Exposição individual do artista brasileiro Emanoel Araújo (1940), proposta por Sylvia Athayde, curadora que no ano anterior havia colaborado com a Fundação Calouste Gulbenkian trazendo a Portugal a obra de alguns artistas integrados na mostra «Traje: Um Objecto de Arte?» (1990).

Apresentada por ocasião do 30.º aniversário de uma «carreira quase fulminante», usando as palavras de Sylvia Athayde, esta exposição centrava-se na produção mais recente de Emanoel Araújo (Emanoel Araújo. Esculturas, Relevos, Monoprints, 1991, p. 7).

Neste caso, o abrangente catálogo que acompanhava a mostra parecia pretender colmatar alguma possível lacuna ao fornecer ao leitor-espectador informações sobre todo o percurso de Araújo, desde as suas primeiras xilogravuras figurativas da década de 1960 até às esculturas abstratas mais recentes, pois somente tendo conhecimento do seu universo cultural baiano e das influências construtivistas e minimalistas seria possível compreender estes novos trabalhos. Araújo considera-se «um artista vinculado às suas raízes brasileiras e ao caldeamento racial de que somos produto», afirmando, «talvez a minha arte seja afro-minimalista e neo-ancestral» (Ibid., pp. 9, 15).

Apresentada na Galeria de Exposições Temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian (piso 0), esta mostra era composta por esculturas monumentais, relevos de parede e monoprints, que exploravam de forma distinta formas e volumes angulosos, combinando cores fortes e vibrantes (vermelho, amarelo) com outras sóbrias, neutras e não-cores (azul, cinzento, preto). Se a sua geometria, despojamento e dinâmica remete para o construtivismo e minimalismo, as suas cores e títulos (Totem, Emblemaogum, Fálico Exu) encaminham o imaginário do observador para a arte e cultura africanas e para o culto do candomblé brasileiro. Araújo revela mesmo uma simbologia das cores usadas: «O branco é uma cor dedicada a Oxalá, o azul é dedicado a Ogum, que é um santo guerreiro, o vermelho e o preto são dedicados a Ixu, o amarelo é dedicado a Oxum.» (Fragoso, JL. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 7 mai. 1991, p. 24)

No centro da sala foram reunidas as esculturas brancas Templo de Oxalá I-IX (1991), em torno das quais os relevos foram dispostos nas paredes. A verticalidade das primeiras e o seu monocromatismo eram equilibrados com o dinamismo e explosão de cor dos relevos. Foram ainda incluídas algumas esculturas, de média dimensão, dispostas em plintos ao longo da galeria. Tal como os trabalhos anteriormente mencionados, estas composições geométricas de linhas tendencialmente oblíquas são construções em madeira pintada, assemelhando-se a antigos relevos que se soltaram da parede e se expandiram para o espaço. Os monoprints, por seu turno, surgem como duplos bidimensionais, planificações dos relevos, resultando, segundo o artista, de «uma técnica especial» da sua autoria, descendente das monotipias, tendo sido agrupados numa área da sala separada do núcleo central por uma parede (Ibid.). Ao atravessar a sala, o observador sentirá intensidades e ritmos diferentes, experienciando uma espécie de sinfonia de formas e cores.

Mariana Roquette Teixeira, 2018