Uma Obra em Foco. A Mobília de Quarto do Actor Talma

Iniciativa «Uma Obra de Arte em Foco»

Com o intuito de destacar e dar a conhecer novas obras de arte ao público, o Museu Calouste Gulbenkian decidiu implementar uma iniciativa denominada «Uma Obra de Arte em Foco», que, tal como está implícito no título, focava uma peça ou um conjunto de peças que, por razões várias, não foram incluídas na mostra permanente inicial do Museu.
The Calouste Gulbenkian Museum launched the “A Work in Focus” initiative in order to showcase and introduce lesser-known artworks to the public. As the name suggests, the initiative focused on an artwork or a collection of works which, for whatever reason, had not been included in the Museum’s original permanent display.

A iniciativa denominada «Uma Obra em Foco», como o título sugere, põe em destaque uma peça ou um conjunto de peças da Coleção que, por razões de ordem diversa, não foram incluídas na mostra permanente do Museu Calouste Gulbenkian. A presente mostra foi dedicada à mobília do quarto de François-Joseph Talma (1763-1826) – ator da Comédie-Française, grande dramaturgo e amigo íntimo de Napoleão Bonaparte –, adquirida em Paris, em 1929, por Calouste Gulbenkian.

Adquirido na venda da Coleção Ney, príncipe de Moskowa, este conjunto de peças de mobiliário – que havia decorado o palacete neoclássico na Rue de la Tour-des-Dames, morada da residência do ator – serviu para ornamentar a própria casa do colecionador arménio na sua famosa residência na Avenue d'léna, em Paris. Apesar de não ter sido incluído na exposição permanente do Museu Calouste Gulbenkian (MCG), nunca deixou de ser considerado «um belíssimo conjunto de mobiliário, em limoeiro facheado e mogno» («O quarto de Talma», O Dia, 26 jul. 1999).

A «Chambre de Talma», assim denominada no catálogo de venda da Coleção Ney, já tinha sido exposta em 1976, na mostra «Exposição Evocativa de Calouste Gulbenkian. XX Aniversário da Fundação, 1956-1976», e em 1997 foi inserida numa outra exposição cujo tema principal era uma apresentação das reservas do Museu (Uma Obra em Foco. A Mobília de Quarto do Actor Talma, 1999).

Com esta mostra de 1999, patente na Galeria de Exposições Temporárias do MCG, o foco foi dado a uma cama – esta concebida não para quarto do ator, mas para o da sua mulher – uma cómoda de batentes, dois chiffonniers, quatro poltronas, duas cadeiras e duas mesas de cabeceira. Estas peças, executadas entre os anos de 1825 e 1826, são atribuídas ao famoso ebanista da época, Joseph-Marie Bénard, ativo entre aproximadamente 1820 e 1836.

Beja Santos, no artigo que redigiu para o Jornal de Notícias, elabora uma reflexão sobre o papel dos museus e as mudanças que nestes se operou ao longo das épocas. A versatilidade do espaço museológico intensificou-se, como foi possível observar no âmbito desta mostra, que segundo o autor do artigo pretendeu «tirar partido das formas neoclássicas de uma linda madeira de limoeiro da Índia», convidando o visitante a experienciar «uma tripla emoção de riqueza, teatralidade e moda» (Santos, Jornal de Notícias, 17 jul. 1999). E, apesar de a mobília não se encontrar completa, o espectador terá tido o privilégio de contemplar vários testemunhos das artes decorativas do século XVIII, «seguramente um dos períodos de maior capacidade criadora, em que pontificam a pompa, a preciosidade e a exuberância das madeiras exóticas» (Ibid.).

De acordo com a opinião da conservadora do MCG, Maria Isabel Pereira Coutinho, o elemento mais «espetacular» seria a cama, com um modelo próximo das criações de Percier e Fontaine, com cabeceira em «barco», destacando-se pelas suas sumptuosas decorações vegetalistas em bronze cinzelado e em dourado, mas, principalmente, pelas nove placas de cerâmica, distribuídas ao longo do leito, as quais apresentam representações de musas do teatro (Uma Obra em Foco. A Mobília de Quarto do Actor Talma, 1999).

O catálogo publicado no âmbito da mostra – integralmente redigido por Maria Isabel Pereira Coutinho e editado em português e inglês – apresenta os aspetos históricos ligados ao mobiliário francês na época da Restauração, dividindo-se, posteriormente, entre as várias categorias de peças exibidas, todas elas acompanhadas por um pequeno texto explanatório da autoria da conservadora do MCG.

A partir da observação do material fotográfico disponibilizado pelo Arquivo Fotográfico do MCG, é possível fazer uma recriação desta «Obra em Foco», patente na Galeria de Exposições Temporárias do MCG entre 16 de junho e 31 de agosto de 1999, e viajar até aos ambientes aristocráticos do Palácio de Versalhes.

O êxito que coroou esta edição de «Uma Obra em Foco» ter-se-á devido não só às opções de Maria Isabel Pereira Coutinho, mas também à casa Sousa e Holstein, responsável pelo fornecimento das sedas e galões que forraram as cadeiras, do papel de parede utilizado nas paredes e de outros tecidos usados para confecionar uma colcha e forrar um rolo do mobiliário em destaque.

Joana Atalaia, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Joseph-Marie Bénard (act. c.1820-1836)

c.1825 / Inv. 617A

Joseph-Marie Bénard (act. c.1820-1836)

c. 1825 / Inv. 617B

Joseph-Marie Bénard (act. c.1820-1836)

c.1825 / Inv. 617C

Joseph-Marie Bénard (act. c.1820-1836)

c.1825 / Inv. 617D

Joseph-Marie Bénard (act. c.1820-1836)

Inv. 617E


Publicações


Fotografias


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Museu Calouste Gulbenkian), Lisboa / MCG 03622

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência antiga com museu francês sobre o quarto do ator Talma, correspondência interna, preparação do mobiliário a expor, orçamento de tradução para o catálogo, faturas, pedido de fotografias de obras, recortes de imprensa e material de divulgação. 1999 – 1999


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