Século 20. Arte do Brasil

Comemorações dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil

Exposição itinerante de arte brasileira moderna e contemporânea, que celebrou os 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, numa iniciativa da Associação Brasil 500 Anos, responsável pelo certame «Mostra do Redescobrimento», em São Paulo. Na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição integrou-se nos Encontros ACARTE 2000.
Travelling exhibition of Brazilian modern and contemporary art celebrating 500 years since the arrival of the Portuguese in Brazil. It was an initiative of the Brazil 500 Years Association, responsible for the “Rediscovery Exhibition” in São Paulo. The exhibition was staged as part of the Encontros ACARTE 2000 events at the Calouste Gulbenkian Foundation.

Exposição coletiva e itinerante de arte brasileira, organizada pela Associação Brasil 500 Anos, criada pela Fundação Bienal de São Paulo. Foi apresentada no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão (CAMJAP) e no Edifício Sede (piso 01) da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG).

Inaugurada a 25 de outubro de 2000, a exposição foi dedicada ao núcleo de arte moderna e contemporânea brasileira e partilhou honras de abertura com a exposição «Entre o Espanto e o Esquecimento. Arqueologia das Sociedades Brasileiras antes do Contacto», consagrada ao núcleo arqueológico, anteriormente apresentado em São Paulo.

Ambas pretenderam assinalar os quinhentos anos da chegada dos portugueses ao Brasil, momento marcante da história comum dos dois países, e integraram-se num quadro mais alargado de iniciativas da FCG dedicadas a essa efeméride, que se estenderam, nomeadamente, ao Serviço de Ciência, e que visaram fortalecer as relações culturais entre Portugal e Brasil.

A exposição «Século 20. Arte do Brasil» propôs, como o nome indica, sintetizar as dinâmicas artísticas do século XX brasileiro a partir das narrativas já apresentadas em São Paulo, mas com algumas alterações, exigidas pela redução do espaço disponível, e ajustando-se igualmente ao público português, menos familiarizado com a arte brasileira.

A apresentação em Lisboa foi a primeira itinerância internacional da megaexposição «Mostra do Redescobrimento», que, entre abril e setembro de 2000, esteve patente no Pavilhão do Parque do Ibirapuera, local por excelência da Bienal de São Paulo. Composta por 12 núcleos expositivos, compreendeu a arte das sociedades existentes no Brasil antes do contacto com os portugueses até à arte produzida nos dias de hoje. A «Mostra do Redescobrimento» foi um êxito, visitada por mais de 1 800 000 de pessoas, tendo a sua inauguração contado com a presença dos presidentes da República do Brasil e de Portugal, à época Fernando Henriques Cardoso e Jorge Sampaio, respetivamente.

Após a itinerância em Lisboa, o certame foi apresentado noutras cidades, como Londres (British Museum), Oxford, Paris (Jeu de Paume), Bordéus, Nova Iorque e Bilbau (Guggenheim), sob o título «Brazil, Body and Soul». A última itinerância internacional seria já em 2004, no Hermitage de São Petersburgo (Rubin, O Globo, 27 out. 2000).

As itinerâncias internacionais caracterizaram-se por uma total liberdade curatorial, que em Lisboa se sentiu no modo como a exposição foi encurtada – artistas como Hélio Oiticica, Alfredo Volpi ou Sérgio Camargo, ao contrário da extensa representação que tiveram em São Paulo, estiveram restritos a uma ou duas obras –, e através da presença de quatro artistas contemporâneos ausentes em São Paulo: Eduardo Coimbra, Neide Jallageas, Artur Lescher e Rosana Paulino.

A exposição apresentou cerca de 300 obras de 90 artistas e implicou a retirada temporária da coleção permanente do CAMJAP. Os núcleos expositivos foram organizados de acordo com a disposição espacial do edifício, num projeto de Cristina Sena da Fonseca e de Jorge Molder, diretor do CAMJAP e comissário da exposição. O piso 0 apresentou-se pouco compartimentado, numa total ausência de escala, e nele conviveram obras concretas, neoconcretas e pop. O piso inferior traçou uma narrativa cronológica, percorrendo obras do início do século até à década de 1960, passando pelos modernismos das décadas de 20 e 30 e pelo pós-guerra. A fotografia dos anos 60 a 90 estaria reservada ao piso superior do edifício, enquanto na Sede foram apresentadas sete instalações de artistas contemporâneos.

O projeto desenhado para a exposição em Lisboa conheceu, no entanto, alguns obstáculos, resultantes da sua natureza ambiciosa, nomeadamente a indisponibilidade de algumas das obras previstas e a falta de materiais de apoio aos visitantes aquando da inauguração da exposição, como notou Alexandre Pomar (Pomar, Expresso, 11 nov. 2000).

O problema mais notório seria a ausência de catálogo no dia da inauguração da exposição. Este seria lançado posteriormente e pouco se articulou com ela. Os textos, da autoria de Nelson Aguillar, Mário de Andrade, Mário Pedrosa e Ferreira Gullar – fundamentais para a sintetização da arte brasileira do século XX –, aos olhos do público português pouco contribuiriam para colmatar o seu desconhecimento sobre o Brasil.

Acresce que, ainda antes da inauguração, circulou a ideia de que alguns dos artistas expostos em São Paulo iriam boicotar as itinerâncias internacionais, nomeadamente Ernesto Neto, Vik Muniz e Rosângela Rennó. Esta suspeita acabou por não se confirmar, e estes artistas estiveram representados em Lisboa – o único artista de referência a não ter obras expostas foi Cildo Meireles. Por sua vez, a inauguração da exposição contou com a presença de artistas como Waltercio Caldas, José Resende, Jac Leirner e José Damasceno.

A exposição contou ainda com programação paralela, nomeadamente com um conjunto de visitas temáticas como «A Pintura Brasileira Anos 80/90», «Arte Concreta e Neoconcreta», «De Portinari a Franc Kracjberg: Influência da Natureza na Arte Brasileira», «Brasil: Arte de Contestação durante a Ditadura», «Imagens de Identidade do Brasil a partir de Rosângela Rennó» e «A Pintura Antropofágica dos Anos 20».

No quadro de iniciativas desenvolvidas pela FCG para celebrar a chegada dos portugueses ao Brasil, refira-se ainda a exposição no Centre Culturel Portugais (delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris) dedicada a Jean-Baptiste Debret e o conjunto de iniciativas, no âmbito da investigação científica, desenvolvidas pelo Serviço de Ciência FCG. O programa cultural «Encontros ACARTE: Brasil 2000», iniciado a partir de setembro desse ano, foi integralmente dedicado ao Brasil, visando a apresentação em Portugal de artistas brasileiros e proporcionando encontros culturais entre dinâmicas artísticas de ambos os países. Numa perspetiva multifacetada, foram financiados espetáculos que combinaram música, teatro, dança e performance. O Ballet Gulbenkian apresentou-se em várias cidades brasileiras e organizaram-se as Jornadas Gulbenkian de Música Antiga, com obras compostas por músicos latino-americanos.

Com encerramento inicialmente previsto para 16 de janeiro de 2001, a exposição estendeu-se até 21 de janeiro de 2001, assim como o núcleo arqueológico «Entre o Espanto e o Esquecimento. Arqueologia das Sociedades Brasileiras antes do Contacto».

Patrícia Simões, 2018


Ficha Técnica


Artistas / Participantes


Coleção Gulbenkian

sem título

Aldo Bonadei (1906-1974)

sem título, 1952 / Inv. 83PE19

sem título

Tomie Ohtake (1913-)

sem título, 1983 / Inv. 83PE27


Eventos Paralelos

Programa cultural

Encontros ACARTE 2000

4 set 2000 – 7 out 2000
Casa de Reclusão da Trafaria
Almada, Portugal
4 set 2000 – 7 out 2000
Fundação Calouste Gulbenkian
Lisboa, Portugal

Publicações


Material Gráfico


Fotografias

Manuel Costa Cabral (à dir.)
Catarina Molder (à esq.) e Manuel Costa Cabral (ao centro)
Jorge Molder (atrás, à dir.)
Jorge Molder (à dir.)
Rui Vilar (à esq.)
Jorge Molder (à esq.)

Documentação


Periódicos


Fontes Arquivísticas

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00460

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém convite, informações e textos relativos ao catálogo, planta de núcleo expositivo do CAMJAP, correspondência, «facility report» do CAMJAP, lista de artistas, apontamentos sobre orçamentos e termo de entendimento entre Fundação Calouste Gulbenkian e Associação Brasil 500 Anos. 2000 – 2000

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00463

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém recortes de imprensa. 2000 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 10934

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém termo de entendimento entre a FCG e a Associação Brasil 500 Anos, correspondência, informações sobre despesas, seguros e couriers, programação paralela, formulários de empréstimo, recortes de imprensa, cartaz, fotografias e diapositivos. 1996 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00459

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém lista de obras confirmadas e obras não confirmadas na exposição. 2000 – 2000

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00461

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém formulários de empréstimo de obras. 2000 – 2000

Arquivos Gulbenkian (Centro de Arte Moderna), Lisboa / CAM 00462

Pasta com documentação referente à produção da exposição. Contém correspondência interna e externa. 1999 – 2001

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Comunicação), Lisboa / COM-S001/002/01-D02989

Coleção fotográfica: aspetos (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2000

Arquivos Gulbenkian (Serviço de Belas-Artes), Lisboa / SBA 10935

Coleção fotográfica: inauguração (FCG-CAMJAP, Lisboa) 2000


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