Arte Portoghese Contemporanea

Exposição itinerante de arte portuguesa contemporânea, organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, na qual se reuniu um conjunto de obras produzidas entre 1940 e 1970. Realizada em período revolucionário, esta exposição teve lugar em Roma, na Galleria Nazionale d'Arte Moderna, e em Paris, no Musée d'Art Moderne de la Ville.
Travelling exhibition featuring Portuguese contemporary artworks produced between 1940 and 1970. Organised by the Calouste Gulbenkian Foundation around the time of Portugal's Carnation Revolution, the exhibition was hosted in Rome by the Galleria Nazionale d'Arte Moderna, and in Paris by the Musée d'Art Moderne de la Ville.

Exposição itinerante de arte portuguesa contemporânea, realizada em Itália, na Galleria Nazionale d’Arte Moderna (Roma), e em França, no Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris. Esteve ainda inicialmente prevista a itinerância da exposição pela Rússia, em Leninegrado (atual São Petersburgo) e Moscovo, assim como pela Polónia e pela Alemanha Federal.

A iniciativa da exposição em França resultou de um convite endereçado em 1975 pelo já referido museu francês ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal (MNE), em cooperação com a Association Française d’Action Artistique, que contaria também com a colaboração da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), na sequência de uma proposta da Embaixada de Portugal em Paris. Estaria então em preparação uma exposição de pintura e escultura portuguesa contemporânea que cobriria o período entre 1940 e 1970 e destinava-se a coincidir com a deslocação oficial do presidente da República Portuguesa, o general Costa Gomes, à capital francesa em junho de 1975.

Pouco antes da sua realização, em maio do mesmo ano, foi conhecida a lista dos 36 artistas, selecionados por um grupo de trabalho composto pelo pintor Fernando de Azevedo e José Sommer Ribeiro, representantes da FCG; o crítico Rui Mário Gonçalves, representante da Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA); Eduardo Nery e Artur Rosa, representantes da cooperativa Gravura; e Manuel Rio-Carvalho, representante da Secção Portuguesa da AICA. Em manifesta divergência com as escolhas desta comissão, alegando dirigismo cultural por parte do IV Governo Provisório (uma vez que se tratava de uma exposição de iniciativa governamental), um grupo de artistas procurou impugnar a realização da exposição.

Num artigo intitulado «Elementos para a Cronologia do “Caso da Exposição de Paris”», os críticos Rui Mário Gonçalves e José-Augusto França afirmariam: «Onze artistas não seleccionados [João Abel Manta, Vespeira, Fernando Conduto, Maria Velez, João Hogan, Espiga, Rodrigo de Freitas, Moniz Pereira, Jorge Vieira, aos quais se juntaram dois “escolhidos”, Sá Nogueira e José Rodrigues] enviaram telegramas de protesto contra a Exposição à Presidência da República, ao Conselho da Revolução, ao MCS, etc., enquanto uma maioria de professores da ESBAP [também não selecionados] envia idêntico telegrama ao MCS.» (França & Gonçalves, Colóquio/Artes, out. 1975, p. 40)

Em resultado de uma reunião de emergência convocada pelo general Ramiro Correia, da 5.ª Divisão do Estado-Maior-General das Forças Armadas, decretou-se no dia 20 de maio de 1975 a suspensão da exposição, propondo-se o seu adiamento, a fim de se estudarem os critérios de seleção. Desta primeira intenção expositiva chegaram mesmo a existir despachos alfandegários e até um prefácio para o catálogo da exposição, que viria a ser publicado na revista Colóquio/Artes (França, Colóquio/Artes, out. 1975, pp. 42-43).

Contudo, um ano mais tarde (1976), o convite do governo francês para a realização da exposição de arte portuguesa contemporânea viria a ser renovado. Dirigido ao MNE e à Secretaria de Estado da Cultura (SEC), ficaria agendada a data de inauguração para 30 de setembro do mesmo ano.

A organização da exposição e o apoio técnico e financeiro caberiam à FCG, integrada num comité de organização misto, que contou com a colaboração da Secção Portuguesa da AICA, da SNBA, da SEC e do MNE. O diretor do Serviço de Exposições e Museografia da FCG, José Sommer Ribeiro, foi então designado «comissário nacional da exposição», nesta que seria a primeira de uma série de iniciativas governamentais internacionais de que estaria encarregado, enquanto representante da FCG, em articulação com o MNE e com a SEC.

Durante o processo de organização da exposição em Paris, o governo italiano transmitiu igualmente ao MNE a intenção de realizar em Itália uma mostra de arte portuguesa contemporânea, a apresentar ainda durante esse verão. Desta forma, e em face dos imperativos temporais, o comité organizativo decidiu aceitar o respetivo convite, contemplando os mesmos artistas já selecionados para Paris.

A exposição de arte portuguesa contemporânea acabaria por ser inaugurada em Roma alguns meses antes da edição congénere de Paris. As duas apresentações diferenciaram-se pelo número de obras por artista e até pelas obras selecionadas, uma vez que o espaço da Galleria Nazionale d’Arte Moderna, em Roma, dispunha de salas de menores dimensões e não comportava o projeto inicialmente previsto para Paris, projeto este que incumbe os artistas participantes da seleção de um conjunto de cinco obras. Na apresentação em Itália apenas figuraram duas obras por artista, estando ausente da representação Costa Pinheiro, a quem a Fundação não conseguiu contactar ou localizar a tempo da realização do evento.

A exposição de Roma contou com a colaboração da Embaixada de Portugal em Itália, bem como do Istituto Italiano di Cultura em Portugal. Durante a produção do evento ficou previsto para o ano seguinte (1977) a realização em Lisboa (FCG) de uma exposição consagrada à obra do artista italiano Alberto Burri, cedida para o efeito pela Galleria Nazionale (Carta de José Sommer Ribeiro para o professor Faldi, 15 out. 1976. Arquivos Gulbenkian, SEM 00137).

Segundo o comissário nacional, a receção da exposição em Roma acabaria por ter «referências bastante elogiosas da crítica italiana» (Carta de José Sommer Ribeiro para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, 13 jul. 1976, Arquivos Gulbenkian, SEM 00137).

A versão italiana do catálogo de exposição é bastante útil, uma vez que reproduziu a totalidade das obras apresentadas no certame.

Relativamente à organização da exposição em França (inaugurada em Paris pelo secretário de Estado da Cultura, David Mourão-Ferreira), José Sommer Ribeiro referir-se-ia às apreciações muito favoráveis de Louis Joxe, presidente da Association Française d’Action Artistique, e do diretor do Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, Jacques Lassaigne, que se haviam referido à exposição como «uma manifestação de valor muito apreciável» (Carta de José Sommer Ribeiro para o Secretário de Estado da Cultura, David Mourão-Ferreira, 11 out. 197. Arquivos Gulbenkian, SEM 00137).

Com efeito, e na opinião do crítico José-Augusto França, prefaciador do catálogo, esta era verdadeiramente a primeira apresentação oficial da arte portuguesa num museu francês, em tempos de pós-ditadura (Art Portugais Contemporain, 1976).

Enquanto comissário da exposição, e apesar de valorizar todo o apoio dado pelo Musée d’Art Moderne de Paris, Sommer Ribeiro lamentaria que se suprimisse uma obra a cada artista representado (das cinco inicialmente previstas), devido a obras de reparação em salas do museu. Lamentaria sobretudo a supressão de duas instalações de grandes dimensões, já selecionadas, uma da artista Ana Vieira e outra de Alberto Carneiro (Carta de José Sommer Ribeiro para o Secretário de Estado da Cultura, David Mourão-Ferreira, 11 out. 197, Arquivos Gulbenkian, SEM 00137).

A edição francesa da mostra suscitou o interesse da crítica, do público francês e dos meios de comunicação social, havendo a informação de duas deslocações da televisão francesa à exposição.

Ainda no contexto da exposição, foram apresentados diapositivos e filmes que documentavam «a experiência da pintura colectiva e intervenção urbana depois do 25 de Abril de 1974», com o intuito de revelar as novas movimentações artísticas em Portugal (Art Portugais Contemporain, 1976).

O evento possibilitou ainda o intercâmbio de exposições entre os dois países, ficando prevista a realização na FCG de uma exposição dedicada à obra gráfica de Joan Miró, que seria cedida pelo Museu de Arte Moderna de Paris. Complementarmente, foi inaugurada na apresentação de Roma, uma mostra de gravura portuguesa contemporânea.

Em pleno período revolucionário, estas exposições representavam a abertura da arte portuguesa contemporânea ao circuito artístico internacional e às novas perspetivas que se desenhavam para os artistas nacionais. Nas duas versões do catálogo de exposição, chega mesmo a ser mencionado o «isolamento forçado» a que os artistas portugueses tinham estado votados durante cerca de quarenta anos.

Filipa Coimbra, 2016


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

Labirinto

Eduardo Nery (1938-2013)

Labirinto, 1973 / Inv. P1376

Zenga

Eurico Gonçalves (1932-2022 )

Zenga, 1974 / Inv. P1379

S/ Título

Henrique Manuel (1945-)

S/ Título, 1974 / Inv. DP1394

Henrique VIII

Menez (1926-1995)

Henrique VIII, 1966 / Inv. 67P187

Duas janelas

René Bertholo (1935-2005)

Duas janelas, 1964 / Inv. 65P267

Duas janelas

René Bertholo (1935-2005)

Duas janelas, 1964 / Inv. 65P267


Publicações


Material Gráfico


Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Exposições e Museografia), Lisboa / SEM 00137

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa, lista de obras, elementos para catálogo, orçamentos, seguros e recortes de imprensa. 1975 – 1980


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