Jorge Martins. Projet Dessin, 2002 – 2007

Exposição de desenhos de Jorge Martins (1940). Comissariada por Rita Fabiana, esta mostra reúne uma seleção de trabalhos realizados entre 2002 e 2007, período em que o artista embarca num projeto gráfico de grande envergadura, que revela um constante impulso experimental.
Exhibition of drawings by Jorge Martins (1940). Curated by Rita Fabiana, the show featured a selection of works created between 2002 and 2007, a time during which Martins had embarked on a large-scale graphic project, revealing of the artist’s experimental impulse.

Exposição de desenhos de Jorge Martins (1940) apresentada no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, comissariada por Rita Fabiana. Enquadrou-se numa série de exposições de artistas visuais portugueses que residiram ou se estabeleceram em Paris, e da qual fizeram igualmente parte as mostras «António Dacosta. Exposition» (2000) e «Vieira da Silva. Œuvres de la Fondation Arpad Szenes-Vieira da Silva et du Centre d'Art Moderne José de Azeredo Perdigão» (2007), entre outras.

Esta exposição centra-se num conjunto de desenhos a grafite iniciado em 2002 e que ocupou o artista ao longo de cinco anos. Nestes, Jorge Martins explora as possibilidades do desenho a grafite, conjugando-o por vezes com o acrílico e trabalhando sempre nos formatos 160 × 120 ou 120 × 160.

A heterogeneidade em termos formais deste conjunto leva João Pinharanda, José Gil e Raquel Henriques da Silva – numa conversa publicada no catálogo da exposição – a falarem de heteronímia, observação que consideram aplicável não só a estes trabalhos como a toda a obra de Jorge Martins. Como refere Pinharanda: «É tudo de uma variabilidade imensa […]. Parecem feitos por muitas pessoas ou pela mesma pessoa em muitas circunstâncias.» (Jorge Martins. Projet Dessin, 2002-2007, 2008, p. 90)

Ao percorrer este vasto e variado conjunto de desenhos (cerca de uma centena), Rita Fabiana depara com uma série de aspetos e referências que a transportam de imediato para trabalhos anteriores do artista, não só em desenho, mas também em pintura. Para a curadora, «esse voltar incessante à sua obra assume agora um carácter quase programático, designando o desenho como lugar de memória, palavra que é, aliás, retomada em muitos dos títulos desta série. São certamente memórias pessoais, íntimas, ainda que nunca explicitadas, mas são, sobretudo, memórias do próprio desenho» (Jorge Martins. Projet Dessin, 2002-2007, 2008, p. 11). Tais reminiscências são claramente consequência do processo, desse exercício ininterrupto do desenho, surgindo possivelmente de um modo inconsciente. Intencionais ou não, revelam o acumular de experiências distintas, e é em torno delas que a exposição se organiza.

Os desenhos que abrem a mostra – Lengalenga (2002), um possível criptograma, e Colecção (2002), uma coleção de manchas – preparam o visitante para os universos enigmáticos, de difícil descodificação, com os quais se vai cruzar. Por outro lado, estes trabalhos remetem igualmente para dois tipos de desenho que por vezes se conjugam e que marcam este conjunto: o desenho linear e o desenho através da mancha.

Em cada sala parecem surgir coleções de fragmentos de memórias, do real ou imaginadas, imagens mentais e de sonhos que o artista transporta para o desenho. A seleção e o modo como são expostas dão por vezes a ilusão de narrativa.

Esta exposição estende-se pelos dois pisos do Centre Culturel Calouste Gulbenkian, situado na antiga residência de Calouste Gulbenkian, em Paris, um edifício do tipo hôtel particulier, projetado pelo arquiteto Ernest Samson e construído no final do século XIX.

De sala para sala, observa-se uma tendência por agrupar os desenhos selecionados por afinidades formais e técnicas. A exposição começa no piso térreo com um conjunto de desenhos de ambientes enigmáticos, inóspitos, severos, que nos remetem para universos kafkianos. A carga pesada deste mundo de sombras reflete-se em algumas das figuras espectrais isoladas que os habitam, nomeadamente em desenhos como Jumping Philosopher (2003), Epitáfio (2003), Slow Motion Suicide (2003). Nestas composições a grafite – conjugada por vezes com acrílico –, a folha de papel não foi preenchida na sua totalidade, deixando margens expressivas, que resultam numa sucessão de janelas ou ecrãs, sugestivas de dimensões paralelas ou estados de alma, e que, sob formas distintas, voltam a surgir em trabalhos como Topos e Logos (2002) e Lost Memories (2004), expostos no piso superior.

Ainda neste espaço, Petit à Petit (2003) e A Gravitação Universal (2004), os quais apresentam grupos de figuras a negro ou corpos sem identidade, fazem a transição para o espaço seguinte, o hall da escadaria, onde são reunidos desenhos de vultos femininos ou sombras, tais como As Três Graças (2003), Emoção e Metáfora (2004), Ocean Boogie-Woogie (2004). Nestes, a perceção é condicionada por barreiras visuais, mas translúcidas, que tornam o espectador um voyeur de memórias ou fantasias.

No piso superior, num painel no cimo das escadas são expostos Outros Destinos (2003), Three for Darkness (2004) e Così Fan Tutte (2004). Estes «desenhos-negativos», por oposição aos anteriores, apresentam figuras a branco sobre fundo negro, de uma enorme densidade. Diferentes intensidades e texturas de preto e seus efeitos visuais são trabalhados em desenhos como Perpetuum Mobile (2004), Interferências (s.d.), Esplendor nas Trevas (2002), Biologia da Linha (2003), apresentados na sala seguinte. A exploração da linha curva, da mancha densa, vaporosa, em desintegração, remonta ao início da década de 1980, em desenhos de natureza abstrata, como muitos dos aqui apresentados. Porém, nestes desenhos recentes o artista estende estas experiências à figuração, nomeadamente em trabalhos como Sturm und Drang (2003), Quem Vê Casas... (2006), Memórias de um Electrão (2003) e Chaos Lines (2004).

A exposição termina na sala oval, com um conjunto de desenhos em que o espectador reencontra uma série de elementos que marcaram os diferentes momentos do percurso: vislumbres de corpos femininos, turbilhões de linhas, janelas ou ecrãs, que o transportam para outros tempos e lugares.

Para acompanhar esta exposição foi produzida uma publicação, na qual se destaca, além do texto da curadora, a já referida conversa entre João Pinharanda, José Gil e Raquel Henriques da Silva, dedicada aos trabalhos expostos, grande parte deles inéditos.

Mariana Roquette Teixeira, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21351

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência, apontamentos e recolha bibliográfica para o texto de catálogo, esquemas de montagem, lista de obras para efeitos de seguro, ensaios gráficos para painéis exteriores, interiores e legendas, comunicado de imprensa, convite, folha de sala, recortes de imprensa. 2007 – 2008

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 21352

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém reproduções das obras selecionadas para a exposição e respetivas fichas técnicas. 2008 – 2008

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 48581

Coleção fotográfica, cor: aspetos (CCCG, Paris) 2008


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