Exposição de pintura de Milica Bravacic (1958), na qual a artista croata apresentou um conjunto de trabalhos realizados em Lisboa. A bolsa concedida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, no âmbito do intercâmbio cultural entre Portugal e a ex-Jugoslávia, permitiu a Milica Bravacic passar uma temporada de dez meses em Lisboa, estabelecendo assim um contacto próximo com a cultura portuguesa, o que veio a ter repercussões no seu trabalho, como esta exposição demonstrava.

Os azulejos portugueses vão ocupar o lugar das «peças do puzzle» que a artista usava como elemento estrutural da composição. No texto de catálogo, Irina Subotic explica: «As peças do puzzle são introduzidas no campo da tela; por um lado as formas das peças do puzzle inspiram a forma da tela inteira, mas são utilizadas como modelo de estrutura das composições; por outro lado são também frequentemente aplicadas em forma de colagem sobre a pintura, para representar a realidade pela própria realidade.» (Milica Bravacic, 1988)

Nas pinturas expostas, Milica Bravacic introduz o azulejo como elemento estrutural e unificador. Ao retratar cenas do quotidiano português, as fachadas grafitadas, as janelas escancaradas, a estatuária e os varandins entram também na composição, contribuindo para transmitir a ambiência da cidade, numa fusão do passado com o presente. Bravacic retrata o amor, a solidão, o trabalho árduo, o ócio que encontrara nessa cidade para si estrangeira. Com esta mostra, a artista croata entrava, na opinião de Irina Subotic, «num novo período criativo, ao qual é impossível negar a familiaridade com o ambiente do quotidiano português» (Ibid.).

Mariana Roquette Teixeira, 2018