Obras
Pintura
Fontes de Sintra

Fonte de Sintra I («Saudades deste sítio»)

N.º Inv.

ADP127

Data

1980

Materiais e técnicas

Tinta acrílica sobre tela

Medidas

89 x 116,4 cm

Proveniência

Col. Manuel de Brito

Inscrições

«SAUDADES DESTE SÍTIO»
[frente, margem inferior (na composição)]

«A. Dacosta
80»
[verso, quadrante superior esquerdo]

«A. Dacosta»
[frente, canto inferior direito]

«Fonte de Sintra I»
[verso, grade central]

Esta pintura apresenta-se como a obra fundadora e central de uma das mais marcantes séries do segundo grande ciclo de produção de Dacosta: Fontes de Sintra. A inscrição «Saudades deste Sítio» assinala a sua relevância. A obra fez parte da primeira exposição individual de regresso, na Galeria 111 em 1983 (n.º 5). O galerista cedo incorporou esta pintura no lote de peças da sua coleção principal, pelo que pertence hoje à Fundação Manuel de Brito.

Esta série foi das primeiras a incorporar elementos ou sinais de teor mais figurativo, bem como uma maior assimilação da picturalidade, e menos da colagem, sendo decisiva na gestação da mitografia da primeira metade dos anos de 1980. Para Dacosta, As Fontes de Sintra «são metáforas amorosas», e Sintra o «lugar onde melhor senti a magia do jacto das águas… o amor em suma» (António Dacosta, declaração no filme António Dacosta – Pintor Europeu das Ilhas, 1984). A série desenvolveu-se enquanto evocação de um lugar de onde advém a memória e a saudade, sendo recorrente até aos finais da sua produção. A fonte, cujo jato de água se firmava como o verdadeiro signo identificador da série, através de um brasão simplificado num arabesco simétrico, convoca dimensões de purificação e origem.

Exposições

Individual

António Dacosta

1983 / Galeria 111, Lisboa

Individual

António Dacosta

1984 / Galeria Zen, Porto

Individual

António Dacosta (II Bienal de Arte dos Açores e Atlântico)

1987 / Biblioteca Pública, Angra do Heroísmo, Açores

Individual
Itinerante

António Dacosta

1988 / Itinerância Portugal

Individual

Pintura de António Dacosta / Paintings of António Dacosta

1999 / Galeria de Exposições Temporárias do Leal do Senado, Macau

Individual

António Dacosta

2005 / Galeria dos Paços do Concelho, Tomar

Individual

António Dacosta

2006 / Fundação de Serralves, Porto

Individual

António Dacosta (1914 – 1990). Obras da Colecção Manuel de Brito

2008 / Trem Galeria Municipal de Arte, Faro

Individual

António Dacosta no CAMB

2008 / Centro de Arte Manuel de Brito – Palácio dos Anjos, Algés, Oeiras

Individual
Itinerante

António Dacosta 1914 – 2014

2014 – 2015 / Itinerância Portugal

Coletiva

Representação Portuguesa à 18ª Bienal Internacional de São Paulo

Coletiva

XVIII Bienal de São Paulo. Representação Portuguesa

1985 / Pavilhão Ciccillo Matarazzo, São Paulo, Brasil

Coletiva

Dacosta. Pomar. Cargaleiro. Jorge Martins. 4 Peintres Portugais à Paris

1989 / Palais de Tokyo, Paris

Coletiva
Itinerante

Colecção Manuel de Brito. Imagens da Arte Portuguesa do Século XX

1994 – 1995 / Itinerância Portugal, China, Brasil

Coletiva

Diez Artistas Portugueses Contemporáneos. Colección Manuel de Brito

2000 / Museo de la Ciudad, Madrid

Coletiva

Ilhas do Mar. Artistas Açoreanos na Coleção Manuel de Brito

2014 / Centro de Arte Manuel de Brito – Palácio dos Anjos, Algés, Oeiras

Bibliografia

Passiva / Poesia e Prosa poética

Almeida, Bernardo Pinto de, As Sublimes Súplicas. Lisboa: Galeria 111, 1988

Antologia Crítica

«Crescem pela diferença das significações – a série Fonte de Sintra, Era o vinho, Pós de perlimpimpim ou A mulher e o folião –, impõem o desdobramento dos nomes do sujeito e obrigam a percorrer o próprio inverso, caminho que separa a palavra do seu desígnio. A figura faz apelo a um esquema de pensamento […]

Jorge, João Miguel Fernandes, Sentir o olhar. António Dacosta. Galeria 111. Lisboa, junho – julho 1983. A Capital, Lisboa, 29 jun 1983, p. 25

«”Duas sereias ao sol na praia” (1982), além de ser parecido, nas serenas figuras abraçadas, com o dramático guache de 1942-43 “Duas mulheres abraçadas”, é um acrílico sobre tela de grandes dimensões […], onde se evidenciam os impressionísticos contrastes de complementares roxo-amarelo, azul-laranja, verde-rosa, além de certo revivalismo pós-simbolista. O mesmo se diria de “Está […]

Gonçalves, Rui Mário, O reaparecimento de António Dacosta, pintor. Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 61, Lisboa, 1983, p. 6, 7

«A série “Fontes de Sintra” (1980-1982) é só “metáfora amorosa”, diz-me o pintor numa carta, onde esclarece a força das reminiscências nos signos mais simples, e onde se pode reparar, mais uma vez, que, nele, o pensamento visual precede o pensamento discursivo.» (GONÇALVES, 1984, p. 53)

Gonçalves, Rui Mário, António Dacosta. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984

«Ao utilizar, com extrema sensibilidade, a cor e a matéria, ora diluída e transparente, ora espessa e opaca, a pintura actual de António Dacosta evoca Bonnard e Matisse, no gozo sensual da textura, no recorte de silhuetas e na nitidez do contraste cromático (vermelho-verde, rosa-negro, ocre alaranjado-azul, laranja-violeta), como em “Mulher com uma bandeira”, “O […]

Gonçalves, Eurico, Artes plásticas. É absolutamente indispensável ver a actual exposição de António Dacosta na Galeria Zen no Porto. Um caso notável de autenticidade. O Jornal, Lisboa, 24 ago 1984, p. 8

«A série “Fonte de Sintra” através de uma “estrita simplificação formal” reconduz o gesto do pintar a um esquema sensível que não é ruína nem desolação, mas transubstanciação. O plano da tela recria originariamente um novo destino: não se incensa o desaparecido, mas projecta-se uma nova dimensão para além do visível imediato e datado. Não […]

Oliveira, Emídio Rosa de, António Dacosta. Itinerário pictórico da saudade. Semanário, Lisboa, 22 out 1988, p. 7

«Como numa fonte de Sintra, a primeira que se fez, escreve “saudades deste sítio” como os namorados que nas mesas de madeira se obstinam a escrever corações e nomes deles com canivetes: a marca da sua passagem em ritual.» (ALMEIDA, 1988, s.p.)

Almeida, Bernardo Pinto de, As Sublimes Súplicas. Lisboa: Galeria 111, 1988

«Entre os temas recorrentes da pintura de Dacosta, e logo de modo determinante nas primeiras obras dos 80, estão as fontes, as Fontes de Sintra, cheias de uma alusão ao simbolismo da água e pregnantes de uma melancolia, ou antes, de um sentido de reminiscência que se afirma num dos quadros dessa série em que […]

Almeida, Bernardo Pinto de, As Sublimes Súplicas. Lisboa: Galeria 111, 1988

«Nas séries “Memória” ou “Fontes de Sintra” e na série das “Sereias”, todas iniciadas em 82, ou na série “Em louvor de”, já de 1985, há no entanto uma evidente deslocação de registo, quer relativamente ao seu passado, quer relativamente à conjuntura. Nela se alcança uma dimensão de melancólica sabedoria que origina uma pintura de […]

Pinharanda, João, Cultura. Dacosta sepultado nos arredores de Paris. Surrealista até ao fim. Público, Lisboa, 04 dez 1990, p. 26

«A realização insistente de quadros sobre “uma fonte, em Sintra”, era quase um ritual com a mesma intenção de atravessar o tempo e reencontrar a festa. “Fontes de Sintra” é uma metáfora amorosa. “Dois limões em férias” faz-me pensar em Alberto Morávia, nos seus romances “O Desprezo” e “1934”, com a sua surrealizante carga erótica, […]

Gonçalves, Rui Mário, António Dacosta. Uma interpretação mítica do mundo. Artes Plásticas, n.º 7, Lisboa, jan 1991, pp. 6-12

«Fonte de Sintra, por um lado, alude ambiguamente ao lugar que deu título a uma das mais longas séries; por outro lado, desarticula a identificação apressada que seríamos tentados a formular entre “Sintra” e o “Sítio” que a inscrição refere. A imagem, em total autonomia, é auto-referencial.» (RIBEIRO, 1992, p. 30)

Ribeiro, Carlos Augusto, Entre dois caminhos. Surpreender o caminho do pintor. Revista Ler, n.º 17, Lisboa, 1992, pp. 30-33

«“[…] E isso aflige-me, o estar a morrer sem ter tido tempo… apenas a experiência do instante. Mas curo-me dessas ideias negras fazendo encontros com as ejaculantes fontes de Sintra. […]”. A noção de ejaculação como expressão de potência e, ao mesmo tempo, de esvaziamento faz parte de uma velha analogia entre orgasmo e morte. […]

Rosengarten, Ruth, António Dacosta. A nostalgia do sagrado. Açoriano Oriental, Ponta Delgada, 25 out 1995, pp. 1P-3P

«As Fontes de Sintra foram particularmente importantes para Dacosta dado parecem destilar numerosas preocupações que se encontram interligadas: como representar a memória, encontrar ícones de regeneração e empregar o poder hierático da simetria. Estes trabalhos não são tanto sobre algumas fontes especiais como sobre a capacidade de uma imagem rarefazer a experiência, são signos mneméticos […]

António Dacosta. Açores: Governo Regional dos Açores, 1995

«Morte e orgasmo, aniquilação e fertilidade, olvídio e lembrança: eis as associações tradicionais da imagística da água (cf. temas tais como o Baptismo ou o Dilúvio). As obras Fontes de Sintra foram particularmente importantes para Dacosta na medida em que congregam preocupações várias que afirmam a capacidade da imagem de reificar a experiência. […] Eis […]

António Dacosta. Yes and No, In Other Words / Não Há Sim Sem Não. Hamilton: The Bermuda National Gallery, 1999

«A fonte que jorra água no meio do jardim, recorrente nestes trabalhos, recupera a imagem do paraíso perdido, o jardim do Éden a que o autor procura continuamente retornar. A fonte de água corrente simboliza a fonte do perpétuo rejuvenescimento, uma forma de ultrapassar os limites da condição temporal. A água é o símbolo de […]

Rocha, Michele, António Dacosta. À procura de um tempo mítico. ArteTeoria, n.º 6, Lisboa, 2005, pp. 135-151

«”Fonte de Sintra” est le titre d’une longue série qui commence tout au début des années quatre-vingt et se prolonge jusqu’en 1987; son image initiale festive, vitale, voire éjaculatoire, de “métaphore amoureuse” dans les dires de l’artiste lui-même, marque la réapparition de António Dacosta dans sa qualité de peintre, en 1983, dans une exposition, immédiatement […]

António Dacosta. Scène Ouverte. Paris: Centre Culturel Calouste Gulbenkian, 2007

«As fontes de Sintra são um dos temas mais recorrentes na segunda fase de produção de Dacosta, acompanhando a sua própria evolução pictórica na década de 80. Assim, se nos primeiros trabalhos encontramos cores vivas, flores e frutos, que remetem para a ideia de um jardim paradisíaco, por volta de 1985 a paleta escurece e […]

Saraiva, Tânia, António Dacosta (Pintores Portugueses). Porto: Quidnovi, 2010, p. 96

«A série refere uma memória e um lugar, com inscrição fundadora na primeira obra da série (Fonte de Sintra I, 1980): “Saudades deste Sítio”. […] A referência visual da série, quase uma cifra, é um jato de água, um elemento líquido que se apresenta simultaneamente numa ordem simétrica e numa liberdade linear ondulante, como um […]

Dias, Fernando Rosa, António Dacosta. A Tentação Mítica. Açores: Secretaria Regional da Educação e Cultura; Direção Regional da Cultura; Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2016

«O lugar evocado, que recorre à memória e à saudade, deixa-nos umas das marcas do espírito de Dacosta — é o lugar que sustenta o devir das coisas; ou seja, é o espaço que sustenta o tempo. […] A fonte carrega a sua tradicional vocação de elemento de origem, seja enraizamento, seja fundação. Na sua […]