Pires Vieira. Talk to Me. Trabalhos sobre Papel

Exposição individual do artista português Victor Pires Vieira (1950), inteiramente dedicada à série Talk to Me (1997-98). Dois dos 24 desenhos expostos foram adquiridos pela Fundação Calouste Gulbenkian, figurando atualmente entre as obras do autor presentes na coleção do Centro de Arte Moderna.
Solo exhibition showcase a single series by Portuguese artist Victor Pires Vieira (1950), “Talk to Me” (1997-98). Two of the 24 drawings on display were acquired by the Calouste Gulbenkian Foundation and are currently kept with other works by the artist in the Foundation’s Modern Collection.

Talk to me é uma série de 24 desenhos de Victor Pires Vieira (1950), realizados entre 1997 e 1998. São trabalhos a carvão e sanguínea sobre papel, todos com o mesmo formato vertical e de grandes dimensões (180 × 150 cm).

No início de 1999, a Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) trouxe a público uma apresentação integral desse conjunto. A exposição inaugurou a 3 de fevereiro de 1999 na Sala de Exposições Temporárias do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP). As fotografias de aspetos de sala guardadas nos Arquivos Gulbenkian mostram que as peças foram instaladas no chão, assentes sobre tarolos de madeira e inclinadas contra a parede. Essa solução, frequente na instalação de grandes desenhos emoldurados de Pires Vieira, estabelece um outro tipo de frente-a-frente com o espectador, transferindo para as imagens um peso mais arquitetónico, mais corpóreo.

O catálogo editado pela FCG reproduz cada um dos 24 trabalhos expostos. Todos eles apresentam um fundo nebuloso, esfumado, onde uma mesma forma ovoide e irregular se impõe ao centro, num negro homogéneo e seco. É como que uma mandorla distorcida que, desenho após desenho, vai disputando o espaço com vários signos avermelhados. São pictogramas de recorte estanque e planura monocromática, em tudo contrastantes com as névoas que os envolvem. A vocação figurativa dessas entidades ora parece evidente, ora surge dúbia e mais indecifrável. O perfil de um rosto humano aparece em várias peças. Tem por vezes a língua de fora, pontiaguda e afiadíssima – tónica dos outros elementos afilados e acutilantes que vão aparecendo: cavilhas, pregos, botas e sapatos de pontas e saltos bicudos, plantas de folhas cortantes, e outros artefactos, menos identificáveis, mas igualmente «em riste».

Trata-se de um léxico de representatividade incerta e que interroga pontualmente a abstração. Faz intuir que existe uma narrativa em latência, mas de sentido misterioso. Apesar de encriptada, a gramática destes desenhos é sistémica e tem o seu vocabulário – nome dado pelo próprio Pires Vieira numa extensa entrevista com Miguel Wandschneider publicada no catálogo desta exposição (Pires Vieira, 1999, pp. 5-19).

Vocábulos visuais, signos, símbolos, estruturas geométricas replicadas em variações e recombinações – a obra deste artista português tem criado amiúde alfabetos plásticos com gramáticas próprias. Isso verifica-se em muitas das peças do autor atualmente reunidas nos acervos da Fundação, desde as obras pertencentes à coleção do Centro de Arte Moderna, aos livros de artista conservados na Biblioteca de Arte da FCG. Dentro dessa representação alargada da obra deste autor, constam dois desenhos desta série Talk to me, adquiridos pela Fundação no contexto desta exposição de 1999 (Invs. 99DP1771 e 99DP1772).

Há notícia de duas visitas orientadas por Constança Metello Seixas a «Pires Vieira. Talk to me», uma a 6 de março e outra a 7 de abril de 1999 (Texto avulso, 2 mar. 1999, Arquivos Gulbenkian, CAM 00439).

Como tantos outros artistas da sua geração, Pires Vieira tem um percurso de alguma proximidade com a FCG. Foi bolseiro Gulbenkian em Paris, levando a cabo alguma atividade expositiva em França nesse período. Na década seguinte, participa na III Exposição de Artes Plásticas da FCG (1986) e goza de vários subsídios da Fundação, tanto para experiências no estrangeiro, como para a produção de exposições e edições. Além de bem contemplada nos acervos da FCG, a sua obra tem marcado presença em alguns momentos cruciais da programação expositiva da instituição. Destaque para «50 Anos de Arte Portuguesa» (2007), «Anos 70. Atravessar Fronteiras» (2009) ou «Portugal em Flagrante. Operação 2» (2016).

Daniel Peres, 2019


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998)

Pires Vieira (1950-)

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998), 1998 / Inv. 99DP1771

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998)

Pires Vieira (1950-)

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998), 1998 / Inv. 99DP1772

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998)

Pires Vieira (1950-)

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998), 1998 / Inv. 99DP1771

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998)

Pires Vieira (1950-)

Sem título (da série "Talk to me", 1997-1998), 1998 / Inv. 99DP1772


Eventos Paralelos

Visita(s) guiada(s)

[Pires Vieira. Talk to Me. Trabalhos sobre Papel]

6 mar 1999 – 7 abr 1999
Fundação Calouste Gulbenkian / Centro de Arte Moderna – Sala de Exposições Temporárias
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias


Documentação


Páginas Web


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00439

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite para a inauguração; epistolografia enviada pelo artista; auto de empréstimo de 22 das obras expostas assinado pelo próprio autor; impressões do texto de apresentação de Jorge Molder (enquanto diretor do CAMJAP) e da entrevista entre o artista e Miguel Wandschneider, ambos publicados no catálogo de exposição; correspondência interna à Fundação Calouste Gulbenkian, referindo as duas visitas orientadas à exposição por Constança Metelo Seixas; informações sobre seguros. 1999 – 1999

Arquivo Digital Gulbenkian, Lisboa / ID: 110317

Coleção fotográfica, cor: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 1999


Exposições Relacionadas

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