Exposição organizada pelo Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP), por ocasião da visita de Estado do presidente da República Portuguesa Aníbal Cavaco Silva à Índia. Foram apresentados trabalhos pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna no Indira Gandhi National Centre for the Arts, em Nova Deli, selecionados por Jorge Molder, diretor do CAMJAP, numa montagem coordenada por Leonor Nazaré.

O centro de artes que acolheu a exposição, inaugurado em 1985, fora construído em homenagem à primeira-ministra indiana Indira Gandhi, visando abranger tanto o estudo como o usufruto das artes plásticas. Foram expostos desenhos de Fernando Calhau (1948-2002), Jorge Martins (1940), Pedro Proença (1962) e Bruno Pacheco (1974), e uma escultura de Rui Chafes (1966). A exposição foi inaugurada pelo presidente da República Portuguesa no dia 12 de janeiro de 2007, tendo encerrado no dia 28 desse mês.

Além das obras expostas e das biografias dos artistas representados, o catálogo da exposição inclui um pequeno texto introdutório assinado pelo curador da exposição, segundo o qual Portugal é um país de cultura única, muito ligado à valorização da poesia e que tende a ignorar a cultura plástica ou visual, algo que apenas se terá começado a alterar mais recentemente e devido ao importante papel de Calouste Sarkis Gulbenkian. Foi graças ao filantropo arménio e à criação da fundação com o seu nome que as artes plásticas terão recebido um novo estímulo, através da organização de exposições e da atribuição de inúmeras bolsas a artistas portugueses (Desenho: Desenhos e uma Escultura, 2007, pp. 9-10).

No mesmo texto, Jorge Molder salientou ainda a relevância do Centro de Arte Moderna no panorama artístico português e a dimensão do seu acervo, composto por uma das maiores coleções de arte moderna e contemporânea portuguesa e por um núcleo internacional de que se destaca a arte britânica, da década de 1960 à contemporaneidade (Desenho: Desenhos e uma Escultura, 2007, p. 11).

Jorge Molder esclarece que a escolha dos trabalhos foi feita sem a intenção de «encontrar entre as obras um fio condutor, ou quaisquer genealogias ou outros parentescos, mas sim modos de pensar o desenho e a arte», clarificando que o conjunto selecionado «inclui obras em que a representação mostra campos de luz ou modos de ocultação, mas também outras que nos trazem visões que acompanham o nosso mundo ou ainda uma ironia que confunde culturas, tempos e histórias» (Ibid.). Sobre a escultura Durante o Sono (2002), de Rui Chafes, na qual peso e leveza coexistem, Molder explicou que a sua escolha acrescentou volume ao conjunto exposto e um elemento conciliador e de reunião de todas as preocupações e modos de refletir as artes plásticas exploradas nos restantes trabalhos (Ibid.).

Os trabalhos selecionados propunham diversas abordagens ao desenho, do figurativismo de Bruno Pacheco – em S.P. in the Alpes (2003/04) ou Legs (2003/04) –, claramente influenciado pelo registo fotográfico de momentos e poses corporais, ao minimalismo negro e abstrato de Fernando Calhau (nos S/ Título de 2001), passando pelos monocromáticos e geométricos desenhos a grafite de Jorge Martins, produzidos entre 1978 e 1987, ou pelas figuras e elementos de Pedro Proença, que refletem a sua imaginação fértil e erudita, sinalizadora de «inúmeros universos simbólicos, sinaléticas, elementos mitológicos, excertos de narrativas e saberes esotéricos, ou simplesmente históricos, proverbiais, lendários, de senso comum, puras invenções e estritas citações» (Desenho: Desenhos e uma Escultura, 2007, p. 32).

A montagem da exposição obedeceu a um critério de organização dos trabalhos por autoria, em que o espaço amplo permitiu uma leitura de confronto entre as obras, dispostas sobre painéis e, no caso dos desenhos de Fernando Calhau e de Jorge Martins, sobre tecidos acetinados vermelhos.

A exposição, que Rui Chafes classificou como uma «ideia fascinante» (Carta de Rui Chafes para Jorge Molder, 7 jan. 2007, Arquivos Gulbenkian, CAM 00669), passou despercebida à imprensa nacional, que deu primazia à presença na Índia do presidente da República e da comitiva de 67 empresários e de outros convidados, entre os quais Teresa Gouveia, administradora da FCG.

Carolina Gouveia Matias, 2019