Daciano da Costa. Designer

Exposição retrospetiva do designer português Daciano da Costa (1930-2005), realizada em maio de 2001, com itinerância à cidade do Porto no ano seguinte. João Paulo Martins assegurou a curadoria da exposição, que visou percorrer a obra do designer ao longo de mais de 40 anos de trabalho.
Retrospective exhibition on Portuguese designer Daciano da Costa (1930-2005) held in May of 2001 and staged in Porto the following year. Curated by João Paulo Martins, the show traced the designer’s work over the course of more than 40 years of his career.

Em maio de 2001, foi organizada pelo Serviço de Belas-Artes (SBA) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) a exposição retrospetiva do designer português Daciano da Costa (1930-2005). O então diretor do SBA, Manuel da Costa Cabral, assegurou a coordenação-geral do projeto, apoiado na produção por Rita Fabiana. Foi convidado para a curadoria da exposição o designer e professor João Paulo Martins, antigo aluno de Daciano da Costa e colaborador no seu ateliê entre 1988 e 2002.

Considerado um dos mais destacados arquitetos e designers portugueses, Daciano da Costa foi uma presença decisiva e inovadora na história do design em Portugal, contanto com uma carreira com mais de quarenta anos e várias intervenções em projetos públicos e privados.

No final dos anos 60, um dos projetos em que Daciano interveio foi precisamente no design e na arquitetura de interiores do edifício Sede e Museu da FCG, e posterior remodelação de alguns interiores e mobiliário (1999-2001). A estreita relação entre Daciano e a Fundação Calouste Gulbenkian conferia por isso importância acrescida à concretização da presente mostra.

A iniciativa inseria-se igualmente no programa de exposições retrospetivas em áreas menos estudadas, iniciado pelo Serviço de Belas-Artes com a mostra «Sebastião Rodrigues: Designer» (1995) e continuado pelas exposições «Eduardo Nery, 1956-1996. Arte Pública. Arte Atelier» (1997) e «Robert C. Smith. A Investigação na História de Arte» (2000).

Em reunião do Conselho, a Administração da FCG aprovou com agrado a reabertura da Galeria de Exposições Temporárias da Sede, então acabadas de renovar por Daciano, exatamente com uma exposição retrospetiva dedicada ao designer que, «de modo muito significativo, nos anos 60 projectou grande parte dos interiores e do mobiliário do edifício da Fundação Calouste Gulbenkian» (Ata da reunião do Conselho de Administração, 25 mai. 2001, Arquivos Gulbenkian, SBA 21355).

Na mesma reunião ficou decidido que a exposição daria também início a um ciclo de três grandes exposições, a continuar em 2003 e 2005, dedicadas à apresentação do conjunto da obra dos autores dos projetos paisagístico (arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles) e arquitetónico (arquitetos Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy Athouguia) das instalações da Sede da Gulbenkian.

Como escreveu Emílio Rui Vilar, administrador da FCG: «Daciano da Costa trabalhou toda a vida para mudar o papel do Design em Portugal […]. É o que esta exposição e o seu catálogo querem dar a conhecer.» (Vilar, Daciano da Costa, 2001, p. 7)

Assim, na proposta que enuncia para o projeto, João Paulo Martins assegura que a exposição de Daciano, mais que um percurso sistemático ou a «mera enunciação cronológica» do trabalho do designer, pretende a apresentação de material que permita uma análise simultaneamente detalhada e global da proficuidade dos seus projetos: «pretende-se […] mostrar material que permita colocar em evidência nexos, sequências, cambiantes e ambiguidades, rupturas e continuidades, recorrências, sobreposições, e coincidências, enunciar hipóteses, lançar dúvidas.» (Martins, Memória descritiva, jul. 1999, p. 1, Arquivos Gulbenkian, SBA 21355)

A grande diversidade do material a reunir justificava uma correspondente variedade dos processos expositivos. Desse modo, a estrutura espacial desejou-se clara e ordenada, «não excessivamente fragmentada, ou dispersa» (Ibid.).

Na introdução que assina no catálogo da exposição, o curador refere que a mostra foi construída como uma «rede de cumplicidades», uma vez que tanto a exposição como o seu catálogo seriam o resultado de relações de amizade e profissionais cultivadas ao longo de vários anos. Tanto João Paulo Martins, como o designer José Brandão, autor do grafismo do catálogo, teriam sido alunos e colaboradores de Daciano da Costa. Como escreveu o curador: «Nada mais natural, portanto, que entender estas tarefas [produção da exposição e do catálogo] como uma extensão da prática profissional quotidiana, como uma consequência do acto do projecto e do seu ensino.» (Daciano da Costa, 2001, p. 9)

Nesse sentido, a estrutura da mostra e a seleção final do material gráfico a apresentar foram sendo determinadas em diálogo permanente com o curador, o autor da obra a expor e a equipa responsável pelo design gráfico da monografia.

Por carta, Daciano da Costa manifesta a sua total disponibilidade para colaborar: «[…] nenhuma outra iniciativa seria para mim tão honrosa quanto é a de realizar nessa Fundação uma exposição do meu trabalho de 40 anos de Design. É um apoio decisivo desse Serviço de Belas-Artes para o reconhecimento duma actividade de fronteira entre as Artes Plásticas e a Arquitectura em momento de reflexão crítica para quem fez dessa Disciplina um ofício e uma militância. Por tudo isso lhe ficarei muito grato e inteiramente ao dispor para prestar muito empenhadamente toda a colaboração que estiver ao meu alcance.» (Carta de Daciano da Costa para Manuel da Costa Cabral, 14 mar. 2000, Arquivos Gulbenkian, SBA 21355)

Segundo o curador, a sua principal intenção seria a de revelar os bastidores do ato criativo: «mostrar o labor quotidiano que antecede e suporta o produto final; expor a obra mas também o método seguido para a sua realização» (Daciano da Costa, 2001, p. 9).

A exposição estruturou-se, portanto, ao longo de seis temas, que compreenderam alguns dos trabalhos mais relevantes do designer, acompanhados de outros inéditos. O material reunido, de natureza muito diversa (desde esboços, desenhos de apresentação, desenhos técnicos, maquetas e protótipos, peças de mobiliário e fotografias de obras concretizadas), procurou recriar a complexidade do processo de cada projeto exibido. Segundo João Paulo Martins: «Quisemos que cada objecto pudesse ser apreendido não como uma peça isolada – um ícone único e extraordinário –, mas integrado num contexto determinado e resultado de uma actividade colectiva, que engloba a equipa de atelier e todos os intervenientes na sua materialização.» (Ibid., pp. 9-10)

A par do material supracitado, foram incluídos elementos de alguma forma associados aos projetos de Daciano e que apoiavam a leitura do seu contexto (notas pessoais, retratos do autor e de outros intervenientes, fotografias do ateliê e de viagens). Uma série de textos sucintos acompanhou igualmente a exposição, com comentários sobre o material reunido e apontando pistas de leitura que o catálogo desenvolveu.

Ao longo do ano 2000, foi realizado o levantamento fotográfico de peças e intervenções em interiores de Daciano da Costa a figurarem na exposição e no catálogo. Esse trabalho, resultou do subsídio atribuído pelo Serviço de Belas Artes da Fundação Gulbenkian ao Arq. João Paulo Martins, e foi realizado pelo estúdio PH3, através da sua equipa de fotógrafos, dirigida por Manuel Silveira Ramos. Para orientação de objetivos, o curador da exposição acompanhou de perto as sessões, tanto em interiores como em espaços exteriores. À FCG competiu garantir todos os contactos necessários com as instituições e outros emprestadores, bem como assegurar as devidas autorizações, condições de trabalho e transporte de peças para estúdio. Efetuadas nas regiões de Lisboa, Porto, Algarve e Madeira, o número aproximado de reproduções foi de cerca de 600 imagens: 170 de peças em estúdio, 120 nos locais intervencionados e 310 de reprodução em estúdio. Esta coleção está hoje disponível para consulta na Biblioteca de Arte da Gulbenkian (CFT179).

Em seguida, discriminam-se as seis secções temáticas que comporiam o percurso expositivo e evidenciariam as «múltiplas ramificações e a constante procura de novas actividades do projecto que tem caracterizado o percurso profissional de Daciano da Costa» (Ibid., p. 10).

Com o grupo de secções expositivas, procurou-se tirar partido da diversidade, da quantidade e da qualidade dos materiais disponíveis, de forma a pôr em evidência os aspetos considerados mais importantes no processo de cada projeto: «O efémero e o teatral» (que incorporou trabalhos de design de exposições, arquitetura efémera e de interiores); «O design como detalhe da arquitectura» (arquitetura de interiores e equipamento, grafismos e mobiliário de salas especiais – gabinetes, salões nobres, sala de reuniões, anfiteatros, restaurantes, bibliotecas, átrios, etc.); «O grafismo como elemento da arquitectura» (sistemas de sinalização); «O design como fragmento da cidade» (mobiliário e equipamentos urbanos, design urbano, comunicação visual gráfica); «Objectos domésticos» (mobiliário, utensílios de cozinha, faqueiros, loiças, torneiras, etc.); «Mobiliário para trabalho» (sistemas de mobiliário para escritórios, sala de esperas, serviços, etc.).

A inauguração da exposição foi também pretexto para a condecoração de Daciano da Costa, que naquele dia recebeu do presidente da República Jorge Sampaio a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

O exaustivo catálogo da obra de Daciano, editado pela FCG, com grafismo de José Brandão e com levantamento fotográfico do estúdio PH3, contém testemunhos de companheiros de percurso do designer, estudos de investigadores e os textos do curador. Os autores dos textos são Emílio Rui Vilar, António Sena da Silva, José Pedro Martins Barata, Jorge Spencer, José Brandão, Maria Helena Souto, Ana Tostões, Carlos Duarte, Rui Afonso Santos e João Paulo Martins. O catálogo é completado pela lista de projetos apresentados na exposição e respetiva reprodução; a cronologia do ateliê Daciano da Costa e a biografia do designer.

A par do catálogo, foi publicado um guia da exposição, disponibilizado ao longo do percurso expositivo. A publicação, de edição bilingue, em português e em inglês, inclui textos de João Paulo Martins e de Rita Fabiana, e a lista das obras e projetos presentes na mostra.

O acolhimento por parte da imprensa especializada foi positivo, como testemunha o artigo que Rui Afonso Gil assina na Arte Ibérica: «A exposição Daciano da Costa, Designer instituiu-se enquanto uma mostra exaustiva e imprescindível sobre a actividade do mais relevante dos designers portugueses. […] constituiu-se não só como excelente oportunidade para conhecer o importante trabalho desenvolvido por Daciano ao longo de mais de quatro décadas, como, também, uma justíssima homenagem prestada ao mais relevante dos designers portugueses.» (Gil, Arte Ibérica, n.º 47, 2001, pp. 46-47) Rui Afonso Gil salienta não só a «vastidão impressionante de objectos (mobiliário, equipamento, cutelaria, tapeçaria…), maquetes e projectos, [que] elucidava perfeitamente o visitante sobre a importância da actividade de Daciano da Costa», mas também o «excelente e completíssimo» catálogo (Ibid.).

Durante uma entrevista concedida à jornalista Rosa Amaral (para o jornal Independente), que teve lugar no espaço da exposição, Daciano da Costa depara-se, ao percorrer a galeria, com alguns objetos domésticos da sua autoria e de uso corrente do quotidiano dos portugueses, e com outros que, embora vencedores de prémios de design, nunca chegaram a ser comercializados. Sobre esse conjunto de objetos, notou o designer: «É uma exposição cheia de sucessos e insucessos. É como a vida!» (Amaral, Independente, 1 jun. 2001, p. 14)

No contexto da exposição, a RTP2 deslocou-se à FCG a fim de captar imagens para o programa televiso «Por Outro Lado», dedicado a Daciano da Costa. O vídeo teve a realização de Rui Nunes e a produção de Alice Milheiro. A entrevista foi conduzida por Ana Sousa Dias e, entre outros assuntos, é abordada a colaboração profissional de Daciano com a FCG, e registadas imagens da mostra na galeria da Fundação.

Como atividades paralelas à exposição, foram organizadas várias visitas guiadas, conduzidas pelo curador e pelos arquitetos Patrícia Pedrosa e Carlos Carrilho. As visitas guiadas foram bastante concorridas, sobretudo por alunos e professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e de outras cidades.

Finda a exposição em Lisboa, a FCG foi contactada pela Associação para o Museu dos Transportes e Comunicações da cidade do Porto, para proceder à apresentação e coorganização da mostra de Daciano da Costa naquela cidade. A inauguração da exposição no Porto teve lugar no Museu dos Transportes e Comunicações, em janeiro de 2002.

Importa ainda mencionar que, a pretexto da exposição retrospetiva apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, Daciano da Costa foi o vencedor, em 2001, do Prémio de Arquitetura da AICA, atribuído pela Associação Internacional de Críticos de Arte e pelo Ministério da Cultura (Ata de reunião de júri do Prémio AICA/MC).

Joana Brito, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Daciano da Costa: Designer]

19 mai 2001
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal
Visita(s) guiada(s)

[Daciano da Costa: Designer]

jun 2001
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Emílio Rui Vilar (à esq.), Daciano da Costa (ao centro) e Jorge Sampaio (à dir.)
Jorge Sampaio (à esq.), Emílio Rui Vilar (ao centro) e João Paulo Martins (à dir.)
Jorge Sampaio e Emílio Rui Vilar (ao centro) e João Paulo Martins (à dir.)
Jorge Sampaio e João Paulo Martins
Emílio Rui Vilar (à esq.), José Blanco (ao centro) e Daciano da Costa (à dir.)
Emílio Rui Vilar (à esq.), Jorge Sampaio (ao centro) e João Paulo Martins (à dir.)
Jorge Sampaio e Daciano da Costa
Jorge Sampaio (à esq.), João Paulo Martins (ao centro) e Emílio Rui Vilar (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21355

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém guia e projeto da exposição, correspondência interna e externa, e plantas da exposição. 2000 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21357

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material gráfico da exposição, maquete para a capa do catálogo e correspondência com os autores dos textos de catálogo. 2000 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21358

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém informações sobre visitas guiadas, recortes de imprensa, pedidos e envio de catálogos. 2001 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21359

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Cópias impressas e em suporte disquete dos textos de catálogo. 2000 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21360

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação relativa à itinerância da exposição pela cidade do Porto: contactos com emprestadores, materiais gráficos e recortes de imprensa. 2001 – 2002

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 24605

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém documentação relativa aos pedidos de autorização para fotografar instituições representativas da obra de Daciano da Costa. 2001 – 2004

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 25173

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém material gráfico da exposição (guia da exposição, convites e marcador de livro). 2001 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA-S004-P0104/04-D01455

Coleção fotográfica, cor: aspetos e inauguração (FCG, Lisboa) 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA-S004-P0104/04-D01456

Coleção fotográfica, cor: aspetos (AMTC, Porto) 2002

Biblioteca de Arte Gulbenkian, Lisboa / CFT179

Coleção fotográfica, cor: 527 diapositivos (9 x 12 cm) 2000 – 2001


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