Exposição retrospetiva da obra do pintor Manuel D’Assumpção (1926-1969), organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) por intermédio do seu Serviço de Exposições e Museografia. A iniciativa da exposição ficou a dever-se a João Pinto de Vasconcelos, amigo próximo do artista.

Esta mostra não só possibilitou a reinterpretação e reavaliação da obra do artista, como permitiu localizar algumas obras cujo paradeiro era praticamente desconhecido desde a morte do autor, tarefa que contou com o empenho de Jeanne Pinto de Figueiredo.

No piso 0 da Galeria de Exposições Temporárias da Sede da FCG foram apresentadas cerca de 100 obras em pintura (51 óleos, 11 aguarelas e 7 guaches), desenho (cerca de 20), duas esculturas de pequenas dimensões, em bronze, e um bloco de apontamentos e estudos da coleção da mãe do artista, Elisa Worm, trabalhos realizados entre 1947 e 1969.

Tratando-se de uma retrospetiva, a exposição reuniu trabalhos dos seus períodos mais marcantes, desde as primeiras experiências de desconstrução figurativa, passando pela influência surrealista e pelo abstracionismo. A exposição integrou também alguns dos últimos trabalhos de Manuel D’Assumpção, nomeadamente os da série Branco e Preto.

O catálogo da exposição, profusamente ilustrado, contou com um prefácio do então diretor do Centro de Arte Moderna e do Serviço de Exposições e Museografia, José Sommer Ribeiro, no qual foram também incluídos textos dos amigos do pintor, João Pinto de Figueiredo e Jeanne Pinto de Figueiredo, bem como uma carta de Maria Helena Vieira da Silva e do marido, o pintor Arpad Szenes, mais algumas notas e versos de outros autores e uma vasta biografia sobre o artista.

Registou-se uma ampla cobertura por parte da imprensa escrita nacional, tanto na divulgação como no comentário especializado ao evento. O crítico de arte Alexandre Pomar reportar-se-ia a esta exposição como uma iniciativa que permitiu a «revisão histórica» de uma «das mais curiosas e estimulantes criações plásticas do século [XX], drasticamente interrompida em 1969 e sujeita depois a uma apreciação contraditória» (Pomar, Expresso, 4 jan. 1986).

Além de elogiar a iniciativa que trouxe a público a obra de D’Assumpção, Alexandre Pomar alertava para a necessidade de se dar continuidade aos estudos monográficos em torno da obra deste artista, que se suicidou no ano de 1969: «O sentido metafísico das suas construções espaciais, a densidade expressionista e a procura simbólica presente nos ritmos formais e nas cores das suas telas vibrantes de inquietação, a inquietação do constante recomeço estão presentes na actual retrospectiva, que não pode beneficiar ainda do conveniente estudo histórico nem da metodologia necessárias ao estabelecimento de uma memória menos mitificada do pintor, mas também mais justa quanto ao seu lugar actual.» (Ibid.)

Filipa Coimbra, 2017