António Dacosta

Primeira grande exposição retrospetiva de António Dacosta, pintor singular cuja obra se divide em duas fases independentes. Integrando cerca de 120 obras, a mostra apresentou trabalhos inéditos ou pouco vistos, até à data, de uma figura de mediação na clivagem geracional do século XX.
First large-scale retrospective exhibition on António Dacosta, an exceptional painter whose work can be categorised into two distinct phases. Featuring around 120 artworks, the show included unknown or little-known works from a figure who was considered a mediator between the generational divide of the 20th century.

Organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), no Centro de Arte Moderna (CAM), esta foi a primeira grande exposição retrospetiva de António Dacosta (1914-1990), integrando cerca de 120 obras, inéditas ou pouco divulgadas, deste pintor português.

Artista singular, António Dacosta teve um percurso artístico que a historiografia da arte divide em dois ciclos, separados por um interregno, longa «fase de silêncio» em que produziu pouco e irregularmente.

O primeiro ciclo, compreendido entre 1940 e 1948-49, foi marcado por um contexto sociopolítico particular e pela clivagem geracional em relação aos restantes artistas ativos naquele período: «A incerteza trazida pelas guerras que cercam o seu país, a Guerra Civil de Espanha primeiro, e a 2.ª Guerra Mundial logo a seguir, tem fortíssima tradução na pintura, no desenho e na ilustração de António Dacosta no início dos anos de 1940, num surrealismo que é um teatro da inquietação, uma “Antítese da Calma” portuguesa onde a consciência e o inconsciente trabalham de mãos dadas.» (Porfírio, António Dacosta. Catálogo Raisonné)

Sobre o percurso inicial do pintor, Fernando Rosa Dias refere também: «Outra curiosidade para o enquadramento do primeiro ciclo de Dacosta é o seu lugar relativamente às gerações que se estimaram para a arte portuguesa. Dacosta nasceu em meados da segunda década do século XX, já tarde para pertencer ao segundo modernismo, mas cedo demais para a geração seguinte, nascida já nos anos de 1920 e que assinalaria nos anos de 1940 o neorrealismo, o surrealismo e a abstração. Deste modo, podemos observar nele uma figura de mediação entre a clivagem geracional (a mais sublinhada no interior da história da arte moderna portuguesa).» (Dias, António Dacosta. Catálogo Raisonné)

O segundo ciclo deu-se com a sua reaparição em 1983-84, altura em que Dacosta volta a produzir, dedicando-se a uma pintura nova, de olhar cristalino sobre as coisas mais simples. Organizadas em séries temáticas ou em singularidades exaltadas, as obras deste período correspondem à consagração artística e crítica. Constituem um testemunho deste ciclo a exposição de 1988, organizada na FCG e agora em análise, bem como o Prémio Nacional de Artes Plásticas, da AICA, atribuído em 1983.

Integrando cerca de 120 obras produzidas entre as décadas de 1940 e 1980, esta exposição retrospetiva apresentou muitas obras inéditas ou pouco vistas até então, como foi o caso da importante pintura O Passarinheiro, que, segundo Rui Mário Gonçalves, revelava «certas características de feiura e crueldade» (Dacosta, 1988). Além disso, foi exposto em vitrinas algum material complementar, como livros, brochuras e manuscritos, que documentavam a efervescência da época produtiva do artista (Azevedo, Diário de Notícias, 7 mar. 1988).

Durante a exposição, foram organizadas pelo ACARTE várias visitas guiadas, dirigidas por Sílvia Chicó, João Pinharanda e José Luís Porfírio, entre outros, visitas essas que, até ao momento, não foi possível identificar.

Depois da montagem em Lisboa, esta mostra foi apresentada no Porto, na Casa de Serralves.

Joana Brito, 2016

Organised by the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG), at the Modern Art Centre (CAM), this was the first great retrospective exhibition on António Dacosta (Angra do Heroísmo, Azores, Portugal, 1914 - Paris, France, 1990) and included 120 pieces by the Portuguese painter that had not been seen or widely seen before.
A singular artist, António Dacosta's artistic career is divided into two parts by Portuguese art historiography, interrupted by an interval, a long period of silence when his production was limited and infrequent.
The first part, between 1940 and 1948-49, was defined by a particular socio-political context and a generational split with other artists working at that time: (...) The uncertainty imposed by the wars surrounding his country, first the Spanish Civil War, immediately followed by the Second World War, is clearly reflected in António Dacosta's painting, drawing and illustration at the start of the 1940s, in a surrealism that is a theatre of discomfort, a Portuguese Antithesis of Calm in which the conscious and the subconscious go hand in hand (Porfírio, José Luís, A Antítese e a Calma, António Dacosta. Catálogo Raisonné [Online]. Lisbon: FCG-CAM. [Consulted on 18.03.2016]. Available at: http://dacosta.gulbenkian.pt/textos/18-depoimentos/91-jose-luis-porfirio.html)
Fernando Rosa Dias also says about the painter's initial career that another curious thing to remember about Dacosta's first period is his placement with regard to the treasured generations of Portuguese art. Dacosta was born in the mid-1910s, too late to belong to the second modernism but too early for the following generation, born in the 1920s, which would deal with neorealism, surrealism and abstraction in the 1940s. We can therefore see in him a mediator between this generational divide (the clearest in modern Portuguese art history) (Dias, Fernando Rosa, António Dacosta - A Tentação Mítica, António Dacosta. Catálogo Raisonné [Online]. Lisbon: FCG-CAM. [Consulted on 22.03.2016]. Available at: http://dacosta.gulbenkian.pt/textos/17-ensaios/86-fernando-rosa-dias.html).
The second period began with his re-emergence in 1983-1984, when Dacosta began to produce again. He devoted himself to new painting and a clear gaze at simpler things, organised into thematic series or extravagant single pieces, a period of artistic and critical enshrinement like this 1988 exhibition, organised by the FCG and, in 1983, the National Award for Visual Arts from the International Association of Art Critics.
The exhibition comprised roughly 120 pieces made between the 1940s and 1980s, with many works that had never been seen or rarely seen before, as in the case of O Passarinheiro that, according to Rui Mário Gonçalves, revealed certain characteristics of ugliness and cruelty (Dacosta, 1988). Furthermore, some complementary material was displayed in cases, including books, brochures and manuscripts, documenting the exuberance of the artist's productive period (Azevedo, Diário de Notícias, 7 Mar. 1988).
The Department of Artistic Creation and Art Education (ACARTE) organised several guided tours during the exhibition, run by Sílvia Chicó, João Pinharanda and José Luís Porfírio, among others who it has not been possible to identify at this time.
After the event in Lisbon, the exhibition opened in Porto at the Casa de Serralves Secretariado da Cultura.
Organised by the Calouste Gulbenkian Foundation (FCG), at the Modern Art Centre (CAM), this was the first great retrospective exhibition on António Dacosta (Angra do Heroísmo, Azores, Portugal, 1914 - Paris, France, 1990) and included 120 pieces by the Portuguese painter that had not been seen or widely seen before.
A singular artist, António Dacosta's artistic career is divided into two parts by Portuguese art historiography, interrupted by an interval, a long period of silence when his production was limited and infrequent.
The first part, between 1940 and 1948-49, was defined by a particular socio-political context and a generational split with other artists working at that time: (...) The uncertainty imposed by the wars surrounding his country, first the Spanish Civil War, immediately followed by the Second World War, is clearly reflected in António Dacosta's painting, drawing and illustration at the start of the 1940s, in a surrealism that is a theatre of discomfort, a Portuguese Antithesis of Calm in which the conscious and the subconscious go hand in hand (Porfírio, José Luís, A Antítese e a Calma, António Dacosta. Catálogo Raisonné [Online]. Lisbon: FCG-CAM. [Consulted on 18.03.2016]. Available at: http://dacosta.gulbenkian.pt/textos/18-depoimentos/91-jose-luis-porfirio.html)
Fernando Rosa Dias also says about the painter's initial career that another curious thing to remember about Dacosta's first period is his placement with regard to the treasured generations of Portuguese art. Dacosta was born in the mid-1910s, too late to belong to the second modernism but too early for the following generation, born in the 1920s, which would deal with neorealism, surrealism and abstraction in the 1940s. We can therefore see in him a mediator between this generational divide (the clearest in modern Portuguese art history) (Dias, Fernando Rosa, António Dacosta - A Tentação Mítica, António Dacosta. Catálogo Raisonné [Online]. Lisbon: FCG-CAM. [Consulted on 22.03.2016]. Available at: http://dacosta.gulbenkian.pt/textos/17-ensaios/86-fernando-rosa-dias.html).
The second period began with his re-emergence in 1983-1984, when Dacosta began to produce again. He devoted himself to new painting and a clear gaze at simpler things, organised into thematic series or extravagant single pieces, a period of artistic and critical enshrinement like this 1988 exhibition, organised by the FCG and, in 1983, the National Award for Visual Arts from the International Association of Art Critics.
The exhibition comprised roughly 120 pieces made between the 1940s and 1980s, with many works that had never been seen or rarely seen before, as in the case of O Passarinheiro that, according to Rui Mário Gonçalves, revealed certain characteristics of ugliness and cruelty (Dacosta, 1988). Furthermore, some complementary material was displayed in cases, including books, brochures and manuscripts, documenting the exuberance of the artist's productive period (Azevedo, Diário de Notícias, 7 Mar. 1988).
The Department of Artistic Creation and Art Education (ACARTE) organised several guided tours during the exhibition, run by Sílvia Chicó, João Pinharanda and José Luís Porfírio, among others who it has not been possible to identify at this time.
After the event in Lisbon, the exhibition opened in Porto at the Casa de Serralves Secretariado da Cultura.

Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Antítese da calma

António Dacosta (1914-1990)

Antítese da calma, c.1940 / Inv. 80P121

Cena aberta

António Dacosta (1914-1990)

Cena aberta, c.1939 / Inv. 80P123

Fonte de Sintra XVI

António Dacosta (1914-1990)

Fonte de Sintra XVI, 1985 / Inv. 86P127

Não há sim sem não - O Eremita

António Dacosta (1914-1990)

Não há sim sem não - O Eremita, 1985 / Inv. 86P128

O usurário

António Dacosta (1914-1990)

O usurário, c.1940 / Inv. 83P124

s/título

António Dacosta (1914-1990)

s/título, c.1941-42 / Inv. DP1070

s/título

António Dacosta (1914-1990)

s/título, 1941-42 / Inv. DP1069

Serenata Açoreana

António Dacosta (1914-1990)

Serenata Açoreana, c.1940 / Inv. 83P122

Três Estrelas Brancas

António Dacosta (1914-1990)

Três Estrelas Brancas, 1983 / Inv. 84P126


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[António Dacosta]

16 mar 1988 – 26 mar 1988
Fundação Calouste Gulbenkian / Edifício Sede – Galeria Principal / Galeria Exposições Temporárias (piso 0)
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Visita guiada
Visita guiada por João Pinharanda (à dir.)
Visita guiada por Sílvia Chicó (ao centro)
Visita guiada por Sílvia Chicó (à dir.)
Visita guiada por José Luís Porfírio (ao centro)
Pedro Tamen (à esq.), José de Azeredo Perdigão (ao centro) e António Dacosta (à dir.)
Mário Soares, presidente da República Portuguesa (à esq.) e Roberto Gulbenkian (à dir.)
Mário Soares, presidente da República Portuguesa, e Antónia Dacosta (à esq.)
Exposição «António Dacosta, 1988»
António Dacosta (à esq.), José Sommer Ribeiro (ao centro) e Mário Soares, presidente da República Portuguesa (à dir.)
António Dacosta (à esq.) e Mário Soares, presidente da República Portuguesa (à dir.)
Mário Soares, presidente da República Portuguesa (à esq.), Roberto Gulbenkian (atrás, à esq.), António Dacosta e José de Azeredo Perdigão (ao centro), Rui Mário Gonçalves (atrás, ao centro) e José Sommer Ribeiro (à dir.)
Maria Barroso (à esq.), Maria Cavaco Silva e José de Azeredo Perdigão (ao centro) e Pedro Tamen (atrás, à dir.)
Roberto Gulbenkian (à esq.), José de Azeredo Perdigão (atrás, à esq.) e Mário Soares, presidente da República Portuguesa (ao centro)
Mário Soares, presidente da República Portuguesa (à esq.), Miriam Dacosta (ao centro) e António Dacosta (à dir.)
Rui Mário Gonçalves (à esq.), Mário Soares, presidente da República Portuguesa, (ao centro) e José Sommer Ribeiro (à dir.)
Emília Nadal (atrás, à esq.), Maria Cavaco Silva (à esq.) e António Dacosta (à dir.)

Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/001-D00252

Coleção fotográfica, cor: inauguração (FCG, Lisboa) 1988

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/001-D00254

Coleção fotográfica, cor: visita guiada (FCG, Lisboa) 1988 – 1988

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01339

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recibos de empréstimo de obras. 1988 – 1989

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 01338

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, documentos de empréstimo de obras, transporte de obras e textos para o catálogo. 1987 – 1988


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