Dacosta. Pomar. Cargaleiro. Jorge Martins. 4 Peintres Portugais à Paris

Programa «Portugal 1989. Phare sur l'Actualité. Peinture, Cinéma, Littérature»

Exposição com obras dos pintores portugueses António Dacosta, Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro e Jorge Martins, realizada por ocasião da visita oficial do presidente da República Mário Soares a França. Os artistas selecionados eram quatro bons exemplos de artistas emigrados, ou exilados, que se conseguiram adaptar e integrar no meio artístico parisiense, contribuindo para a divulgação da arte portuguesa.
Exhibition of works from Portuguese painters António Dacosta, Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro and Jorge Martins, held for the official visit to France of Portuguese President Mário Soares. The artists on display were selected for their exemplary ability to adapt and integrate into the Parisian art scene, due to emigration or exile, and their contribution to the dissemination of Portuguese art.

Exposição coletiva de pintura portuguesa, realizada em Paris por ocasião da visita oficial a França do presidente da República Mário Soares. À semelhança da colaboração prestada pelo Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) noutras visitas oficiais do chefe de Estado, foi solicitado o apoio para a organização de uma exposição de arte portuguesa, com o intuito de «mostrar um pouco da moderna pintura portuguesa» e de «apoiar a divulgação da cultura portuguesa no estrangeiro», numa altura em que se pretendia reforçar as relações diplomáticas com França, país que assumia, à data, a presidência das Comunidades Europeias [CC1] (Ofício da Casa Civil do Presidente da República, 27 set. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00195).

A exposição foi organizada conjuntamente pelo CAM e pela União Latina, tendo como comissários José Sommer Ribeiro, então diretor do CAM, e Gaston Diehl, crítico de arte e conselheiro para as artes plásticas da União Latina. Para esta última instituição, a divulgação da latinidade, baseada na familiaridade entre países com referências civilizacionais e culturais comuns, deveria estreitar-se através das artes plásticas, enquanto veículo capaz de reforçar a reciprocidade desses laços e, simultaneamente, dar a conhecer a vitalidade e a originalidade das práticas artísticas e alguns aspetos do pensamento cultural dos países em diálogo (Dacosta, Pomar, Cargaleiro, Pomar, Jorge Martins: 4 Peintres Portugais à Paris, 1989).

Os critérios orientadores desta mostra foram deixados ao cuidado do CAM (projeto da exposição, seleção dos artistas, período consagrado), embora direcionados para as relações artísticas entre França e Portugal. O processo de montagem da exposição foi simplificado, uma vez que a maioria das obras provinha do país organizador.

A exposição teve lugar no Palais de Tokyo, em Paris, e integrou 66 pinturas de quatro artistas portugueses, cujos percursos artísticos se desenharam também em Paris: António Dacosta, Júlio Pomar, Manuel Cargaleiro e Jorge Martins. A maioria destas obras era representativa do trabalho realizado pelos artistas durante a década de 1980, à exceção da representação de Manuel Cargaleiro, cujas obras mais recuadas datavam do final da década de 1960.

Os artistas selecionados eram quatro bons exemplos de artistas emigrados, ou exilados, que se conseguiram adaptar e integrar no meio artístico parisiense, expondo regularmente em galerias e museu franceses e contribuindo dessa forma para a divulgação internacional da arte portuguesa. É ainda importante notar que esta integração foi efetiva, comprovada pela atividade comercial e pelo circuito das obras: as obras representadas nesta mostra foram maioritariamente cedidas por colecionadores privados e galerias comerciais francesas.

António Dacosta (1914-1990) foi, entre estes quatro artistas, o primeiro a instalar-se em Paris, no início de 1940. O governo francês atribui-lhe, anos mais tarde, uma bolsa de especialização artística. Depois de um interregno na pintura de cerca de trinta anos, período em que se dedica à atividade de crítico de arte na imprensa escrita internacional, retoma a atividade na década de 1980, praticando uma pintura depurada, marcada por um vocabulário próprio e simbólico, bastante distinto do período inicial surrealista.

No início dos anos de 1960, o ambiente político vivido em Portugal leva o pintor Júlio Pomar (1926-2018) a fixar-se em Paris, onde começou a expor com regularidade. Ainda nesta década, entre 1964 e 1966, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, integrado no grande fluxo de artistas bolseiros da FCG que se instalam em França.

Orientado pela coerência das suas preocupações com as composições modulares e espaciais, Manuel Cargaleiro (1927) foi outro dos artistas apoiados com as bolsas da FCG, depois da sua estadia em Itália.

Foi também na década de 1960 que Jorge Martins (1940) partiu para Paris, dedicando-se a pesquisas de luz e de cor na sua atividade pictórica, contando, para tal, com o apoio do casal Vieira da Silva-Arpad Szenes, que acolheu muitos jovens artistas portugueses recém-chegados à capital francesa.

No catálogo da exposição, José Sommer Ribeiro sublinhou a importância que o centro artístico parisiense exerceu na arte portuguesa do século XX, desde logo no despontar do modernismo português, quando, no início do século, Eduardo Viana e Amadeo de Souza-Cardoso se instalaram em Paris, ou mais tarde, já no final da década de 1920, com a partida de Maria Helena Vieira da Silva para aquela cidade (Dacosta, Pomar, Cargaleiro, Pomar, Jorge Martins: 4 Peintres Portugais à Paris, 1989). Sommer Ribeiro identificava uma dupla motivação para a emigração de artistas portugueses para França: a necessidade de contactar com valores artísticos atuais e de viver em liberdade criativa (Ibid.).

Também Gaston Diehl destacou a ação dos pioneiros do modernismo português, dando relevância aos contactos estabelecidos com o meio artístico da época (Amedeo Modigliani, ou o casal Delaunay). Para o autor, as relações artísticas entre Portugal e França tinham uma correlação com o ambiente político e, consequentemente, com o exílio (Ibid.).

No que se refere às omissões, numa exposição em pequeno formato, que não poderia cobrir a totalidade dos artistas portugueses que se fixaram em Paris a partir de finais da primeira metade do século XX, Gaston Diehl não deixaria de fazer menção ao trabalho de várias gerações de artistas portugueses que captaram a atenção do público e da crítica francesa e que não couberam nesta exposição. O crítico fez ainda referência ao impulso dado aos jovens artistas, a partir da criação do CAM, em 1984.

A inauguração foi marcada pela presença de Mário Soares e de François Mitterrand, chefes de Estado de Portugal e de França, bem como de numerosas personalidades da imprensa francesa e estrangeira, na qual foi também anunciada a criação do Prémio Internacional de Pintura Portuguesa União Latina, de atribuição bienal, cuja primeira edição viria a ser atribuída ao artista Pedro Calapez (1953), em 1990.  

No âmbito desta visita oficial, a Casa Civil do Presidente da República de Portugal, a Embaixada de Portugal em França, o Instituto Português de Cinema e a Fundação Calouste Gulbenkian promoveram um programa cultural abrangente (ciclo de cinema, colóquios, emissões de rádio, vinhos e gastronomia), consagrado à cultura portuguesa contemporânea, que decorreu em vários locais da capital francesa.

Numa carta da diretora do Programa Cultural da União Latina, Elisabeth de Balanda, dirigida a José Sommer Ribeiro, foi noticiado «o sucesso» da exposição e o volume expressivo de vendas dos catálogos da exposição como sendo um bom indicador da boa receção que teve junto do público (Carta de Elisabeth de Balanda para José Sommer Ribeiro, 20 dez. 1989, Arquivos Gulbenkian, CAM 00195).

Filipa Coimbra, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Eventos Paralelos

Programa cultural

Portugal 1989. Phare sur l'Actualité. Peinture, Cinéma, Littérature

1989
Le Latina
Paris, França
out 1989
Palais de Tokyo
Paris, França

Publicações


Documentação


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00195

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém empréstimos, correspondência recebida e expedida, lista de obras, seguros, material cartográfico, correspondência interna, programa cultural e elementos para o catálogo. 1989 – 1990


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