Descoberto novo alvo para eliminar bactérias resistentes a antibióticos

Investigadores descobrem que inibir as proteínas que previnem quebras no ADN das bactérias pode ser uma estratégia promissora para diminuir a prevalência da resistência a antibióticos. O estudo publicado na revista Molecular Biology and Evolution debruçou-se sobre alguns dos custos fisiológicos que as bactérias resistentes enfrentam e relacionou-os com uma maior incidência de quebras no seu ADN. O trabalho revela efeitos previamente desconhecidos das mutações de resistência e demonstra como estes podem ser explorados para desenvolver novas terapias antimicrobianas e enfrentar o desafio global da resistência aos antibióticos.
As doenças decorrentes da resistência a medicamentos são uma ameaça global de saúde pública, contabilizando anualmente cerca de 700,000 mortes. Os antibióticos em particular tornam-se ineficazes porque as bactérias adquirem mutações de resistência, que frequentemente modificam os alvos destes medicamentos. Outrora o ponto fraco das bactérias, os alvos modificados tornam-se uma arma de evasão aos antibióticos. Mas normalmente estas modificações têm consequências negativas para as bactérias.
A manutenção da resistência a antibióticos depende em parte dos efeitos negativos que implica para as bactérias. A sua magnitude é a chave para diminuir a prevalência de resistência numa população uma vez removido o antibiótico. “Encontrar o ‘calcanhar de Aquiles’ da resistência a antibióticos tem sido central na nossa investigação. Existem muitas formas de uma resistência ser custosa para uma bactéria e nós conseguimos encontrar uma nova, da qual podemos tirar partido”, revela Isabel Gordo, investigadora principal do IGC e líder da equipa que conduziu o estudo. “Olhámos para a Escherichia coli, uma bactéria comum no nosso intestino, e descobrimos que as mutações de resistência promovem quebras no seu ADN, que são extremamente nefastas para as células bacterianas”, explica a investigadora.
Alguns custos associados à resistência podem estar escondidos em processos como a transcrição, que lê a informação genética, ou a tradução, que transforma o que foi lido numa proteína. “Certas estruturas que operam durante a transcrição, chamadas R-loops, promovem quebras no ADN. Quando removemos a proteína que degrada os R-loops em bactérias resistentes a antibióticos, observámos que estas se extinguem muito rápido, tanto em condições de laboratório como no intestino de ratinhos. O envolvimento desta proteína na prevenção de quebras no ADN é crucial para controlar o custo da resistência a antibióticos”, descreve Roberto Balbontín, primeiro autor do estudo.
“Esta proteína é um dos ‘calcanhares de Aquiles’ das bactérias resistentes a antibióticos e as nossas futuras estratégias para as erradicar podem passar pela sua inibição”, afirma Isabel Gordo. Os dados obtidos neste estudo revelam efeitos previamente desconhecidos das mutações de resistência na fisiologia e evolução das bactérias, o que abre um futuro de oportunidades para desenvolver novas terapias e fazer face a este desafio global.
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