Esta exposição nasceu de uma troca de correspondência entre Jorge Martins (1940) e Jorge Molder (1947), durante a qual os dois artistas partilharam entre si desenhos e fotografias. Esta correspondência, que João Fatela designou como «punhados de luz», daria origem à publicação de um catálogo e à realização desta exposição.

A ideia partiu dos dois artistas e foi proposta a Madalena Perdigão e ao presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. O título da exposição, «O Fazer Suave de Preto e Branco», seria retirado de uma carta do artista do renascimento português Francisco de Holanda (1517-1584).

A exposição apresentou 20 trabalhos de cada um dos artistas, balizados entre o ano de 1981 e finais de 1984, e procurou dar a ver um diálogo entre as obras. A data de inauguração, a fim de cativar uma maior quantidade de público, coincidiu com a da estreia do espetáculo comemorativo do centenário do escritor Aquilino Ribeiro (1885-1963) e com o início do colóquio «O Preto e o Branco», organizado pelo ACARTE no âmbito desta exposição e coordenado por Eduardo Prado Coelho. Inicialmente, terá havido a intenção de atribuir ao colóquio o título «Encontros com Lúcifer», mas Madalena Perdigão rejeitá-lo-ia, «receosa de que os futuros participantes viessem à espera de grandes especulações filosóficas-luciferianas» (Ofício de Madalena Perdigão para José de Azeredo Perdigão, 19 nov. 1985, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00324).

A proposta apresentada pelos artistas ao presidente da FCG tinha como tema principal a «Luz» e sugeria vários oradores para o colóquio, nomeadamente nomes relacionados com a pintura, o cinema, a fotografia e a filosofia.

Inicialmente, foi intenção dos artistas e do ACARTE realizar vários espetáculos associados ao tema da exposição «fotografia, desenho e luz», sendo, inclusive, ponderada a realização de uma semana multimédia, um concerto de música de câmara do compositor Emmanuel Nunes – com quem os artistas consideravam ter «afinidades formais» – e um espetáculo de dança que seria encomendado à companhia de bailado da Fundação Calouste Gulbenkian. Estes projetos, no entanto, não se concretizariam.

Em carta enviada posteriormente a Madalena Perdigão, Jorge Molder refere a boa aceitação que a exposição teve junto da crítica estrangeira (Carta de Jorge Molder para Madalena Perdigão, 5 mai. 1985, Arquivos Gulbenkian, ACARTE 00324).

Ana Lúcia Luz, 2017