Exposição centrada num conjunto de obras do dramaturgo francês Molière, pseudónimo de Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673), pertencentes à coleção de livros do Museu Calouste Gulbenkian. Dando continuidade ao ciclo de pequenas mostras intitulado «Obra em Foco», que visava pôr em destaque obras da Coleção Gulbenkian raramente expostas, esta exposição surgia igualmente associada às comemorações do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor.

De forma a revisitar a obra de Molière e os seus contributos para a história da literatura e do teatro foram reunidas algumas edições das suas obras datadas dos séculos XVII e XVIII: a primeira edição de Les Oeuvres de Monsieur de Molière. Revues, corrigées & augmentées, enrichies de figures en taille-douce (1682) (Inv. LA87A/H), com ilustrações de Pierre Brissart (1645-1682), gravadas por Jean Sauvé (at. Paris, 1660-1691); alguns volumes de Oeuvres de Molière. Nouvelle Édition (1734) (Inv. LA247A/F), com ilustrações de François Boucher (1703-1770), gravadas por Laurent Cars (1699-1771); e a edição de 1773, ilustrada por Moreau le Jeune (1741-1814).

Expostos em duas vitrinas verticais Mantelet que haviam pertencido à sala de estar da residência de Calouste Sarkis Gulbenkian em Paris, na Avenue d'Iéna, estes livros passam a assumir o estatuto de objetos artísticos, ou seja, são apresentados como exemplares da arte do livro. A reforçar a intenção deste gesto, encontravam-se junto às vitrinas duas legendas detalhadas dos referidos volumes, onde eram discriminados os editores, ilustradores e gravadores.

Abertos em páginas criteriosamente selecionadas, a maioria delas ilustradas, uma das quais com um desenho original a sanguínea de François Boucher (1703-1770), estes volumes desempenhavam uma dupla função: introduzir o visitante no universo de personagens de Molière e na sua crítica de costumes, e mostrar o trabalho conjunto que a conceção de tais exemplares envolvia.

Os frontispícios e as páginas com ilustrações selecionadas eram bastante reveladores. Deste modo, salientava-se o trabalho desenvolvido pelos editores, mas também pelos ilustradores e gravadores, na representação de algumas cenas escritas por Molière para virem a ser interpretadas em palco. Por outro lado, as ilustrações eram apresentadas não apenas como elementos visuais ao serviço do texto, acompanhando-o, mas também como forma de embelezar e enriquecer o livro enquanto objeto, do mesmo modo que a encadernação funcionava como uma espécie de moldura.

A presença de um busto do autor-dramaturgo, também pertencente à Coleção Gulbenkian, reforçava a importância do texto e, consequentemente, do livro como ferramenta de difusão e de preservação de obras literárias. Deste modo, foram exploradas múltiplas dimensões do livro, servindo os propósitos comemorativos desta mostra.

Para acompanhar esta exposição foi produzida uma pequena mas significativa publicação, que inclui textos do curador, algumas reproduções de páginas dos livros expostos e uma breve biografia de Molière. João Carvalho Dias reflete nos seus textos sobre a transição da palavra escrita para a palavra dita na obra de Molière, mas também sobre a fixação dos textos, e sobre as questões que esta tem suscitado, aprofundando o papel dos editores. Por último, o curador aborda as circunstâncias da incorporação destas obras na coleção de Calouste Gulbenkian e as razões e interesses por trás destas escolhas.

Apresentados como objetos preciosos e poderosos, estes livros dinamizaram o circuito expositivo da Coleção no ano em que se comemoravam os sessenta anos da criação da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mariana Roquette Teixeira, 2019