Le XXème Siècle au Portugal. Peinture, Sculpture, Dessin, Gravure, Tapisserie

Exposição panorâmica da arte portuguesa do século XX, promovida pela Comissão das Comunidades Europeias com o intuito de comemorar a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia. A mostra era heterogénea quer em relação aos períodos e artistas representados, quer na diversidade dos suportes e disciplinas artísticas apresentados.
Panoramic exhibition on Portuguese art in the 20th century arranged by the European Community Commission in celebration of Portugal's entry into the European Economic Community (EEC). The show featured works from a diverse group of artists, produced using a striking variety of styles, media and techniques.

Exposição panorâmica da arte portuguesa do século XX, organizada pela Comissão das Comunidades Europeias, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e pela Secretaria de Estado da Cultura de Portugal, com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Realizou-se em Bruxelas, no Centre Albert Borschette, com o intuito de comemorar a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE), constituindo um importante acontecimento cultural de divulgação do país e da arte portuguesa do século XX.

A iniciativa ficou a dever-se à Comissão das Comunidades Europeias, que, além de assinalar a adesão do novo país-membro, procurava a aproximação da arte portuguesa aos «movimentos dominantes da arte europeia». Neste sentido, a colaboração com o Centro de Arte Moderna (CAM) da FCG, enquanto entidade responsável pela gestão da mais importante coleção de arte moderna portuguesa, tornou-se essencial para o êxito da iniciativa. Esta cooperação entre o CAM e a comissão organizadora materializou-se em numerosos empréstimos de obras, assim como na coordenação editorial e na publicação do catálogo da exposição, aos quais se somou o apoio técnico na montagem da exposição, prestado por três técnicos da FCG.

Nos primeiros contactos, os «organizadores demonstraram interesse em algumas obras pertencentes ao património» do CAM, nomeadamente na obra de Leal da Câmara (1876-1948), João Hogan (1914-1988), Júlio Pomar (1926-2018), Bernardo Marques (1898-1962), Almada Negreiros (1893-1970) e Lino António (1898-1974).

Procurava-se, deste modo, reunir obras que revelassem o equilíbrio entre valores artísticos consagrados das várias gerações modernistas (Almada Negreiros e Júlio Pomar) e propostas modernistas mais moderadas e enquadradas no gosto oficial da época. Pensou-se ainda, sem efeito, no início da conceção do projeto e de acordo com parecer da Comissão das Comunidades Europeias, incluir no vasto conjunto de obras a selecionar um núcleo dedicado à representação da arte popular portuguesa (Carta de José Tadeu Soares para o diretor do CAM, 18 fev. 1986, Arquivos Gulbenkian, CAM 00101).

A seleção assumida pelo curador e diretor do CAM, José Sommer Ribeiro, com o apoio do curador-adjunto e representante da Direcção-Geral de Acção Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, Fernando Calhau, viria a revelar maior heterogeneidade disciplinar (pintura, escultura, desenho, gravura e tapeçaria), deixando patente a intenção de dar «uma perspectiva breve da arte moderna portuguesa, nos últimos 80 anos» (Le XXème au Portugal. Peinture, Sculpture, Dessin, Gravure, Tapisserie, 1986, p. 8). Os comissários da exposição argumentavam também que o facto de não existir à época uma «exaustiva sistematização» da história da arte moderna portuguesa acarretava «o risco de apresentar um esquema talvez demasiado pessoal» (Ibid.).

No espaço central dos cinco pisos do Centre Albert Borschette foram apresentadas as 98 obras dos 78 artistas portugueses selecionados. As obras mais recuadas no tempo foram um desenho da autoria de Leal da Câmara (datado de 1911) e dois guaches das Cabeças (de 1915) da autoria de Amadeo de Souza-Cardoso. Na ponta oposta, a obra mais recente datava do então corrente ano de 1986, a pintura Da Ordem e do Caos, de Pedro Cabrita Reis. A produção artística mais recente era ainda dada a conhecer ao público nas propostas artísticas destas novas gerações, nas quais se incluía a escultura Natureza Morta I (1984), de Rui Sanches, ou a pintura S/ Título (1985), de Pedro Calapez.

Como já foi referido, uma parte significativa desta representação pertencia à coleção do CAM (atual Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian), correspondendo a mais de metade do total das obras apresentadas. A mostra incluía ainda algumas obras provenientes de acervos públicos – designadamente do Museu Nacional de Soares dos Reis, do Museu Nacional de Arte Contemporânea e da coleção da Secretaria de Estado da Cultura –, bem como de vários colecionadores particulares (Apontamento do CAM para o presidente da FCG, 8 abr. 1986, Arquivos Gulbenkian, CAM 00121).

O catálogo da exposição foi editado numa versão bilingue (francês e português), contando com um prefácio do representante permanente de Portugal junto das Comunidades Europeias, no qual se destacava a tradição de intercâmbio cultural mantida entre Portugal e outros países europeus. A introdução conjunta de Sommer Ribeiro e Fernando Calhau explora a cronologia do modernismo português, deslocando o marco inaugural, habitualmente fixado na Exposição Livre de 1911, para o ano de 1914, com a aparição da Geração de Orpheu, na qual se destacam, pela via das artes plásticas, José de Almada Negreiros e Guilherme de Santa-Rita (Le XXème au Portugal. Peinture, Sculpture, Dessin, Gravure, Tapisserie, 1986, p. 8). Tomando como ponto de partida as experiências de internacionalização de Amadeo de Souza-Cardoso, de Eduardo Viana e Mário Eloy, passando por artistas que em Portugal se destacaram no desenho e na ilustração (Bernardo Marques, Mily Possoz), é traçada uma primeira retrospetiva, que termina com a ação de António Ferro no comando dos desígnios artísticos e culturais do país, alguém que se havia empenhado na promoção dos salões de arte moderna, na atribuição de prémios nacionais e na atualização das representações artísticas internacionais (Ibid., p. 9). As primeiras manifestações surrealistas e neorrealistas surgidas em meados da década de 1940, as exposições gerais de artes plásticas e o «período de luta» e agitação social que se seguiu, e que envolveu numerosos artistas, serão igualmente assinalados nesta resenha, a par da criação, em 1956, da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses e da Fundação Calouste Gulbenkian, verdadeiros incentivos às práticas artísticas e à sua dinamização em Portugal (Ibid., pp. 9-10).

Os apoios à especialização artística no estrangeiro, o contacto com novos centros criativos, o informalismo, a arte pop e a tão aguardada restauração da democracia, com o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, assinalam um novo e intenso período de atividade artística, marcado, no final da década de 1970, pelo desenvolvimento do experimentalismo (a exposição «Alternativa Zero») (Ibid., pp. 10-11). Destacar-se-á por último, como facto decisivo para o crescente interesse nas atividades artísticas, a criação, em 1983, do Centro de Arte Moderna, que se tornou o primeiro museu de arte moderna em Portugal, empenhado na apresentação das «diversas etapas do modernismo português».

A terminar esta síntese, os comissários deixavam antever uma mensagem de grande expectativa face ao período que então se vivia: «No presente, e após esgotados alguns dos pressupostos do modernismo, vive-se no nosso país a situação do pós-moderno, que encontra nos jovens criadores um forte meio de expansão. Na pintura (Cabrita Reis, Proença, Sarmento, etc.) temos assistido à alteração dos padrões artísticos, baseados, até aí, na sucessão de estéticas cumulativas e evoluções formais programadas, a favor de uma total disponibilidade e abertura a todas as formas conhecidas e às suas múltiplas possibilidades inter-activas.» (Ibid., p. 12)

Os organizadores entendiam ainda que a integração na CEE deflagraria a afirmação da arte portuguesa dentro e fora da Europa (Ibid.).

No âmbito desta exposição foi realizada uma reportagem vídeo promovida pela Representação de Portugal junto das Comunidades Europeias (Le XXème au Portugal. Peinture, Sculpture, Dessin, Gravure, Tapisserie [registo vídeo], 1986).

Filipa Coimbra, 2017


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

S/ Título

Alberto Carneiro (1937-2017)

S/ Título, 1964 / Inv. 82E848

Nú

Alice Jorge (1924-2008)

Nú, Inv. GP988

Auto

Álvaro Lapa (1939-2006)

Auto, 1982 / Inv. 83P626

Oceano vermelhão azul cabeça  AZUL  (continuidades simbólicas) Rouge bleu vert

Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)

Oceano vermelhão azul cabeça AZUL (continuidades simbólicas) Rouge bleu vert, Inv. 77DP358

Tête OCEAN

Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)

Tête OCEAN, Inv. 77DP359

Título desconhecido  (Entrada)

Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918)

Título desconhecido (Entrada), Inv. 77P9

s/título: Praça do Comércio

António Areal (1934-1978)

s/título: Praça do Comércio, 1955 / Inv. DP436

Cosmo Language

António Costa Pinheiro (1932- 2015)

Cosmo Language, 1972 / Inv. GP979

Espaço - Poético - Natureza

António Costa Pinheiro (1932- 2015)

Espaço - Poético - Natureza, 1983 / Inv. 84P466

S/Título

António Palolo (1946-2000)

S/Título, 1970 / Inv. 81P570

Crepúsculo colorido

António Soares (1894-1978)

Crepúsculo colorido, 1925 / Inv. DP866

Do primeiro momento da insurreição

Artur Cruzeiro Seixas (1920-2020)

Do primeiro momento da insurreição, 1980 / Inv. DP504

Atlantis

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Atlantis, Inv. GP2176

Natureza-morta com espelho

Bartolomeu Cid dos Santos (1931- 2008)

Natureza-morta com espelho, Inv. GP108

s/título

Bernardo Marques (1898-1962)

s/título, Inv. DP37

Comédie ("Femme au Masque")

Canto da Maya (1890-1981)

Comédie ("Femme au Masque"), 1926 / Inv. 81E438

Os cabelos da virgem

Carlos Calvet (1928-2014)

Os cabelos da virgem, 1950 / Inv. DP1310

sem título

David de Almeida (1945-2014)

sem título, sem data / Inv. GP652

No chão que nem uma seta

Eduardo Batarda (1943- )

No chão que nem uma seta, 1975 / Inv. DP1340

Constelações

Eduardo Nery (1938-2013)

Constelações, 1974 / Inv. 84P533

Zenga

Eurico Gonçalves (1932-2022 )

Zenga, 1974 / Inv. P1379

Sem título

Fernando de Azevedo (1923-2002)

Sem título, 1961 / Inv. 62P257

0.42 - 69

Fernando Lanhas (1923-2012)

0.42 - 69, 1969 / Inv. 69P635

Ecce-Femina

Gil Teixeira Lopes (1936-2022)

Ecce-Femina, 1972 / Inv. GP1079

Homenagem a Soror

Gil Teixeira Lopes (1936-2022)

Homenagem a Soror, Inv. GP926

Naufrágio

João Navarro Hogan (1914-1988)

Naufrágio, Inv. GP588

s/título

Jorge Barradas (1894-1971)

s/título, 1927 / Inv. DP977

s/título

Jorge Martins (1940-)

s/título, 1979 / Inv. DP1227

S/ Título

Jorge Pinheiro (1931)

S/ Título, 1978 / Inv. GP1083

Integração racial

José de Almada Negreiros (1893-1970)

Integração racial, Inv. TP7

Retrato de Fernando Pessoa

José de Almada Negreiros (1893-1970)

Retrato de Fernando Pessoa, Inv. 64P66

Título desconhecido

José de Almada Negreiros (1893-1970)

Título desconhecido, Inv. DP151

Título desconhecido

José de Almada Negreiros (1893-1970)

Título desconhecido, Inv. DP150

S/ Título

José Escada (1934-1980)

S/ Título, 1965 / Inv. 65P276

S/ Título

José Pedro Croft (1957-)

S/ Título, 1985 / Inv. 85E995

Epitáfio

José Rodrigues (1936-2016)

Epitáfio, Inv. 83DP1048

Retrato do pintor Waldemar da Costa

José Tagarro (1902-1931)

Retrato do pintor Waldemar da Costa, Inv. DP1030

No Mercado

Júlio Pomar (1926-2018)

No Mercado, Inv. GP1038

Sem título

Leal da Câmara (1876-1948)

Sem título, Inv. DP1387

Odalisque d' Après Ingres

Lourdes Castro (1930-2022)

Odalisque d' Après Ingres, Inv. 67P291

Composição Azul

Luís Noronha da Costa (1942-2020)

Composição Azul, Inv. 82P999

Paisagem do meu Jardim

Manuel Cargaleiro (1927-)

Paisagem do meu Jardim, 1976 / Inv. TP24

Reflexo

Manuel Casimiro (1941-)

Reflexo, 1970/71 / Inv. TP10

Génesis II

Manuel Trindade D' Assumpção (1926-1969)

Génesis II, 1960 / Inv. 83P134

Homenagem a Carmen Amaya

Marcelino Vespeira (1925-2002)

Homenagem a Carmen Amaya, 1951 / Inv. 83P105

sem título

Maria Beatriz (1940-2020)

sem título, 1968 / Inv. GP792

Ante-projecto Bâle

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Ante-projecto Bâle, Inv. TE3

Cubo

Maria Velez (1935-)

Cubo, 1965 / Inv. TP14

Sem título (Três composições)

Mário Eloy (1900-1951)

Sem título (Três composições), Inv. DP845

Veneza

Nadir Afonso (1920-2013)

Veneza, 1962 / Inv. 83P150

Rendilheiras

Rogério Ribeiro (1930-2008)

Rendilheiras, Inv. GP1411

Figuras

Rolando Sá Nogueira (1921-2002)

Figuras, 1964 / Inv. TP15

Pub

Rolando Sá Nogueira (1921-2002)

Pub, 1964 / Inv. 64P453

Natureza Morta II

Rui Sanches (1954-)

Natureza Morta II, 1984 / Inv. 86E450

Observação das Estrelas II - Estrela Negra

Sérgio Pinhão (1949)

Observação das Estrelas II - Estrela Negra, 1982 / Inv. GP959

Escultura

Zulmiro de Carvalho (1940-)

Escultura, 1983/84 / Inv. 84E542


Publicações


Material Gráfico


Multimédia


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00101

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém orçamentos, seguros, ofícios internos, empréstimos, correspondência recebida e expedida, relação de obras, recortes de imprensa e elementos para o catálogo. 1986 – 1986


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