António Dacosta. Scène Ouverte

Exposição da obra pictórica de António Dacosta (1914-1990). Selecionou obras das duas principais fases criativas do artista (década de 1940; e período de 1975 a 1990). A curadoria coube a José Luís Porfírio, que ensaiou uma abordagem não cronológica posteriormente aprofundada na grande antológica do pintor no Centro de Arte Moderna, em 2014.
Exhibition of pictorial works by António Dacosta (1914-1990) from the artist’s two main phases: the 1940s and the period between 1975 and 1990. Curated by José Luís Porfírio, the non-chronological display would later be extended in a retrospective exhibition of the painter’s work held at the Modern Art Centre in 2014.

António Dacosta (1914-1990) viveu mais de metade da sua vida em Paris, cidade onde se estabelecera em 1947 e onde morreria em dezembro de 1990. Contudo, o seu vasto currículo de exposições regista apenas nove mostras em França, todas elas após 1980. Destas, oito ocorreram em Paris – quatro em vida e quatro postumamente (António Dacosta. Catálogo Raisonné Digital. Exposições).

A Delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em França esteve envolvida na organização de cinco dessas iniciativas, com destaque para três das quatro individuais do artista açoriano até hoje realizadas na capital francesa. «Scène Ouverte» foi a última dessas exposições em nome próprio até à data. Com curadoria de José Luís Porfírio, esteve patente de 9 de fevereiro a 19 de março de 2007, no Centre Culturel Calouste Gulbenkian. Revisitou os dois ciclos de maior criatividade do artista: a fase surrealista da década de 1940, e os seus últimos quinze anos de vida, em que Dacosta regressa a uma prática artística assídua.

O nome da exposição cita o título da pintura Cena Aberta, de 1940, uma das mais destacadas obras surrealistas de Dacosta, que se encontra incorporada na coleção do Centro de Arte Moderna (Inv. 80P123). Datadas do mesmo ano, e pertencentes ao mesmo acervo, foram também expostas as pinturas Antítese da Calma (Inv. 80P121) e Serenata Açoriana (Inv. 83P122). Juntamente com as telas Gasogéneo (com data atribuída de 1939-40) e A Festa (1942), perfaziam as cinco obras da primeira fase surrealista apresentadas nesta ocasião.

Por volta de 1950, cerca de três anos depois de chegar a Paris, Dacosta interrompe quase totalmente a criação pictórica, até meados da década de 70. No final dos anos de 1940, o artista ainda realiza importantes mas escassas experiências não figurativas, na orla do abstracionismo parisiense do pós-guerra. Essas experiências não foram expostas nesta mostra de 2007, que saltava esse período de abrandamento, em que o autor se dedica maioritariamente à crítica de arte e à realização de alguns retratos.

É já em 1975 que Dacosta regressa intensamente à pintura, com trabalhos como as paisagens semicirculares da ilha Terceira, contempladas nesta exposição. A mostra prosseguia finalmente pelos anos de 1980, assinalando a grande proliferação da obra de Dacosta nessa década. Incluíram-se pinturas de séries como Memória, Fonte de Sintra, Em Louvor de…, Tau ou A Menina da Bandeira. Esta última série foi representada pela pintura A Menina da Bandeira IV, de 1981, pertencente à coleção do Centro de Arte Moderna (Inv. 12DP3341). Enuncia uma personagem que volta a aparecer na obra A Adivinha Deolinda, de 1984, exemplificando como alguns signos demarcados vão tecendo correspondências entre as diversas facetas da chamada «mitografia» de Dacosta. Apresentaram-se também obras aparentemente mais autónomas, como Dois Limões em Férias (1983), Não Há Sim Sem Não – O Eremita (1985) ou duas assemblagens de 1989 e 1990, que iam testando essas afinidades e dissonâncias simbólicas ao longo deste segundo e último ciclo criativo do autor.

Para esta iniciativa de 2007, o Centre Culturel Calouste Gulbenkian editou um pequeno catálogo de exposição em que se destacam a contribuição do historiador de arte Alain Tapié e o texto curatorial de José Luís Porfírio (António Dacosta. Scène Ouverte, 2007). Neste, o crítico de arte esclarece algumas das premissas que orientaram a sua organização das obras, explorando relações temáticas em detrimento de uma abordagem mais cronológica.

Porfírio voltaria a optar por esta estratégia ao comissariar a grande antológica de Dacosta no Centro de Arte Moderna em 2014. Esse projeto expositivo, realizado no âmbito do centenário do nascimento do artista, mereceu itinerâncias no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, e no Museu de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, terra natal de Dacosta. O centenário foi também acompanhado pelo lançamento do Catálogo Raisonné Digital de António Dacosta – projeto de investigação promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, materializado na primeira plataforma online do género dedicada a um artista português.

A consulta do raisonné revela o papel ativo da Delegação da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) em França para a promoção da obra de Dacosta, desde os anos de 1980. Anteriormente a «Scène Ouverte», o espaço da Avenue d'Iéna tinha recebido várias exposições em que figuraram obras do autor. Destaque para as individuais «L'Artiste du Mois. António Dacosta» e «António Dacosta. Peintures Intimes» (2000).

A primeira grande retrospetiva de Dacosta foi realizada em 1988, com a participação do artista, e igualmente organizada pela FCG. Decorreu primeiro em Lisboa, na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG (piso 0), e depois no Porto, na Casa de Serralves.

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Antítese da calma

António Dacosta (1914-1990)

Antítese da calma, c.1940 / Inv. 80P121

Cena aberta

António Dacosta (1914-1990)

Cena aberta, c.1939 / Inv. 80P123

Menina à bandeira IV

António Dacosta (1914-1990)

Menina à bandeira IV, 1981 / Inv. 12DP3341

Serenata Açoreana

António Dacosta (1914-1990)

Serenata Açoreana, c.1940 / Inv. 83P122


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