incluiu ainda peças do acervo do MCG, como almofadas de veludo, desenhos e livros, cujos padrões inspiraram o trabalho do designer. Todas as peças foram dispostas em espaços compartimentados, mas sistematicamente abertos entre si, num percurso pontuado por sinalizações gráficas tomadas da obra de Sebastião Rodrigues.

Apesar de elogiada pela sua importância para a legitimação e reunião exaustiva da obra de Sebastião Rodrigues, a exposição foi criticada negativamente quanto a alguns aspetos. Por exemplo, Luísa Soares de Oliveira assinalou a falta de clareza em alguns pontos da montagem (Oliveira, Público, 19 ago. 1995). Essa opinião foi também partilhada por João Pinharanda, que refere a ausência de indicações cronológicas que guiassem de forma mais efetiva o visitante no percurso expositivo: «Uma única nota negativa prende-se com a falta de indicações cronológicas sistemáticas, o que faz com que o visitante se sinta literalmente perdido na vaga de imagens que lhe são apresentadas, sem saber em que décadas situá-las, valendo-se de memórias pessoais ou intuições estilísticas.» (Pinharanda, Público. Zap, [?], p. 22)

Durante a exposição, foi transmitida a reprodução de uma banda sonora compilada pelo radialista José Duarte, a qual era constituída pelas peças jazz favoritas de Sebastião Rodrigues e que o designer escutava enquanto trabalhava.

O catálogo de exposição, com design de Robin Fior, contou com textos de apresentação de Pedro Tamen, administrador da FCG, e de José Brandão, comissário da mostra, e ensaios assinados por José Cardoso Pires, Sena da Silva, Cristina Azevedo Tavares, Robin Fior, Henrique Cayatte, José Brandão, Aurelindo Ceia, Fernando Guedes, João Sá da Costa, Pilo da Silva, Francisco Avillez, Luís Duran e Orlando da Costa. Estas contribuições atestam as numerosas colaborações de Sebastião Rodrigues e o ainda maior número de pessoas que a sua obra tocou. O catálogo foi enviado a diversas entidades nacionais e internacionais, que elogiaram a «boa apresentação artística e gráfica, com referências de muito interesse histórico e leitura agradável» (Carta de Frederico Monteiro da Silva para Manuel da Costa Cabral, 19 set. 1995, Arquivos Gulbenkian, SBA 15525).

Em maio de 1996, a Associação Portuguesa de Museologia atribuiu à FCG o prémio de «Melhor Exposição 1995» pela mostra «Sebastião Rodrigues: Designer».

Carolina Gouveia Matias, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Três Estudos da Cabeça de uma Jovem

Antoine Watteau (1684-1721)

Três Estudos da Cabeça de uma Jovem, Inv. 2300

Desconhecido

1ª década do século XV / Inv. M28A/B

Desconhecido

Inv. 124A

Desconhecido

Inv. 1437

Desconhecido

Inv. 421

Almofada de veludo

Desconhecido

Almofada de veludo, Inv. 189A

Faixa de Renda

Desconhecido

Faixa de Renda, Inv. 1483

Panejamento de veludo

Desconhecido

Panejamento de veludo, Inv. 190

Panejamento de veludo

Desconhecido

Panejamento de veludo, Inv. 1512

"Para cantar as quatro estações nas casas de chás"

KIYOMINE, Torii

"Para cantar as quatro estações nas casas de chás", Inv. 1989

Antologia do Sultão Iskandar

Mahmud ibn Ahmad al-Hafiz al Husseini

Antologia do Sultão Iskandar, Inv. LA161


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Sebastião Rodrigues: Designer]

20 jun 1995 – 24 set 1995
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Maria Teresa Gomes Ferreira (à dir.)
Da esq. para a dir.: Manuel Costa Cabral, Roberto Gulbenkian, Sebastião Rodrigues e Pedro Tamen

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25161

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém brochura da exposição e convite para a inauguração. 1995 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15573

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém orçamentos, formulário de concessão de subsídios e seguros. 1994 – 1994

Arquivos Gulbenkian (Presidência), Lisboa / PRES 00261

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém formulários de concessão de subsídios e correspondência. 1991 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Educação), Lisboa / EDU 02956

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna, relatório e orçamentos. 1995 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 15525

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, apontamentos, atas de reunião, orçamentos e lista de obras cedidas pela coleção do Museu Calouste Gulbenkian. 1994 – 1997

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03039

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras cedidas pela coleção do Museu Calouste Gulbenkian, correspondência interna e orçamentos. 1994 – 1995

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03318

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência externa com pedidos de patrocínios para diversos eventos e projeto da exposição. 1994 – 1996

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03607

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna, orçamentos e material para o catálogo. 1994 – 1995


Exposições Relacionadas

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1989 / Sede Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

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