O papel do intestino é crucial no envelhecimento

Descoberta poderá prolongar a vida em humanos

04 mai 2023

Um novo estudo, liderado por Miguel Godinho Ferreira, Alumni da Gulbenkian, e publicado agora na revista Nature Aging, revela que, ao reativar um gene específico nas células do intestino, os cientistas conseguiram aumentar a esperança de vida nos peixe-zebra. A descoberta abre novas perspetivas para combater distúrbios do envelhecimento, cancro e doenças neurodegenerativas.

A investigação começou em 2013, quando Miguel Godinho Ferreira estava no IGC a liderar o laboratório de Telómeros e Estabilidade Genética. A equipa de investigação decidiu analisar um mutante do peixe-zebra, em que a atividade da telomerase foi abolida, e propô-lo como um modelo vertebrado de envelhecimento prematuro. Miguel explica que “até então só existia este modelo em ratinhos, e não tinha os telómeros curtos como os dos humanos. Mostrámos que o peixe recapitularia os problemas existentes nos humanos com muito mais precisão”. Nessa altura a ideia surgiu ao Miguel “no contexto de entender a comunicação dos órgãos e o IGC fervilhava dessas ideias”.

Atualmente Miguel lidera a equipa de investigação no IRCAN – o Instituto de Investigação do Cancro e do Envelhecimento de Nice – e dedica-se a estudar o efeito do comprimento dos telómeros no envelhecimento do peixe-zebra. Os telómeros são as extremidades dos cromossomos que encurtam com o tempo, desempenhando um papel importante no processo de envelhecimento. No estudo agora publicado, os cientistas inseriram um fragmento de DNA no peixe-zebra que permitiu que as células intestinais produzissem uma enzima chamada telomerase, que alonga os telómeros. Ao fazer isso, conseguiram retardar o envelhecimento do intestino e de todo o organismo, levando ao aumento da fertilidade, melhoria da saúde geral e maior expectativa de vida sem aumentar o risco de cancro.

Para sabermos mais sobre o trabalho agora publicado, conversamos com Miguel, e conseguimos mais algumas respostas.

IGC – Os telómeros podem ser a chave para uma medicina personalizada e uma maior longevidade no futuro?
Miguel – Claro! Já sabemos de deficiências associadas à telomerase em humanos que causam doenças e que compartilham problemas de envelhecimento prematuro, como o cancro. Agora acabámos de mostrar que os cancros que não expressam telomerase são mais imunogénicos e melhores para imunoterapias.

IGC – Quais são as possíveis implicações desta descoberta para entender e tratar doenças relacionadas com o envelhecimento em humanos?
Miguel – Um aspeto crucial do nosso trabalho é que podemos atuar num único órgão e amenizar o envelhecimento de todo o organismo. Se nos concentrarmos em tratar o envelhecimento do intestino, podemos ter os mesmos efeitos em humanos. Isso foi que foi proposto por Elie Metchnikoff há mais de 100 anos.

IGC – Depois desta descoberta, que rumo tomará a investigação?
Miguel – Agora que sabemos que o intestino é um órgão iniciador, procuramos saber como comunica com o resto do organismo. Já temos algumas pistas importantes: i) a microbiota do intestino resgatado é mais diversa e tem o perfil de indivíduos mais jovens, então pensamos que possa contribuir para a juventude do animal; ii) sabemos que o intestino disfuncional é quebrado e isso permite que os compostos externos entrem na corrente sanguínea do animal. Estes podem ser microrganismos ou seus derivados e podem causar inflamação crónica; iii) finalmente, tanto o sistema imunológico quanto o sistema nervoso são prováveis candidatos a comunicar o estado de saúde do intestino. Assim, no futuro, iremos perseguir todas essas hipóteses de forma independente.

 

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