
Biologia Celular da Infeção Viral
Maria João Amorim
O vírus Influenza A (vírus da gripe) é uma das principais causas de doença contagiosa respiratória aguda em humanos, dando origem a epidemias sazonais e esporadicamente pandemias.
Apesar da vigilância apertada sobre as estirpes em circulação mundial, e a implementação de programas de vacinação anuais, este patógeno é responsável por alta mortalidade, morbilidade e grande prejuízo económico.
É imperativo o desenvolvimento de novas maneiras de controlar a infeção.
A identificação dos fatores quer no hospedeiro quer no vírus necessários para uma infeção produtiva, assim como das vias regulatórias envolvidas, pode conduzir ao desenvolvimento de novas terapias.
O laboratório de Biologia Celular da Infeção Viral, está interessado em entender as interações entre o vírus da gripe A e do hospedeiro a vários níveis por vários motivos:
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Projetos
A mitocôndria foi inicialmente descrita como o organelo central de produção energética da célula.
Seguidamente foi identificado como tendo um papel crucial no controlo dos processos de morte celular, e mais recentemente, estes organelos revelaram-se como essenciais à resposta imune do hospedeiro. Em particular, a mitocôndria controla a ativação de interferão, que constitui a primeira linha de defesa contra vírus. Não é portanto, surpreendente que os vírus interfiram com as mitocondriais, sendo a questão compreender como e porquê.
A função mitocondrial está intimamente relacionada com a morfologia e distribuição dentro da célula, que são processos altamente dinâmicos, pelos quais a mitocôndria responde a estimulos. A forma como o vírus da gripe A modela estes parâmetros, bem como a função mitocondrial está a ser investigado, bem como o motivo pelo qual se observa a mitocondria .
O vírus da gripe constitui um problema sério de saúde pública, responsável pela morte anual de 250.000-500.000 pessoas.
Causas que contribuem para a patogênese viral incluem propriedades intrínsecas das estirpes em circulação, pre-imunização da população,e eficácia da vacina. As propriedades intrínsecas da estirpe de gripe A regulam a capacidade do vírus contro-balançar os mecanismos de defesa do hospedeiro. O nosso laboratório identificou uma nova forma do vírus controlar o complemento, uma componente fundamental na resposta imune.
O complemento faz a ponte entre a resposta imune inata e adaptativa, orquestrando a intensidade da resposta imune e inflamatórios. A resposta do complemento durante a infecção é importante porque casos com quadros infecciosos severos estão associados à ativação excessiva do complemento.
O nosso objetivo é compreender os mecanismos pelos quais o vírus modula a função do complemento, e desta forma contribuir com estratégias para mitigar infecções severas.
A montagem de um vírus numa célula é processo fascinante de biologia molecular. Este processo ocorre depois do vírus penetrar uma célula e se replicar, produzindo proteínas e material genético em distintos organelos celulares, que depois se têm se encontrar num local específico para a montagem. No caso do IAV este processo é particularmente exigente, já que o genoma viral encontra-se dividido em oito unidades independentes. A formação do complexo genómico é um processo seletivo, já que os viriões normalmente não têm mais de 8 segmentos e cada um deles não se repete. O local na célula onde o genoma forma um complexo ainda não foi identificado.
Recentemente, o nosso grupo de investigação demonstrou que o IAV estabelece inclusões virais que favorecem a infeção.
Deste trabalho, resultaram dois conceitos interessantes:
- as inclusões virais têm propriedades de líquidos;
- existe associação estreita das inclusões virais e o retículo endoplasmático. Nós propomos que as inclusões virais são o local de montagem dedicado à montagem dos genomas do IAV.
O nosso laboratório está presentemente a investigar estes tópicos e a avaliar o seu potencial como alvos terapêuticos antivirais.
Publicações
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